JOSÉ
CARLOS
MONTEIRO
DE MOURA
jcarlosmoura@terra.com.br
Belo
Horizonte,
Minas
Gerais
(Brasil)
Ética na
comunicação
social
“Linguagem sã e
irrepreensível para que
o adversário se
envergonhe, não tendo
nenhum mal que dizer de
nós” – Paulo: Tito,
2: 8.
“A maior caridade que
praticamos com a
Doutrina Espírita é a
sua própria divulgação”
– Emmanuel.
1.
A ética ou moral
constitui a chamada
“filosofia do agir”, de
cunho eminentemente
prático, e visa alcançar
o bem puro e simples do
homem, segundo o
conceito desenvolvido
por Jacques Maritain (INTRODUÇÃO
GERAL À FILOSOFIA,
Ed. Agir, Rio de
Janeiro, 1953, p. 151).
Dentro dessa idéia
geral, ela se volta
muito mais para o homem,
no particular aspecto de
sua bondade ou
perfeição, em face de
sua capacidade de
exercitar o
livre-arbítrio. As obras
preparadas e produzidas
por ele somente a
interessam desde que se
mostrem reveladoras do
seu “agir”, entendido
como o “livre uso de
nossas
faculdades” (op. cit.
p. 151). Daí a razão por
que se diz que a Ética é
a Filosofia Prática por
excelência.
2.
As normas morais não se
impõem coercitivamente
ao homem, ao contrário
do que se verifica no
âmbito do Direito. As
sanções decorrentes de
suas violações se
apresentam como o efeito
inevitável da reação da
consciência de cada um
diante do mal provocado,
sendo irrelevante o fato
de a justiça terrena não
se pronunciar a
respeito.
Em relação a elas é
inteiramente pertinente
a recomendação de Paulo
na primeira carta aos
Coríntios: “Todas as
coisas me são lícitas,
mas nem todas as coisas
convêm. Todas as coisas
me são lícitas, mas eu
não me deixarei
dominar por nenhuma”
(I Cor., 6:12).
Daí se percebe a grande
distância que ainda
existe entre os campos
da moral e
do direito, de que os
romanos já davam notícia
no famoso aforismo:
“Non omne quod licet
honestum est”
(nem tudo o que é lícito
é honesto).
3.
Todas as atividades
humanas sujeitam-se aos
dois ordenamentos
legais: o ético e o
jurídico. As situações
que se acham
expressamente
disciplinadas pelos
chamados Códigos de
Ética – destinados
especificamente a
profissionais de
determinadas áreas –
interessam mais ao
Direito do que à Ética
propriamente dita,
porquanto cuidam de
estabelecer normas
reguladoras do exercício
da profissão e de
definir as infrações
cometidas por esses
profissionais,
cominando-lhes as
sanções respectivas.
Algumas são de tamanha
gravidade que se
transformam em objeto de
tratamento
jurídico-penal, a
exemplo do que ocorre
nas hipóteses delituosas
contidas na Lei
5.250/67, que regula a
liberdade de
manifestação do
pensamento e de
informação (Lei de
Imprensa).
4.
Tais considerações se
aplicam a todos os que
trabalham na área da
comunicação, seja como
profissionais, seja como
simples colaboradores
eventuais. Delas não
escapam, portanto, os
que se encontram de
alguma forma
comprometidos com a
divulgação da Doutrina
dos Espíritos, sobre os
quais, inclusive, recai
uma enorme
responsabilidade.
Enquanto que aos que se
dedicam à comunicação em
sentido genérico basta,
na grande maioria das
vezes, o acomodamento à
licitude formal de suas
ações, sem maiores
preocupações com o seu
aspecto. Ao comunicador
espírita isso não é
suficiente. A
advertência de Paulo
haverá de estar sempre à
frente de todas as suas
atividades,
lembrando-lhe que nem
sempre a atitude
permitida pela lei dos
homens está
convenientemente
adequada aos propósitos
superiores do
Espiritismo.
5.
As polêmicas de cunho
doutrinário, que já se
tornaram um lugar comum
em alguns órgãos da
imprensa espírita, e que
hoje ganham força e
alcance desmedidos
através da Internet,
afrontam violentamente
os postulados da
verdadeira ética. Nenhum
benefício trazem para o
Espiritismo e, como
ações reveladoras do
“agir” de seus autores,
demonstram que eles
permanecem estacionados
naquela situação
mencionada por Kardec em
O LIVRO DOS MÉDIUNS,
quando se referiu à
pouca compreensão, por
um grande número de
adeptos, da verdadeira
essência da Doutrina,
indispensável à criação
de um “laço
forte” que prenda
entre si todos os seus
trabalhadores (op. cit.
item 334, p. 430). Isso,
contudo, não significa a
proibição ou a censura
às discussões sérias a
respeito de alguns temas
modernos, e que não
podem ser desconhecidos
ou omitidos pelos
espíritas, como é o
caso, por exemplo, da
questão relativa às
pesquisas com embriões
vivos, do aborto, da
eutanásia e do
reconhecimento oficial
das chamadas uniões homo
afetivas, que, no nosso
modo de ver, são
inteiramente
incompatíveis com o
Espiritismo.
