EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Sobre o viver
Na maioria das
vezes nos
esquecemos de
prestar atenção
em nossa jornada
individual e
deixamos de
desenvolver
nossas metas
essenciais,
distraídos com o
barulho e as
promessas do
mundo. Desse
modo, procuramos
fora de nós bens
e motivos que
possam saciar
vãos desejos,
sempre
acidentais, e,
ao mesmo tempo,
ludibriar a
sensação de
vazio que
retorna, minando
o verdadeiro
propósito de
viver.
Há uma história
sufi que
contém uma lição
valiosa (*).
Um imperador
estava saindo de
seu palácio para
um passeio
matinal, quando
encontrou um
mendigo. Ele
perguntou ao
mendigo: “O que
você deseja?”
O mendigo riu, e
respondeu: “Você
está perguntando
como se fosse
capaz de
satisfazer meu
desejo!”
O rei ficou
ofendido, e
disse:
“Certamente sou
capaz de
satisfazê-lo. O
que é?
Simplesmente me
diga”.
E o mendigo
respondeu:
“Pense duas
vezes antes de
prometer
qualquer
coisa”.
Ele não era um
mendigo comum;
tinha sido o
mestre do
imperador em sua
vida passada. E
naquela vida
tinha prometido:
“Voltarei e
tentarei
despertá-lo em
sua próxima
vida. Você
perdeu a
oportunidade
nesta vida, mas
voltarei”. Mas o
rei tinha
esquecido
completamente –
quem se lembra
de vidas
passadas? Então
ele insistiu:
“Realizarei
qualquer coisa
que você pedir.
Sou um imperador
muito poderoso.
O que é possível
você desejar que
eu não possa lhe
dar?”
O mendigo
respondeu: “É um
desejo muito
simples. Está
vendo esta
cumbuca de
pedinte? Você
pode enchê-la
com alguma
coisa?”
O imperador
afirmou:
“Certamente!”
Ele chamou um de
seus vizires e
ordenou: “Encha
a cumbuca deste
homem com
dinheiro”. O
vizir foi, pegou
algum dinheiro e
despejou na
cumbuca... e o
dinheiro
desapareceu. E
despejou mais e
mais, e no
momento em que
despejava o
dinheiro, o
mesmo
desaparecia e a
cumbuca
permanecia
vazia.
Todas as pessoas
do palácio se
reuniram. Aos
poucos o rumor
se espalhou pela
capital, e uma
multidão enorme
se juntou. O
prestígio do
imperador estava
em jogo. Ele
disse aos
vizires: “Se o
reino inteiro
for perdido,
estou pronto a
perdê-lo, mas
não posso ser
derrotado por
este mendigo”.
Diamantes,
pérolas e
esmeraldas...,
seus tesouros
estavam se
esvaziando.
Aquela cumbuca
de pedinte
parecia não ter
fundo. Tudo que
era colocado
nela – tudo! –
desaparecia
imediatamente,
saía da
existência.
Finalmente a
noite chegou e
as pessoas
estavam paradas
ao redor em
absoluto
silêncio. O rei
se ajoelhou aos
pés do mendigo e
admitiu sua
derrota. Ele
falou: “Diga-me
apenas uma
coisa. Você
venceu, mas
antes de ir
embora, apenas
satisfaça minha
curiosidade. De
que é feita essa
cumbuca?”
O mendigo riu, e
respondeu: “É
feita da mente
humana. Não
existe
segredo... É
feita
simplesmente de
desejo humano”.
Creio que esta
narrativa alarga
a visão e pode
transformar a
vida. Ora,
desejos
realizados dão
lugar ao vazio
e, desse modo,
ressurge a
criação de um
novo desejo para
que o abismo do
tédio seja
momentaneamente
afastado e assim
sucessivamente,
segundo um ciclo
caracterizado
pela
predominância do
não-preenchimento
– tal é o enredo
da jornada
daquele que
segue distraído,
voltado para
fora...
Diferentemente,
podemos escolher
a jornada para
dentro,
comprometidos
com o
desenvolvimento
das nossas
potencialidades
e superação de
nossas
dificuldades
para buscar
impedir que a
vida seja um
desperdício,
pois o
verdadeiro
preenchimento só
se dá no nível
interno. Afinal,
como explica
Carl G. Jung:
“Quem olha para
fora, sonha.
Quem olha para
dentro,
desperta”.
Referências:
(*)OSHO. Zen:
The path of the
paradox.