Anencefalia, um
sofrimento programado
pelas soberanas leis da
vida
Pode parecer que os
argumentos contrários ao
aborto provocado sejam
temas exclusivamente da
religião. Uma reflexão
mais atenta, contudo,
apontará para rumos da
alçada da própria
ciência. Embriogenistas
já identificaram a
presença, no zigoto, de
registros ("imprints")
mnemônicos próprios, que
evidenciam a riqueza da
personalidade humana,
manifestando-se, muito
cedo, na embriogênese.
Em O Livro dos
Espíritos, Kardec
indaga aos Espíritos "Em
que momento a alma se
une ao corpo?" E a
resposta em toda sua
clareza é "... Desde
o instante da concepção,
o Espírito designado a
habitar certo corpo, a
este se liga por um laço
fluídico". (1)
Pesquisas demonstram a
competência do embrião,
seja na capacidade para
autogerir-se
mentalmente; seja no
adequar-se a situações
novas; selecionar
situações e aproveitar
experiências. Destarte,
há sóbrias razões
científicas para ir de
encontro ao aborto,
sobretudo o do
"anencéfalo". Sobre isso
recordemos que com a
biogenética vislumbramos
a diversidade como o
nosso maior patrimônio
coletivo. E o embrião
anormal, ainda que
portador de séria
insuficiência
(anencefalia), compõe
parte dessa diversidade.
Deve ser, portanto,
preservado e respeitado
por subidas razões.
Os argumentos tal qual
justificam a morte do
"anencéfalo" serão os
mesmo que corroboram a
subtração da vida de
qualquer outra pessoa –
ou será que existem
pessoas com mais vida e
outras com menos vida? "A
decisão do STJ em
liberar a realização de
abortos em casos de
anencefalia não é
correta. O ‘anencéfalo’
é um ser vivo
intra-útero. Ele nasce
com vida e vai a óbito
com minutos, dias, meses
ou após anos. Se ele
nasce vivo, o aborto é
criminoso, pois lhe
ceifa a oportunidade e a
experiência da
reencarnação." (2)
Sobre o aborto,
analisando-se a
panorâmica geográfica da
Terra, observaríamos que
"o mundo atual
estaria dividido em três
partes iguais: uma parte
que autoriza sem
restrições (34 países),
outra parte que só
autoriza em certos casos
(37 países) e uma
terceira parte que não
autoriza em nenhuma
situação (33 países). Na
América Latina só Cuba
autoriza o aborto. O
Brasil, com a infeliz
medida ministerial, é o
segundo país
latino-americano a
autorizar abortos por
anencefalia". (3)
Divaldo Franco reflete
sobre o assunto com o
seguinte comentário: "o
aborto, mesmo
terapêutico, é imoral;
segundo o conhecimento
médico, o "anencéfalo"
tem vida breve ou
nenhuma. Assim sendo,
por que interromper o
processo reparador que a
vida impõe ao Espírito
que se reencarna com
essa deficiência? Será
justo impedi-lo de
evoluir, por egoísmo da
gestante?". (4) O
médium baiano recorda,
ainda, "é torturante
para a mãe que carrega
no ventre um ser que não
viverá, mas trata-se de
um sofrimento programado
pelas Soberanas Leis da
Vida". (5) E mais: "segundo
benfeitores espirituais,
a Terra vem recebendo
verdadeiras legiões de
Espíritos sofredores e
primários, que se
encontravam retidos em
regiões especiais e
agora estão tendo a
oportunidade de optar
pelo bem de si mesmos".
(6)
Invoca-se o direito da
mulher sobre o seu
próprio corpo como
argumento para a
descriminalização do
aborto, entendendo o
filho como propriedade
da mãe, sem identidade
própria e é ela quem
decide se ele deve viver
ou morrer. "Não há
dúvida quanto ao direito
de escolha da mulher em
ser ou não ser mãe. Esse
direito ela o exerce,
com todos os recursos
que os avanços da
ciência têm
proporcionado, antes da
concepção, quando passa
a existir, também, o
direito de um outro ser,
que é o do nascituro, o
direito à vida, que se
sobrepõe ao outro."(7)
Reconhecemos que a
mulher que gera um feto
deficiente precisa de
ajuda psicológica por um
período. Mas seria
importante que
inclinasse seu coração à
compaixão e à
misericórdia,
encontrando o real
significado da vida. Até
porque essas crianças
podem ser amamentadas,
reagem aos carinhos e,
óbvio, criam vínculos
com os seus pais! Embora
as suas deficiências,
são seres humanos
providos de alma,
necessitados de extremo
afeto!
Por fortíssimas razões
não existem bases
racionais que
justifiquem o aborto dos
chamados "anencéfalos",
e as proposições usadas
não apresentam
consistência científica,
legal e, muito menos,
ética. “A começar,
que não existem os
‘anencéfalos’, porque o
termo ‘anencéfalo’ (an +
encéfalo) literalmente
significa ausência de
encéfalo, quando se sabe
que em verdade esses
fetos possuem alguma
estrutura do encéfalo,
como o tronco
encefálico, o diencéfalo
e, em alguns casos,
presença de hemisfério
cerebral e córtex!"
