MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
No Mundo Maior
André Luiz
(Parte
24)
Damos prosseguimento ao
estudo da obra
No Mundo Maior,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier,
publicada em 1947 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que tipos de
Espíritos havia na
região de trevas citada
por André Luiz?
R.: Ali congregavam-se
verdadeiras tribos de
criminosos e
delinqüentes, atraídos
uns aos outros,
consoante a natureza das
faltas cometidas.
Muitos, segundo
Calderaro, eram
inteligentes e
intelectualmente
esclarecidos, mas sem
uma única réstia de amor
no coração. A
desencarnação parecia
galvanizá-los na posição
mental em que se
encontravam no momento
da passagem e, por isso,
não era fácil
arrancá-los de logo do
desequilíbrio a que se
precipitaram. (No
Mundo Maior, cap. 17,
pp. 224 e 225.)
B. Havia também ali
negociantes
inescrupulosos?
R.: Sim. Um grupo deles
era formado exatamente
por antigos negociantes
da Terra, cujo exclusivo
anseio foi amontoar
dinheiro para
satisfazer a própria
cupidez, sem beneficiar
a ninguém. O ouro que
possuíram na Terra
jamais mitigou a fome de
qualquer pessoa. Homens
de pensamento ágil,
sabiam voar mentalmente
a longas distâncias,
para lograr êxito nos
seus empreendimentos
materiais. Nunca se
importaram com as dores
alheias; queriam
unicamente acumular
vantagens financeiras, e
nada mais. Agora,
escravizados à idéia
fixa de ganhar sempre,
voavam pesadamente aqui
e ali, dementados e
confundidos, procurando
monopólios e lucros que
jamais encontrariam.
(Obra citada, cap. 17,
pp. 226 e 227.)
C. Qual era, naquela
região, a preocupação
dos avarentos e
usurários?
R.: Ainda apegados ao
ouro que imaginavam
possuir, tinham eles
receio de que ladrões os
roubassem. Usurários há
muito tempo
desencarnados, desceram
a tão profundo grau de
apego à fortuna material
transitória, que se
tornaram ineptos ao
equilíbrio na zona
mental do trabalho
digno. Quando estavam na
Terra, não viam meios de
se ampararem com a
ambição moderada e
nobre, nem reparavam os
métodos utilizados para
atingir os seus fins
egoísticos.
Menosprezavam direitos
alheios, escarneciam das
aflições dos outros e
armavam ciladas a
companheiros incautos,
para sugar-lhes as
economias,
locupletando-se à custa
da ingenuidade e da
confiança cega. (Obra
citada, cap. 18, pp. 228
e 229.)
Texto
para leitura
121. Tribunais no
purgatório -
Calderaro lembrou a
André que na colônia
"Nosso Lar" ele tivera
oportunidade de ver
irmãos sofredores nas
mais diferentes
situações: alguns
sofriam ainda estranhas
perturbações
alucinatórias, outros
eram guardados como se
fossem múmias
perispiríticas em
letargia profunda,
outros povoavam vastas
enfermarias para se
reerguerem
espiritualmente, pouco a
pouco. Ali, no entanto,
se congregavam
verdadeiras tribos de
criminosos e
delinqüentes, atraídos
uns aos outros,
consoante a natureza das
faltas cometidas.
"Muitos são
inteligentes e,
intelectualmente
falando, esclarecidos,
mas, sem réstia de amor
que lhes exalce o
coração, erram de
obstáculo a obstáculo,
de pesadelo a
pesadelo...", informou
Calderaro. A
desencarnação parecia
galvanizá-los na posição
mental em que se
encontravam no momento
da passagem e, por isso,
não era fácil
arrancá-los de logo do
desequilíbrio a que se
precipitaram. "O Érebo
da concepção antiga, a
crepitar em eternas
chamas de vingança
divina, é perigosa
ilusão" – enfatizou o
Assistente; "entretanto,
os lugares purgatoriais
dos desejos e das ações
criminosas, aguardando
as almas enodoadas pelos
desvarios, constituem
realidades lógicas, nas
zonas espirituais do
mundo". Ali, os
avarentos, os homicidas,
os cúpidos e os viciados
de todos os matizes se
agregavam em deplorável
situação de cegueira
íntima, formando cordões
compactos que se
inclinavam mais e mais
para os despenhadeiros.
