AURECI
FIGUEIREDO
MARTINS
aureci@globo.com
Porto Alegre,
Rio Grande do
Sul (Brasil)
Duvidar é
preciso...
Perdoem-me os
que crêem
piamente, mas
quem quer saber
das coisas como
elas realmente
são precisa
duvidar.
Refiro-me à
dúvida ativa:
aquela que não
descansa
enquanto não
encontra a
própria
eliminação na
resposta
satisfatória,
pois que existe
a dúvida vazia,
que se esgota em
si mesma. Esta
última é tão ou
mais nociva do
que a crença
cega porque
costuma
conservar na
ignorância os
que com ela
expressam apenas
acomodação
mental e uma
tola vaidade
intelectual.
Eliminar as
dúvidas antes de
acreditar, eis
uma cautela
indispensável ao
pensador que não
quer ser
enganado nem
enganador.
Questionar
nossas idéias e
convicções,
submetendo-as ao
crivo sereno e
lógico da razão,
é uma
providência
saudável que nos
pode livrar de
enganos e
decepções
futuros.
Vivemos a
chamada “Era da
incerteza”, na
qual a
precariedade das
nossas
percepções foi
escancarada
pelos avanços
das ciências
psicológicas
hoje imbricadas
nas dimensões
quânticas da
“matéria mental”
estudada na Nova
Física. Já disse
alguém – e disse
bem – que só os
tolos têm
certezas
absolutas.
Tais descobertas
nos levam a
concluir que
toda e qualquer
concepção humana
nada mais é do
que mera criação
subjetiva,
individual. Ou
seja, as
verdades
absolutas,
embora possam
existir, não
cabem na
estreiteza da
bitola mental do
homem hodierno;
delas, só
logramos captar
informações
fragmentárias.
Daí a
necessidade de
relativizarmos
nossos
conhecimentos e
desconfiarmos de
nossas certezas
e crenças, para
que não venhamos
a ser
surpreendidos
entre os que se
deixam enganar
por ideologias
equivocadas ou
pelas mentiras
enfeitadas com
que, ainda hoje,
os falsos
profetas
continuam
explorando a
credulidade
fácil das
multidões
acríticas.
Crer sem
entender é uma
falta de
respeito a si
mesmo, uma
ofensa à própria
inteligência. A
crença não
validada pela
racionalidade
tende a
infantilizar o
espírito humano,
gerando
mentalidades
ingênuas que são
facilmente
transformadas em
marionetes nas
mãos de
exploradores
inescrupulosos,
ou levadas a
fanatismos por
“cegos que guiam
cegos”.
Todavia, é fora
de dúvida que a
inteligência é a
luz do homem e,
como tal, deve
ser colocada no
alto para
clarificar suas
operações e
construções
mentais. Desse
modo, com a luz
ao velador – tal
como recomendado
por Jesus –, o
espírito humano
poderá
reconstruir suas
convicções e
crenças sobre as
bases graníticas
de uma
consciência
amadurecida que
adotou a crítica
racional como
instrumento de
validação do
conhecimento
possível,
sabidamente
relativo.
Por paradoxal
que pareça à
primeira vista,
é justamente a
dúvida
sistemática que
nos leva à
construção de
uma fé robusta,
raciocinante,
baseada no
perfeito
entendimento
daquilo em que
se acredita em
qualquer campo
das realidades
físicas,
extrafísicas ou
espirituais.
“Conheceres a
Verdade, e ela
vos libertará”,
prenunciou
Jesus.
E que me perdoe
o Excelso Mestre
se me atrevo a
proclamar uma
nova
bem-aventurança:
“Bem-aventurados
os que duvidam
porque
encontrarão a
verdadeira fé.”