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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 90 - 18 de Janeiro de 2009

LEDA MARIA FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br

São Paulo, SP (Brasil)

O Centro Espírita

“Nisto conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.” – Jesus (João,13:35)


Na busca de inspiração para desenvolver o tema que dá título ao artigo, encontramos no artigo do companheiro Vinícius Lousada, publicado pela Revista Internacional de Espiritismo  em fevereiro de 2005, a idéia, bem colocada por ele, de que “ser espírita” não é apenas entender a Doutrina dos Espíritos, porque seus princípios nos são claros, ou porque freqüentamos todas as semanas, rotineiramente, uma casa espírita para executar tarefas que lhe são próprias.

Refletimos bastante sobre isso e, mesmo assim, a insatisfação permanecia em nosso espírito. E, mais uma vez, pedimos a assistência dos bons Espíritos para que pudéssemos receber alguma sugestão a fim de darmos continuidade a nossa busca. E ela veio através de um texto de Emmanuel, psicografado pelo nosso bem-amado Chico Xavier, intitulado “Doutrina Espírita”, do livro Religião dos Espíritos. Diz o Instrutor Espiritual que “ser espírita” é ter caráter espírita, é ter conduta espírita, ainda que possamos nos sentir em reajuste; que espírita deve ser o claro adjetivo da instituição onde trabalhamos, estudamos ou somos assistidos, seja em benefício próprio ou dos outros, mesmo que faltando as passageiras subvenções e a honraria terrestre.

Portanto, quando dizemos que freqüentamos uma casa espírita, significa que essa instituição deva ter, efetivamente, bem claros os objetivos que os postulados espíritas trazem em seu bojo. Se a Doutrina Espírita quer dizer Doutrina do Cristo e se esta é a doutrina do aperfeiçoamento moral, as casas espíritas que não atendem a esse objetivo não cumprem sua tarefa que é a da melhoria de todos os que as freqüentam, através de um trabalho de conscientização pela educação dos sentimentos.

Não basta, assim, manter a aparência de espírita – nós ou a casa a qual freqüentamos – mas, sim, vivenciar, através de suas atividades, a experiência religiosa que o Espiritismo propicia. O Centro Espírita não pode continuar sendo encarado apenas como um pronto-socorro de corações aflitos e mentes em desalinho. É fundamental que se transforme numa escola de almas, não apenas pelo entendimento de seus postulados, mas pelo despertar de uma consciência espírita no que diz respeito à imensa oportunidade de usar esse conhecimento como recurso de transformação íntima. Allan Kardec deixou-nos orientação segura quanto a isso, quando afirmou, na Revista Espírita, de fevereiro de 1862, o seguinte: “Procurai no Espiritismo aquilo que vos pode melhorar. Eis o essencial.”

Parece-nos, assim, que necessitamos “encarnar” a mensagem espírita em nossas atitudes diárias, na forma de nos mostrarmos ao mundo, para que o mundo saiba da grandiosidade dos princípios que abraçamos. E onde poderemos encontrar o caminho para isso, senão no Centro Espírita?

É uma meta a ser alcançada, e para que ela se concretize, é necessária a participação de todos os envolvidos na dinâmica da instituição, ou seja: seus dirigentes, trabalhadores (todos somos trabalhadores de Jesus e de mais ninguém) e assistidos (todos ainda somos assistidos nas nossas deficiências e dificuldades).

Privilégios de títulos e recursos financeiros, purismo doutrinário exagerado que cega mentes e isola o grupo, preconceito e sectarismo, têm sido alguns dos “malfeitores” que atacam o grupo espírita, levando o desequilíbrio a todos os responsáveis pela manutenção das tarefas. Vaidade, personalismo - orgulho centrado no EU - e melindres, outros “bandidos da alma”, têm levado ao afastamento das atividades e da própria fé trabalhadores de boa vontade que, infelizmente, não toleram as críticas construtivas que podem alertá-los para a necessidade da renovação de conduta, sejam elas pessoais, que acabam por interferir nas decisões administrativas, sejam na organização das tarefas pertinentes à instituição.

Com o afastamento de trabalhadores e dirigentes, em diferentes níveis de responsabilidade, o grupo acaba por se dissolver, os trabalhos passam a não atender a finalidade para as quais foram criados, e o caminho fica aberto àqueles companheiros que desejam e lutam para que se feche mais um ponto de Luz.

A invigilância de muitos companheiros na não aceitação da necessidade de reformularem seus conceitos pessoais ou grupais acaba por encerrar, com grandes prejuízos morais para todos, um trabalho que deveria ser fonte de esclarecimentos e renovação para muitos corações, sinceramente desejosos de crescimento espiritual.

Meus irmãos, é hora de revisão, não dos postulados e princípios espíritas, mas da forma como os estamos compreendendo e transmitindo. Vamos vivenciar e divulgar a Doutrina Espírita com alegria, pois existe severidade demais entre alguns dos nossos corações bem-amados. Vamos trabalhar com responsabilidade ante a tarefa que nos foi colocada nas mãos, procurando estudar seriamente as bases doutrinárias. Sabemos tão pouco dos seus alicerces - e nos preocupamos tanto com o teto! Não nos esqueçamos de que um dia virá em que seremos convidados a prestar contas a ela.

Na Esfera Superior, somos vistos pelo que fazemos. “Amai-vos e instruí-vos”, disse Kardec. Que se cumpram, pois, as suas palavras.

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita