Na noite de Natal
Cármen Cinira
Noite de Paz e amor!
Repicam sinos,
Doces, harmoniosos,
cristalinos,
Cantando a excelsitude
do Natal!...
A estrela de Belém
volta, de novo,
A brilhar, ante os
júbilos do povo,
Sob a crença imortal.
De cada lar ditoso se
irradia
A glória da amizade e da
harmonia,
Em festiva oração;
Une-se o noivo à noiva
bem-amada,
Beija o filho a mãezinha
idolatrada,
O irmão abraça o irmão.
Dentro da noite, há
corações ao lume
E há sempre um bolo, em
vagas de perfume,
Sob claro dossel...
Em edens fechados de
carinho,
De esperança e de mel.
Mas, lá fora, a tristeza
continua...
Há quem chora sozinho,
em plena rua,
Ao pé da multidão;
Há quem clama piedade e
passa ao vento,
Ralado de tortura e
sofrimento,
Sem a graça de um pão.
Há quem contempla o céu
maravilhoso,
Rogando à morte a bênção
do repouso
Em terrível pesar!
Ah! Como é triste a
imensa caravana,
Que segue, aflita, sob a
treva humana
Sem consolo e sem lar...
Tu, que aceitaste a luz
renovadora
Do Rei que se humilhou
na manjedoura
Para amar e servir,
Volve o olhar compassivo
à senda escura,
Vem amparar os filhos da
amargura,
Que não podem sorrir.
Desce do pedestal que te
levanta
E estende a mão
miraculosa e santa
Ao desalento atroz;
Para unir-nos no Amor,
fraternalmente,
Desceu Jesus do Céu
Resplandecente
E imolou-se por nós.
Vem medicar quem geme na
calçada!...
Oferece à criança
abandonada
Um velho cobertor;
Traze a quem sofre a
lúcida fatia
Do teu prato de sonho e
de alegria,
Temperado de amor.
Visita as chagas negras
da mansarda
Onde a miséria súplice
te aguarda
Em nome de Jesus,
Há muita criança
enferma, quase morta,
Que só pede um sorriso
brando à porta,
Para tornar à luz.
Natal!... Prossegue o
Mestre, de viagem,
Em vão buscando um
quarto de estalagem,
Um ninho pobre, em
vão!...
E encontra sempre a
cruz, ao fim da estrada,
Por não achar socorro,
nem pousada
Em nosso coração.
Do livro Antologia
Mediúnica do Natal,
por Espíritos Diversos,
psicografado
por
Francisco Cândido
Xavier.