Aos meus amigos da Terra
Emílio de Menezes
Amigos, tolerai o meu
assunto,
(Sempre vivi do
sofrimento alheio)
Relevai, que as
promessas de um defunto
São coisa inda invulgar
no vosso meio.
Apesar do meu cérebro
bestunto,
O elo que nos unia,
conservei-o,
Como a quase saudade do
presunto,
Que nutre um corpo
empanturrado e feio.
Espero-vos aqui com as
minhas festas,
Nas quais, porém, o
vinho não explode,
Nem há cheiro de carnes
ou cebolas.
Evitai as comidas
indigestas,
Pois na hora do
“salva-se quem pode”,
Muita gente nem fica de
ceroulas...
Poeta brasileiro,
nascido em Curitiba em
1866 e desencarnado no
Rio de Janeiro em 1918,
Emílio de Menezes
legou-nos Poemas da
Morte, 1901, e
Poesias, 1909, além
de Mortalhas,
versos satíricos
postumamente
colecionados.
Distinguiu-se pela
altaneza dos temas,
quanto pela opulência
das rimas. O soneto
acima faz parte do livro
Parnaso de
Além-Túmulo,
psicografado por
Francisco Cândido
Xavier.