MARCOS PAULO DE OLIVEIRA SANTOS
mpoliv@bol.com.br
Taguatinga, Distrito Federal (Brasil)
Os pais do mundo
contemporâneo
No dia 6 de dezembro de
1883, próximo aos cedros
milenares, em uma
montanha no Líbano,
nascia Gibran Khalil
Gibran. Ele teve
oportunidade de ir aos
Estados Unidos e lá
exteriorizar toda a
beleza que jazia em sua
alma em forma de
pinturas místicas e de
uma literatura comovente
e atual.
Ele escreveu obras
notáveis. Em uma delas
encontramos o poema “Os
filhos” (1), que
transcrevemos abaixo:
E uma mulher que
carregava o filho nos
braços disse: “Fala-nos
dos filhos”. E ele
disse:
“Vossos filhos não são
vossos filhos.
São os filhos e as
filhas da ânsia da vida
por si mesma.
Vêm através de vós, mas
não de vós.
E embora vivam convosco,
não vos pertencem.
Podereis outorgar-lhes
vosso amor, mas não
vossos pensamentos,
Porque eles têm seus
próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus
corpos, mas não suas
almas;
Pois suas almas moram na
mansão do amanhã, que
vós não podeis visitar
nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por
ser como eles, mas não
procureis fazê-los como
vós,
Porque a vida não anda
para trás e não se
demora com os dias
passados.
Vós sois os arcos dos
quais vossos filhos são
arremessados como
flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo
na senda do infinito e
vos estica com toda a
Sua força para que Suas
flechas se projetem,
rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento
na mão do Arqueiro seja
vossa alegria:
Pois assim como Ele ama
a flecha que voa, ama
também o arco que
permanece estável”.
Interessante, profundo e
atual o pensamento desse
homem que desconhecia os
ensinamentos espíritas.
E nos força a seguinte
pergunta: Como estão os
pais da atualidade?
– Os pais estão
preocupadíssimos em
darem coisas do que em
darem-se. Dar a coisa é
uma forma de se ver
livre, dar-se é uma
oportunidade de oferecer
e exercitar o amor. O
que não ocorre na atual
conjuntura. Então, é
preferível dar o
videogame para a criança
e não orientá-la e
acompanhá-la em seu
desenvolvimento; é
melhor dar a motocicleta
para o adolescente e não
guiá-lo em seus
conflitos; é mais cômodo
dar o automóvel para o
filho, para ele matar os
outros e matar-se.
Porque os pais da
modernidade não têm
tempo, ou chegam a casa
cansados, enfim, há
milhares de desculpas
para não educar o ser
reencarnante;
– Os pais obrigam seus
filhos a pensarem como
eles. Mas esquecem-se de
que seus filhos têm os
próprios pensamentos,
pois são Espíritos
milenares. Assim,
encontramos conflitos na
relação pais e filhos,
porque os primeiros
querem impor uma forma
de pensamento ou a
profissão a ser seguida
etc. Sendo que a única
coisa que de fato se
pode outorgar é o amor,
os pensamentos podem ser
apresentados, nunca
impostos!;
– Há, também, os pais
que tiveram grande
satisfação em trazer os
filhos ao mundo, mas não
têm a mesma alegria para
cuidar deles. Deste
modo, embora tenham pais
biológicos, temos dentro
de um mesmo lar jovens
que são órfãos porque
seus pais não cuidam
deles, não dialogam, nem
querem saber como os
filhos estão... Os
filhos são seres
estranhos que apenas se
alimentam e dormem no
lar, mas desconhecem os
pais e estes aos filhos;
– Há os pais
excessivamente liberais,
que deixam seus filhos
fazerem o que bem
entenderem. Ou ainda
aqueles pais
extremamente opressores,
que agridem de várias
maneiras seus filhos
criando um ódio interior
nesses, ao invés do
respeito e do amor que
deveriam ter. Existem
também os pais que mimam
os filhos e não deixam
que eles evoluam, os
protegem excessivamente
impedindo que eles criem
asas para
emanciparem-se.
Diante do exposto,
percebemos que no palco
das reencarnações nós
assumimos infinitos
personagens. Podemos ser
filhos, irmãos, maridos,
esposas, pais... Tudo
isso de um modo
temporário, porque somos
em realidade irmãos,
oriundos do Sempiterno.
Quando os pais se
esquecem de que os
filhos reencarnados são
seres milenares e que
carecem de uma boa base
para a evolução, o
grande “Arqueiro”
pergunta-lhes: “Que
fizestes do filho
confiado à vossa
guarda?” e os pais que
tiverem falhado, quais
arcos, serão encurvados
pelo Arqueiro e deverão
retornar para que a
tarefa seja realizada
com êxito.
“A tarefa não é tão
difícil quanto vos possa
parecer. Não exige o
saber do mundo. Podem
desempenhá-la assim o
ignorante como o sábio,
e o Espiritismo lhe
facilita o desempenho,
dando a conhecer a causa
das imperfeições da alma
humana.” (2)
Por outro lado, os pais
que tudo tiverem feito
(tudo mesmo) para a
melhoria dos filhos e
estes não conseguirem
seguir uma trajetória
ética e cristã, nada
temerão. Pelo contrário,
deverão permanecer com
suas consciências
tranquilas porque o
Onipotente tudo sabe e
reconhecerá, certamente,
o trabalho hercúleo
desses pais abnegados.
Os pais do mundo atual
devem compreender que o
ato de educar os filhos
é de extrema importância
e, no cadinho doméstico,
se iniciam essas etapas
educativas.
“Ó espíritas!
compreendei agora o
grande papel da
Humanidade; compreendei
que, quando produzis um
corpo, a alma que nele
encarna vem do espaço
para progredir;
inteirai-vos dos vossos
deveres e ponde todo o
vosso amor em aproximar
de Deus essa alma; tal a
missão que vos está
confiada e cuja
recompensa recebereis,
se fielmente a
cumprirdes. Os vossos
cuidados e a educação
que lhe dareis
auxiliarão o seu
aperfeiçoamento e o seu
bem-estar futuro.”
(3)
Referências:
[1]
GIBRAN, Khalil Gibran.
Os filhos. In:
O Profeta. Rio de
Janeiro. ACIGI
[2]
KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o
Espiritismo. 120 ed.
Rio de Janeiro. FEB,
2002.
[3] Idem,
2002.