Do Além
Antônio Nobre
Pudesse o nosso olhar,
vagueando os ermos,
Ver através da própria
soledade
A expressão luminosa da
Verdade,
E da luz da Verdade não
descrermos...
Preocupar-se aí, porém,
quem há de
Com o problema de sermos
ou não sermos,
Pois que o ardente
desejo de o sabermos
É sempre o anelo falso
da vaidade?
Peregrinos da dor, na
dor andamos
Sem que a nossa miséria
se desfaça
No escabroso caminho
onde marchamos,
Seguindo a alma nos
sonhos iludida,
Até que a dor unindo-se
à desgraça
Descerre os véus que
encobrem outra vida.
Antônio Nobre nasceu na
cidade do Porto e
faleceu na Foz do Douro,
aos 33 anos de idade, em
18 de março de 1900.
Distinguiu-se pela
suavidade e melancolia
do seu estro. O soneto
acima integra o
Parnaso de Além-Túmulo,
obra psicografada por
Francisco Cândido
Xavier.