MARCELO HENRIQUE
PEREIRA
cellosc@floripa.com.br
Florianópolis,
Santa Catarina
(Brasil)
Uma nova mudança
“Você não sente,
não vê, mas eu
não posso deixar
de dizer, meu
amigo,
Que uma nova
mudança em breve
vai acontecer.
O que há algum
tempo era jovem,
novo, hoje é
antigo
E precisamos
todos
rejuvenescer!”
(Belchior)
Os versos de
Belchior que
embalaram a
juventude
latino-americana
(“sem dinheiro
no banco, sem
parentes
importantes e
vinda do
interior”), nos
anos 60,
continuam
atualíssimos...
E, se me for
permitido ousar,
diria que
demonstram a
dualidade
existente no
movimento
espírita de
nossos dias, com
incrível
similaridade.
Foi em 1964 que
o Brasil
conheceu dias
tormentosos,
obscuros e
intransigentes,
época dolorosa e
negra que se
estendeu até
1979. Os filhos
desses dias até
hoje
experimentam o
temor em “não
poder” entoar
vozes diferentes
daquelas que
eram impostas
por quem detinha
o poder
político-social.
Muitos,
inclusive, não
reaprenderam a
pensar por si
mesmos, nem a
fazer escolhas
por si mesmos,
esperando sempre
que alguém lhes
direcione a
decisão.
Olho para o
movimento
espírita e me
entristeço! O
que devia ser um
amplo espaço de
construção, de
entrosamento e
de liberdade,
transformou-se
num ambiente de
sacralização de
condutas,
impondo-se a
obediência aos
“mais antigos”
da instituição,
ou àqueles que
facilmente
aderiram à
estrutura de
poder local,
regional,
estadual,
nacional... “Os
descontentes que
se mudem!”,
parece ser o
bordão entoado
por quem assume
o poder, seja na
Casa Espírita,
seja nos
conselhos e
federativas. E,
em nome da
aparente
“tranqüilidade”,
declinam que a
discussão (e a
dissensão) são
“instrumentos
das trevas”, ou
que os
“irmãozinhos
estão
obsidiados”,
quando ousam
divergir das
orientações e
apresentar
alternativas
diferentes, de
pensamento e
ação.
Dogmatizam a
filosofia
espírita em
torno do que
escreveu Kardec
– mas, é claro,
sem entender a
profundidade
daquilo que ele
escreveu e
ensinou –
elegendo certos
médiuns e
Espíritos como
intérpretes
oficiais do
pensamento
espiritista.
Recusam-se a
contatar os
espíritos
desencarnados,
para
questioná-los
acerca das
questões da
atualidade, com
enunciados
completamente
antagônicos ao
que prelecionou
o Codificador
(do tipo “o
telefone só toca
de lá para cá”)
e advertindo que
a obra de Kardec
é intocável e só
poderá ser
“revista” em uma
nova intervenção
divina (por meio
dos Espíritos
Superiores), ao
qual cognominam
de “revelação”.
Encastelam-se no
poder, como
donatários da
verdade,
assumindo a
condição de
“missionários”
do trabalho
espírita, ali
permanecendo por
décadas, como se
o Espiritismo
deles
precisasse, e
impedindo o
acesso,
democrático, das
idéias e de seus
subscritores, às
tarefas e aos
postos de
serviço.
Porém, como
Belchior, que
com sua aparente
ingenuidade
cantava a vida,
o amor, a paz e
a resistência
das idéias à
massificação,
ouso pensar que
“uma nova
mudança em breve
vai acontecer”,
pois “o que há
algum tempo era
jovem, novo,
hoje é antigo” e
nós, espíritas,
conscientes do
real papel das
idéias no mundo,
“precisamos
todos
rejuvenescer”.