Muitos autores
indicam o
exercício da
intimidade para
a vida conjugal
perdurar no
tempo e no
espaço. Contudo,
sabemos que a
realidade de
diversos
relacionamentos
é atingida
diariamente
pelas mágoas
(pequenas ou
grandes)
motivadas, na
maioria das
vezes, por um
convívio
truncado. E
esses
ressentimentos,
se acumulados,
podem levar a
rupturas
definitivas. E,
no geral, a
causa da vida de
relação
desarmoniosa
está enraizada
no medo de ser
e, em
conseqüência, na
dificuldade de
se colocar para
o outro.
Se a intimidade
assusta, penso
que um caminho
para deixar a
relação
florescer reside
no exercício
diário da
sinceridade,
permitindo-se
ser
transparente,
sem negar o
cotidiano cheio
de imperfeições,
mas fazendo
pacto com o bem,
o belo e a
tolerância. Além
disso, treinar a
atitude de
enxergar o que
há de positivo
no outro,
livrando-se do
hábito do
julgamento, que
representa,
normalmente, a
falência da
comunicação,
pois quem julga
quase sempre
condena.
Uma das funções
do amor é a de
poder dizer ao
outro que
reconhece suas
qualidades
positivas, seus
dons e
potências.
Assim, o amor
passa a ter uma
extensão de
respeito diante
da presença do
outro. E isso
não é
hipocrisia, mas
simplesmente
reverenciar a
dimensão
luminosa do
outro...
Ora, certamente
quem está
comprometido com
a relação
observa o que há
de feio e
sombrio no
outro, mas,
prudentemente,
compreende que é
preciso não
estagnar o olhar
nessa parte, ou
seja, é amoroso
prestar atenção
nos aspectos
sadios e belos
dessa pessoa,
o amado ou a
amada, pois
é a partir desse
ato que a
convivência
encontra
significado e
recursos para
durar no tempo.
O amor pede
paciência.
Então, como
conciliar
necessidades
distintas? Não
impor meu
desejo, não
forçar o desejo
do outro, e de
outro lado,
respeitar o
próprio desejo,
porém
procurando,
honestamente,
harmonizar as
necessidades de
ambos – é uma
longa tarefa,
porém vale a
pena o cuidado
no sintonizar o
passo com o
passo do outro,
pois o amor pede
que o casal
caminhe junto.
Creio que o amor
supõe o viver na
realidade, pois
a relação entre
companheiros,
sem dúvida,
implica o
encontro de duas
realidades
imperfeitas...
Então, é
preciso, para
viver com amor,
abrir mão de
ilusões que
aniquilariam o
amor. Sabido que
o amor não
depende da
idade, da
situação social
ou econômica,
pois é uma
qualidade de
ser, que surge
muitas vezes do
inesperado, não
se pode combater
o amor, mas sim
cultivar o
discernimento de
viver o que é
possível – os
meus e os seus
defeitos, nossas
limitações, pois
é a nossa imagem
de casal ideal
que pode nos
proibir de viver
humildemente e
com alegria a
nossa relação
como casal.
O amor também
solicita a
experiência
meditativa para
que, ao lado do
casal, outra
fonte de
inspiração tenha
lugar na
relação. Num
casal, após
terem falado,
trocado,
principalmente
nas situações de
conflitos, é
essencial que
ambos escutem o
silêncio, pois
isso poderá
evitar ofensas e
danos causados
por
interpretações
precipitadas...
O amor resiste à
rotina do tempo?
Se o casal se
une a partir
somente da
pulsão vital, da
dimensão do
bios, ao
tempo essa
paixão não
resistirá. E uma
relação de
desejo não tem
como lutar
contra as
mudanças
causadas pelo
próprio tempo.
Então, o que é
indissolúvel?
“O que Deus uniu
o homem não pode
separar”,
narra o
Evangelho. Ora,
mas nem sempre é
Deus que une. A
pergunta
persiste caso
não encaremos
que a relação a
dois não é
apenas um
consórcio
social, mas um
exercício
espiritual. “Os
dois realmente
são um
sobretudo
espiritualmente”,
explica Joseph
Campbell, e é
isso que é
indissolúvel.
Nesse caso, a
relação entre um
homem e uma
mulher pode
durar, pois há o
encontro das
duas liberdades,
que se integram
na intimidade
renovada a cada
dia. O casal
compartilha o
pão e atravessa
o tempo – “na
tristeza e na
alegria”...