Cada qual possuía uma
história horrível, de
lances angustiosos.
Prisioneiros de si
mesmos, restringiam os
horizontes mentais,
cultivando o pretérito
que deveriam expungir.
Em se melhorando, eram
assistidos por ativas e
abnegadas congregações
de socorro espiritual.
Autoridades mais
graduadas do mundo
espiritual, atendendo a
imperativos superiores,
improvisavam tribunais
com funções educativas,
cujas sentenças,
ressumando amor e
sabedoria, culminavam
sempre em determinações
de trabalho regenerador,
através da reencarnação
na Crosta, ou de tarefas
laboriosas no seio da
Natureza, quando havia
suficiente compreensão e
arrependimento nos que
feriram a Lei,
prejudicando a si
mesmos. "Deste
vastíssimo arsenal de
alienação da mente,
ensombrada de culpas,
sai o maior coeficiente
das reencarnações
dolorosas que povoam os
círculos carnais",
informou o Assistente.
Poucos, contudo,
conseguem valer-se da
oportunidade terrena, no
sentido de restaurar as
próprias energias,
porque é sempre fácil
fugir do caminho reto,
mas muito difícil o
retorno... (Cap. 17, pp.
224 e 225)
122. Os filhos da
cupidez - Pouco
depois, André,
sintonizando-se na onda
mental que determinada
entidade oferecia,
verificou que
infortunado irmão, de
facies macilenta,
havia assassinado a
própria esposa em
pavorosas
circunstâncias. O mísero
não apresentava, porém,
arrependimento:
acariciava o desejo de
rever a vítima para
supliciá-la, quantas
vezes lhe fosse
possível. Fazia parte,
assim, de um grupo de
irmãos positivamente
loucos, que falavam a
esmo, comentando
homicídios e
rememorando com
palavras cruéis cenas
indescritíveis de dor e
perversidade. Eram
entidades contidas ali
tão-somente pelas leis
vibratórias que as
regiam. Perto de André,
passou então um grupo de
seres monstruosos, que
se levitavam fazendo
ruído ensurdecedor. Era
formado de antigos
negociantes terrenos,
cujo exclusivo anseio
foi amontoar dinheiro
para satisfazer a
própria cupidez, sem
beneficiar a ninguém. O
ouro que possuíram na
Terra jamais mitigou a
fome de qualquer pessoa.
Homens de pensamento
ágil, sabiam voar
mentalmente a longas
distâncias, para lograr
êxito nos seus
empreendimentos
materiais. Nunca se
importaram com as dores
alheias; queriam
unicamente acumular
vantagens financeiras, e
nada mais. Agora,
escravizados à idéia
fixa de ganhar sempre,
voavam pesadamente aqui
e ali, dementados e
confundidos, procurando
monopólios e lucros que
jamais encontrarão.
André, condoído, quis
deter alguns deles e
conversar com eles
fraternalmente, para
esclarecê-los.
Calderaro o impediu,
dizendo: "Que fazes?
seria inútil. Impossível
é reajustar, num
momento, apenas com
palavras, tantas mentes
em desequilíbrio cruel".
Era preciso seguir para
a frente, porque
dispunham de pouco
tempo. (Cap. 17, pp. 226
e 227)
123. Avarentos
desencarnados -
Esfarrapados,
esqueléticos,
carantonhas de aspecto
lamentável – eis a
descrição feita por
André de curiosa
assembléia de velhinhos
postados a seu lado.
Eles traziam nas mãos
uma substância lodosa
que julgavam ser ouro, e
demonstravam, em seu
olhar, infinito receio
de perdê-lo. Ao menor
toque de vento,
atracavam-se aos
fragmentos de lama,
colocando-os de encontro
ao coração.
Entreolhavam-se
apavorados, como se
temessem desastre
próximo. Cochichavam
entre si, maliciosos e
desconfiados. Às vezes,
faziam menção de correr,
mas retinham-se no mesmo
lugar, entre o medo e a
suspeita. O receio de
que ladrões roubassem o
seu ouro era
impressionante. Quem
eram aquelas entidades?
