MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Libertação
André Luiz
(5a
Parte)
Damos continuidade ao estudo da obra
Libertação,
de André Luiz, psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier e
publicada em 1949 pela Federação Espírita
Brasileira.
Questões
preliminares
A. As almas generosas preocupam-se com os
que ficam para trás?
R.: O caso Cláudio mostra que sim. Aquele
que realmente ama abdica do ingresso numa
estrela para continuar ao lado de um ente
querido que ficou para trás e que, por isso,
carece de ajuda. (Libertação, cap. III,
pp. 42 e 43.)
B. As medidas do bem obedecem a um
planejamento?
R.: Sim. Segundo André Luiz, todas as
medidas do bem são planejadas e
pacientemente executadas pelos que se
angelizam nas virtudes do Céu. (Obra
citada, cap. III, pp. 44 a 47.)
C. Como Matilde via seu filho Gregório, um
Espírito votado ao mal que infundia medo em
tanta gente?
R.: Matilde o via como alguém que era
preciso ajudar. Eis o que ela disse a Gúbio
sobre Gregório: “Na pauta do julgamento
humano comum, meu filho espiritual será
talvez um monstro... Para mim, contudo, é a
joia primorosa do coração ansioso e
enternecido. Penso nele qual se houvera
perdido a pérola mais linda num mar de lama
e tremo de alegria ao considerar que vou
reencontrá-lo. Não é paixão doentia que
vibra em minhas palavras. É o amor que o
Senhor acendeu em nós, desde o princípio.
Estamos presos, diante de Deus, pelo
magnetismo divino, tanto quanto as estrelas
que se imantam umas às outras, no império
universal". "Não encontrarei o Céu, sem que
os sentimentos de Gregório se voltem
igualmente para a Eterna Sabedoria.”
(Obra citada, cap. III, pp. 47 a 49.)
Texto para leitura
18. O Paizinho atormentado - A
jovem, apesar dos soluços de emoção que lhe
vibravam no peito, continuou: "Abençoa-nos
para a grande jornada!... Há muito tempo
aguardamos esta hora breve de reencontro
contigo... Perdoa-nos, Mãezinha, se
insistimos tanto na rogativa... Contudo,
sem tua proteção amorosa, como vencer nos
turbilhões do abismo?" Em seguida, a jovem
explicou que ela e a irmã continuavam
velando pelo Paizinho, mergulhado nas
sombras; havia, contudo, seis anos que o
buscavam em vão... Ele escapava à
influência delas, comprazendo-se na
companhia de espíritos que, por onde passam,
vampirizam as criaturas. Repelia qualquer
ajuda e, quando elas multiplicavam as
providências salvacionistas, punha-se a
gesticular, colérico e irritado, gritando
blasfêmias e solicitando o concurso de seres
viciados, a cujas radiações escuras se
entrelaçava... A nobre senhora, descendo da
tribuna, ergueu as filhas e, acolhendo-as
nos braços, exclamou com acento consolador,
repassado de visível melancolia: "Filhas
amadas, o Sol combate a treva todos os dias.
Batalhemos contra o mal, incessantemente,
até à vitória. Não se suponham sozinhas no
conflito doloroso. Desculpemos o Papai,
infinitamente, e colaboremos por restituí-lo
à terra firme da luz. Se o Cristo trabalha
por nós, desde o princípio dos séculos, sem
que lhe possamos compreender a amplitude dos
sacrifícios, que dizer das nossas
obrigações de amparo e tolerância, uns para
com os outros?" A bondosa senhora continuou
lembrando que Cláudio se fizera credor para
sempre de sua estima e gratidão, apesar de
seus erros. Ele envenenara um parente para
conseguir a riqueza material que ofereceu à
família educação e conforto na esfera
carnal, complicando o seu próprio futuro
para beneficiar esposa e filhas. Após essas
lembranças, a entidade materializada chorou
comovedoramente e, abraçada às filhas, num
quadro emocionante, prosseguiu informando
que tornariam ao campo de luta regeneradora
e benfazeja, porque a paisagem celestial
nada valia para elas sem a libertação
daqueles a quem amavam. "O coração amoroso,
atormentado, abdicará do ingresso numa
estrela para persistir ao lado de um ente
querido, em duelo com as serpentes de um
charco...", asseverou a generosa mulher, que
aduziu: "Abandonar quem nos serviu de degrau
em plena ascensão divina é das mais
horrendas formas de ingratidão. O Senhor não
pode abençoar uma ventura colhida ao preço
de angústias para aqueles que no-las deram".