(8)
O feto denominado
equivocamente de
"anencéfalo" possui
preservada a parcela
mais entranhada do
encéfalo, matriz,
portanto, do controle
autômato de funções
viscerais, a saber:
batimentos cardíacos e
capacidade de respirar
por si próprio, ao
nascer. "Como ainda
são obscuros, para nós,
os mistérios da relação
cérebro-mente, não
podemos permitir que
nossa ignorância seja a
condutora de decisões
equivocadas como a do
abortamento provocado
desse feto." (9)
Há relatos, nas
publicações médicas, de
crianças "anencéfalas"
que viveram por vários
meses sem o auxílio do
suporte ventilatório.
Aqui em Sobradinho, onde
resido há vários anos,
temos a história da
menina Manuela Teixeira
(ou Manu) que, embora
sendo autorizado o seu
aborto pela justiça, por
causa de sua má
formação, ela sobreviveu
por mais de três anos. "Manu"
é a única brasileira que
sobreviveu a uma doença
que leva à má-formação
dos ossos do crânio.
Médicos diziam que a
deformidade era
incompatível com a vida.
"No mundo, apenas 21
crianças conseguiram
vencer os sintomas da
doença que leva à morte
poucos minutos após o
parto", (10) e a
menina Manuela Teixeira
"morreu depois de
completar três anos de
nascida, no dia 14 de
setembro de 2003".
(11) Como se observa, um
feto, ainda que
"anencéfalo", não perde
a dignidade nem o
direito de nascer.
Os confrades favoráveis
ao aborto do
"anencéfalo" alegam que
nele não há Espírito
destinado à
reencarnação, conforme
explica O Livro dos
Espíritos. Porém,
mister refletir que
corpos para os quais
poderíamos afirmar que
nenhum Espírito estaria
destinado seriam os dos
fetos teratológicos,
monstruosos, que não têm
nenhuma aparência
humana, nem órgãos em
funcionamento. Destarte,
nada disto se aplica ao
"anencéfalo", "que
constitui-se em um
organismo humano vivo;
(...) a consciência
responde-nos, portanto,
que a única atitude
compatível com a Lei do
Amor é a da
misericórdia, a da
compaixão, para com o
feto ‘anencéfalo’".
(12)
Por fim, cremos que
mesmo na possibilidade
de o feto ser portador
de lesões graves e
irreversíveis, físicas
ou mentais, o corpo é o
instrumento de que o
Espírito necessita para
sua evolução, pois que
somente na experiência
reencarnatória terá
condições de reorganizar
a sua estrutura
desequilibrada por ações
que praticou em
desacordo com a Lei
Divina. Dá-se, também,
que ele se programe em
um lar cujos pais, na
grande maioria das
vezes, estão
comprometidos com o
problema e precisam
igualmente passar por
essa experiência
reeducativa.
Fontes:
(1) Kardec, Allan. O
Livro dos Espíritos,
Rio de Janeiro: Ed FEB,
2003, pergunta 344.
(2)
Artigo: Razões Para
Ser Contra o Aborto do
Anencéfalo,
publicado em Folha
Espírita - Agosto/2004.
Autoria de Laércio
Furlan – médico e
professor aposentado da
UFPR; presidente da
Associação
Médico-Espírita do
Paraná; coordenador da
Campanha Vida, Sim À
Gravidez – Não ao Aborto.
(3)
Eliseu F. Mota Jr,
disponível em acessado
em 21/12/05.
(4) O
jornal Folha Espírita,
edição de janeiro de
2005.
(5)
Idem.
(6)
Idem.
(7) (Este
texto – O aborto na
visão espírita –
aprovado pelo Conselho
Federativo Nacional em
sua Reunião Ordinária de
13 a 15 de novembro de
1999, em Brasília,
constitui o documento
que a FEB está levando,
como esclarecimento, à
consideração das
autoridades do Governo
Federal, do Congresso
Nacional e do Poder
Judiciário. As Entidades
Federativas estaduais,
por sua vez, realizam o
mesmo trabalho junto aos
Governadores, Deputados
Estaduais, Prefeitos,
Vereadores, outras
autoridades e ao público
em geral, em seus
Estados.) Cf. Revista
Reformador, Nº 2051,
Fevereiro de 2000.
(8)
Artigo: Aborto dos
Chamados "Anencéfalos":
uma Violência sem
Fundamento, de
Gilson Luís Roberto -
Médico CREMERS - 18.749.
(9) Dra.
Irvênia Luiza de Santis
Prada, pesquisadora e
professora titular
emérita da USP, com mais
de uma centena de
trabalhos publicados,
especialista em
neuroanatomia animal,
acessado em 25/12/05.
(10) –
A criança que desafiou a
medicina – Lilian
Tahan – Correio
Braziliense
(28/2/2003).
(11)
Jornal Correio
Brasiliense, edição de15
set. 2003, p. 3,
reportagem: " Morre
criança com acrania".
(12)
Marlene Nobre,
presidente das
Associações
Médico-espíritas
Internacional e do
Brasil.