VLADIMIR POLÍZIO
polizio@terra.com.br
Jundiaí, São Paulo
(Brasil)
Mais um
Natal
Enquanto muitas famílias
se preparam para
comemorar a data maior
da cristandade, com
festas, pratos
especiais, muita
conversa, alegria,
presentes, com ruas e
lojas enfeitadas, outras
se fecham em seus
sentimentos vivendo a
dor instalada no
coração, em razão de
problemas dos mais
diversos, especialmente
os relacionados com a
morte de entes queridos.
E porque já não estão
mais presentes no
ambiente familiar, é por
isso mesmo um forte
indicador de saudade
promovendo lembranças
que os saudosos acabam
não se contagiando com o
clima de alegria. E não
é para menos. O
sentimento é pessoal e
intransferível.
Esta data, sem dúvida,
se traz prazer para uns,
provoca tristeza e
saudade para outros. Mas
datas são passagens
históricas que relatam
fatos. E, hoje, nossa
mensagem com vistas à
proximidade do dia de
Natal será centrada na
fraternidade, esse ato
tão humilde quanto
valoroso que, em
determinados momentos de
nossa vida, teimamos em
esquecê-lo.
Já que a humanidade
insiste em lembrar-se
numa única data como
destinada ao nascimento
de Jesus, Nosso Salvador
e Divino Mestre de todas
as horas, seria de
grande valia espiritual
a transformação
interior, a renovação
dos conceitos até então
emitidos, como maneira
de criar novos caminhos
e abrir novas
esperanças, quando não
certezas, de que nossa
vida poderá ser melhor
direcionada e melhor
aproveitada.
Esse dia, que assinala o
nascimento do Cristo na
seara terrena, que marca
a vinda daquEle que
recebeu a missão do Pai
Maior para dirigir e
coordenar todas as
atividades da Terra,
poderá representar,
também, um novo
nascimento em cada um,
um novo e radiante dia.
Trata-se de uma boa
oportunidade para
mudanças.
Que não fique apenas na
troca singela de
presentes materiais, na
participação de mesa
farta, no abuso do
álcool, na dispersão de
palavras construtivas,
na conversa improdutiva
etc. Que se busque esses
outros valores que estão
aguardando apenas a
lembrança de que
existem, para se
incorporarem à vida. Que
esses sentimentos mais
próximos da harmonia e
da
fraternidade
que se renovem também ao
longo do ano.
Basta que o interessado
olhe para eles e os
abrace, pois estão
sempre à nossa espera.
Que não feche os olhos a
esse novos caminhos que
se descortinam. Ele é
todo nosso, enquanto
estivermos aqui e a
caminho.
Francisco Cândido Xavier
nos brinda com a bela
página “Na Glória de
Natal”(1):
“Senhor – rei divino
projetado às sombras da
manjedoura –, diante do
teu berço de palha
recordo-me de todos os
conquistadores que te
antecederam na Terra.
Eles vieram e dominaram,
surgindo na condição de
pirilampos barulhentos,
confundidos, à pressa,
num turbilhão de
desencanto e poeira. Tu,
porém, Soberano Senhor,
Te contentaste com o
berço da estrebaria!
Ministros e sábios não
te contemplaram, na hora
primeira, mas humildes
pastores se ajoelharam,
sorridentes, diante de
Ti, buscando a luz de
Teus olhos
angelicais...
Hinos de guerra não se
fizerem ouvir à Tua
chegada libertadora;
todavia, em sinal de
reconhecimento, cânticos
abençoados de louvor
subiram ao céu, dos
corações singelos que te
exaltavam a Estrela
Gloriosa, a resplandecer
nos constelados
caminhos.
Os outros, Senhor,
conquistaram à custa de
punhal e veneno,
perseguição e força,
usando exércitos e
prisões, assassínio e
tortura, traição e
vingança, aviltamento e
escravidão, títulos
fantasiosos e arcas de
ouro...
Tu, entretanto,
perdoando e amando,
levantando e curando,
modificaste a obra de
todos os déspotas e
legisladores que
procediam do Egito e da
Assíria, da Judéia e da
Fenícia, da Grécia e de
Roma, renovando o mundo
inteiro.
E, por fim, Mestre,
longe de escolheres um
trono de púrpura a fim
de administrares o Reino
Divino de que te fizeste
embaixador e ordenador,
preferiste o sólio da
cruz, de cujos braços
duros e tristes ainda
nos envias compassivo
olhar, convidando-nos à
caridade e à harmonia,
ao entendimento e ao
perdão.
Conquistador das almas e
governador do mundo,
agora que os teus
tutelados afiam as armas
para novos duelos
sangrentos, neste século
de esplendores e trevas,
de renovação e
morticínio, de
esperanças e desilusões,
ajuda-nos a dobrar a
cerviz orgulhosa, diante
do teu singelo berço de
palha!...
Mestre da verdade e do
bem, da humanidade e do
amor, permite que o
astro sublime de teu
Natal brilhe, ainda, na
noite de nossas almas e
estende-nos caridosas
mãos para que nos
livremos de velhas
feridas, marchando ao
teu encontro na
verdadeira senda da
redenção”.
(¹)
Do livro Contos e
Pontos, de Irmão X,
com Francisco Cândido
Xavier, Edição FEB –
Federação Espírita
Brasileira. (Irmão X é o
pseudônimo do escritor
Humberto de Campos, que
esteve na Terra no
período de 1886-1934).