(Cap. III, pp. 42 e 43)
19. O programa a cumprir -
Após dizer que "há mais grandeza no anjo que
desce ao inferno para salvar os filhos de
Deus, transviados e sofredores, do que no
mensageiro espiritual que se dá pressa em
comparecer ante o Trono do Eterno para
louvá-lo", a venerável senhora enxugou o
pranto e conclamou as filhas a, juntas,
persistirem no socorro àquele que resvalou
para o despenhadeiro sinistro e tormentoso,
saldando suas dívidas secretas com
abnegação e devotamento. Mais tarde, ela
receberia nos braços Antônio, o sobrinho
envenenado, reaproximando-o de Cláudio,
através da cordialidade e do respeito
vividos em comum. Ensinaria a ele com
ternura a pronunciar o nome de Deus e a
desfazer as pesadas nuvens de revolta que no
momento empanavam sua vida íntima. Para
incliná-lo à compreensão e à piedade, com
mais eficiência, ela se comprometera também
a acolher em seu lar, como filhos, as seis
criaturas desviadas do bem, às quais Antônio
se apegara, desvairado, nas regiões
inferiores. "Meu afeto reinará dificilmente
num lar repleto de corações menos afins com
o meu, onde Jesus me ensinará a soletrar,
venturosa, a doce lição do sacrifício
silencioso...", revelou a bondosa senhora.
Muitas vezes ela lidaria com a discórdia e a
tentação; mas sabia que não existem
felicidades de improviso. "Conquistaremos em
cooperação abençoada aquela paz que Cláudio
sonhou para nós e que ele próprio não
desfrutou...", acrescentou a entidade. Era
preciso, contudo, que o Pai renascesse
primeiro; sem esse marco inicial, nada
poderia ser feito. Por isso, ela rogava às
filhas seu auxílio no sentido de inclinar o
espírito paterno à esperança e à meditação
reconstrutivas, enquanto ela mesma
procuraria transformar Antônio, o sobrinho
assassinado. As jovens derramavam pranto
comovedor, em que se misturavam angústia e
alegria, e a senhora acrescentou: "Não
desanimem. O tempo é das mais preciosas
dádivas do Senhor e o tempo nos auxiliará. O
porvir reunir-nos-á, de novo, em abençoado
refúgio terrestre. Eu e Cláudio, então
renovado, receberemos muitos filhinhos, e
vocês duas estarão entre eles,
reconfortando-nos os corações. Terei sobre o
peito algumas pedras preciosas por lapidar,
no esforço de cada dia e, dentro d'alma,
duas flores, em ambas, cujo perfume celeste
me sustentará as energias necessárias à
perseverança até ao fim..." Pouco depois, a
Mãezinha, após beijar as filhas e saudar os
presentes, desapareceu ante o olhar de
todos, numa onda de neblina evanescente.
(Cap. III, pp. 44 e 45)
20. O caso Gregório - André
acabara de ver, outra vez, que todas as
medidas do bem são planejadas e
pacientemente executadas pelos que se
angelizam nas virtudes do Céu. Daí a pouco,
outra entidade, revestida de luz, surgiu na
tribuna. Doce magnetismo santificante
irradiava dos olhos. Trajando uma túnica sem
mangas estruturada em fina gaze
azul-radiosa, ela desceu, fitando os
presentes, à procura de alguém, com
interesse particular. Gúbio se aproximou,
reverente, qual discípulo submisso. Matilde
pronunciou frases de paz, sem nenhuma
afetação, e endereçou-lhe a palavra, em tom
de infinita ternura: "Irmão Gúbio,
agradeço-te o concurso dadivoso. Creio haver
chegado, efetivamente, o instante de
aceitar-te a ajuda fraterna, em favor da
libertação de meu infortunado Gregório.
Espero, há séculos, pela renovação e
penitência dele. Impressionado pelos imensos
recursos do poder, no passado distante,
cometeu hediondos crimes da inteligência.