Referidas polêmicas
acabam, seguindo a linha
natural de episódios
desta natureza, por se
transformarem em um
instrumento de agressões
recíprocas. Por outro
lado, não conseguem
esconder que se prestam
muito mais ao
indesejável
extravasamento do
orgulho e vaidade de
seus participantes do
que à divulgação do
Espiritismo.
Os meios de comunicação
espírita não podem ser
reduzidos à condição de
arena dos conflitos
pessoais, ainda mesmo
quando tais contendas
venham mascaradas de uma
postura de intransigente
defesa dos postulados
kardequianos. Os que
agem dessa forma, não
obstante a boa intenção
que os move, esquecem-se
de que o Codificador
sempre recomendou a
tolerância em face de
opiniões e conceitos
divergentes. A sua
divisa – trabalho,
tolerância,
solidariedade – se
encontra presente em
todas as suas ações e
pronunciamentos, dentre
os quais merece
especial destaque o
constante de A
Constituição do
Espiritismo, in
verbis:
“Se tenho
razão, todos acabarão
por pensar como
eu; se estou em erro,
acabarei por pensar como
os outros”.
(OBRAS PÓSTUMAS,
p. 349 ).
6.
Compete, pois, a todos
quantos se acham
comprometidos com a
Comunicação Social
Espírita, a consciente
utilização dos recursos
que a tecnologia
oferece, a fim de
colocar o Espiritismo a
serviço de toda a
humanidade, como
doutrina de consolação e
esperança. O emprego
desses recursos, ainda
que bem-intencionado,
para criar, alimentar ou
fomentar disputas de
conteúdo doutrinário,
implica um indisfarçável
desserviço à Doutrina,
mesmo porque torna
público o que deveria
permanecer limitado aos
recintos internos das
instituições espíritas.
As divergências, que
porventura existam entre
os seus adeptos, deverão
ser resolvidas em torno
do diálogo e da
compreensão. Diante das
incongruências de Pedro,
das pretensões
descabidas de João e
André, da incredulidade
de Tomé ou da aleivosia
de Judas, Jesus não se
utilizou das armas do
revide, não discutiu com
eles, nem se pôs a
alardear publicamente os
seus defeitos. Em seus
sermões – que era o meio
de comunicação com as
massas de que dispunha –
jamais tornou públicos
esses procedimentos e
atitudes, embora tenha
corrigido, até com
severidade, os seus
autores, como no
episódio em que Pedro
demonstrou seu
inconformismo e
incompreensão em face da
missão do Mestre: “Ele,
porém, voltando-se,
disse a Pedro: Para trás
de mim, Satanás, que me
serves de escândalo;
porque não compreendes
as coisas que são de
Deus, mas só as que são
dos homens” (Mat.,
16: 23).
7.
O maior desafio da área
da Comunicação Social
Espírita diz respeito à
imperiosa exigência de
se fazer com que o bom
senso esteja presente em
todas as suas
atividades. No seu caso
específico, ética e bom
senso se identificam e
daí resultam alguns
parâmetros dentro dos
quais suas ações devem
desenvolver-se.
Divulgar, sem polemizar.
Manter-se fiel aos
princípios doutrinários,
sem permitir que isso se
transforme em pretexto
para disputas pessoais.
Reconhecer, na
nobilitante tarefa de
levar o Espiritismo ao
alcance de um maior
número de pessoas, uma
oportunidade de resgate
pessoal e não um favor
que se presta aos
destinatários das
informações.
Nunca omitir que, por
maior que seja o grau de
conhecimento doutrinário
atingido, ninguém pode,
em face da própria
indigência espiritual de
toda a humanidade,
arvorar-se na condição
de Mestre.
Jamais se deixar
envolver pelo
sensacionalismo, pela
ânsia do furo de
reportagem, pela
divulgação, em primeira
mão, da novidade, uma
vez que, a esse
respeito, Kardec foi
incisivo ao afirmar: “Se
é certo que a
utopia da véspera se
torna muitas
vezes a verdade do dia
seguinte, deixemos que o
dia seguinte realize a
utopia da véspera, porém
não atravanquemos a
Doutrina de princípios
que possam ser
considerados quiméricos
e fazer que a repilam os
homens positivos” (A
Constituição do
Espiritismo, OBRAS
PÓSTUMAS, p. 348).
Finalmente, ter sempre
em mente que, embora o
escândalo se faça muitas
vezes necessário, o
responsável por sua
causação não se exime de
sofrer as sérias
consequências
decorrentes da
inexorável lei de causa
e efeito.