"São usurários
desencarnados há muitos
anos", informou
Calderaro. "Desceram a
tão profundo grau de
apego à fortuna material
transitória, que se
tornaram ineptos ao
equilíbrio na zona
mental do trabalho
digno, por incapazes de
acesso ao santuário
interno das aspirações
superiores." Quando
estavam na Terra, não
viam meios de se
ampararem com a ambição
moderada e nobre, nem
reparavam os métodos
utilizados para atingir
os seus fins egoísticos.
Menosprezavam direitos
alheios, escarneciam das
aflições dos outros,
armavam ciladas a
companheiros incautos,
para sugar-lhes as
economias,
locupletavam-se à custa
da ingenuidade e da
confiança cega.
Difundiram tantos
sofrimentos com suas
ações, que a matéria
mental das vítimas, em
maléficas emissões de
vingança e de maldição,
lhes impôs etérea
couraça ao campo das
idéias. Por isso,
atordoados, fixavam-se
nos delitos do passado,
transformando-se em
autênticos fantasmas da
avareza, atormentada
pelas miragens de ouro
naquele deserto de
padecimentos. Não era
possível prever quando
despertariam para a
realidade, dada a
situação lastimável em
que se encontravam. Eles
haviam enlouquecido na
paixão de possuir,
acabando a sinistra
aventura escravos de
monstros mentais de
formação indefinível.
(Cap. 18, pp. 228 e 229)
124. André encontra
seu avô paterno - Do
grupo de velhinhos, uma
voz se destacou,
confundindo a André.
Aquilo lhe parecia
familiar. O estimado
escritor fixou os traços
da desventurada
entidade, que lhe
recordava seu avô
Cláudio, muito afeiçoado
ao neto desde os mais
tenros anos do menino.
Quando André, mocinho
ainda, estava a seu
lado, o velho se
acalmava nas crises
nervosas que lhe
precederam o fim. Pouco
ele sabia sobre a vida
de Cláudio, mas não
ignorava que este fizera
considerável fortuna em
ágios escandalosos,
curtindo espinhosa
velhice pelo excessivo
apego ao dinheiro. Em
seus últimos tempos do
corpo, via ladrões e
delatores em toda a
parte. André recordou,
num átimo, o dia do
falecimento do avô.
Buscado no colégio, onde
fazia o curso
secundário, ele jamais
se esqueceu de sua
impressionante máscara
cadavérica. As mãos
recurvadas sobre o peito
pareciam guardar,
ciosamente, algum
tesouro oculto, e nos
olhos vítreos, que mãos
piedosas não conseguiram
cerrar, vagueava o pavor
do desconhecido, como se
o acometessem trágicas
visões do Além. No curso
do tempo, André viera a
saber que o avô deixara
valioso patrimônio
financeiro, que eles,
seus parentes,
dissipavam em
nababescas fantasias...
Voltando agora ao
passado, reconhecia que
vigoroso laço o unia
àquele infeliz que ainda
sofria o pesadelo do
ouro terrestre,
carregando placas de
lodo, que premia
enternecidamente ao
coração. Calderaro
disse-lhe, então, saber
de tudo. Estava
explicada agora a
significação de sua
vinda àquelas paragens.
Não tinham, contudo,
tempo a perder. O velho
Cláudio revelava-se
receptivo, porquanto,
pouco antes, fora ele
quem alertara o grupo de
velhinhos para a
hipótese de estarem
sendo vítimas de um
pesadelo. O Assistente
aplicou recursos
fluídicos sobre os olhos
embaciados de Cláudio,
que, ganhando
provisória lucidez,
viu-os afinal. "Oh! –
gritou perante os
colegas aterrados – que
luz diferente!" E
esfregando os olhos,
perguntou aos
benfeitores: "Donde
vindes? sois padres?"
Ele aludia, por certo,
às túnicas muito alvas
que os dois usavam.
André avançou, lesto, e
indagou: "Meu amigo,
sois Cláudio M...,
antigo fazendeiro nas
vizinhanças de V...?"
Cláudio respondeu: "Sim,
conheceis-me? quem
sois?" (Cap. 18, pp. 230
e 231)
(Continua
no próximo número.)