Internado em perigosa organização de
transviados morais, especializou-se, depois
da morte, em oprimir ignorantes e infelizes.
Pelo endurecimento do coração, conquistou a
confiança de gênios cruéis, desempenhando
presentemente a detestável função de grande
sacerdote em mistérios ocultos. Chefia
condenável falange de centenas de outros
espíritos desditosos, cristalizados no mal,
e que lhe obedecem com deplorável cegueira e
quase absoluta fidelidade. Agravou o
passivo de suas dívidas clamorosas,
trazidas da insânia terrestre, e vem sendo
instrumento infeliz nas mãos de inimigos do
bem, poderosos e ingratos... Há cinqüenta
anos, porém, já consigo aproximar-me dele,
mentalmente. Recalcitrante e duro, a
princípio, Gregório agora experimenta algum
tédio, o que constitui uma bênção nos
corações infiéis ao Senhor. Já lhe
surpreendo no espírito rudimentos de
necessária transformação. Ainda não chora
sob o guante do arrependimento benéfico e
parece-me longe do remorso salvador;
entretanto, já duvida da vitória do mal e
abriga interrogações na mente envilecida.
Não é tão severo no comando dos espíritos
desventurados que lhe seguem as
determinações e o colapso de sua resistência
não me parece remoto". Nesse momento, a
venerável matrona derramava lágrimas
discretas, que lhe deslizavam na face como
sementes de luz. (Cap. III, pp. 45 a 47)
21. O plano de Matilde - Após
ligeira pausa, Matilde continuou: "Irmão
Gúbio, perdoa-me o pranto que não significa
mágoa ou esmorecimento... Na pauta do
julgamento humano comum, meu filho
espiritual será talvez um monstro... Para
mim, contudo, é a joia primorosa do coração
ansioso e enternecido. Penso nele qual se
houvera perdido a pérola mais linda num mar
de lama e tremo de alegria ao considerar que
vou reencontrá-lo. Não é paixão doentia que
vibra em minhas palavras. É o amor que o
Senhor acendeu em nós, desde o princípio.
Estamos presos, diante de Deus, pelo
magnetismo divino, tanto quanto as estrelas
que se imantam umas às outras, no império
universal". Dito isto, a venerável mulher
prosseguiu: "Não encontrarei o Céu, sem que
os sentimentos de Gregório se voltem
igualmente para a Eterna Sabedoria.
Alimentamo-nos na Criação com os raios de
vida imperecível que emitimos uns para com
os outros. Como surpreender a perfeita
ventura se recebo do filho amado tão somente
raios de forças em desvario?" Gúbio
contemplou-a, de olhos úmidos, e disse estar
pronto. Tudo o que fizesse por sua alegria,
seria pouco diante dos sacrifícios que ela
fazia por todos. Matilde, então, informou
que em breves anos ela desceria de novo à
carne, a fim de esperar Gregório em
existência de resgate difícil e doloroso.
Ela o educaria sob os princípios superiores
que regem a vida. Gregório cresceria sob
sua inspiração imediata, recebendo a prova
perigosa e aflitiva da riqueza material.
Era seu plano que ele acolhesse, no curso do
tempo, em labor gradativo, a extensa legião
de servidores viciados que hoje o seguiam e
a ele obedeciam, a fim de encaminhá-los
através do carreiro de santificação pela
disciplina benéfica em construtivo suor. Na
Terra, ele padeceria calúnias e vilipêndios.
Seria muita vez humilhado à face dos
homens. Triunfaria nos bens efêmeros e nas
honrarias do mundo. Receberia, no
desdobramento de suas tarefas salvadoras,
tentações de toda espécie, conhecendo,
depois, a deserção dos falsos amigos, o
abandono, a miséria, a doença, a velhice e a
solidão. "Apegar-se-á profundamente ao meu
carinho, na infância, na mocidade e na
madureza; entretanto, na colheita de
provações mais duras, tê-lo-ei precedido na
viagem do túmulo..." -- acentuou a venerável
mulher. Para que o plano desse certo,
Matilde prometia trabalhar muito e sem
desânimo, movendo as cordas da intercessão
sublime, mobilizando amigos e rogando a
Jesus fortaleza e serenidade. (Cap. III, pp.
47 a 49)
(Continua no próximo número.)