MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Libertação
André Luiz
(8a
Parte)
Damos continuidade ao estudo da obra
Libertação,
de André Luiz, psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier e
publicada em 1949 pela Federação Espírita
Brasileira.
Questões
preliminares
A. Na seleção que precedia o julgamento dos
culpados, qual era o critério?
R.: "A operação seletiva realiza-se com base
nas irradiações de cada um", explicou o
Instrutor Gúbio. "Os guardas que vemos em
trabalho de escolha, compondo grupos
diversos, são técnicos especializados na
identificação de males numerosos, através
das cores que caracterizam o halo dos
Espíritos ignorantes, perversos e
desequilibrados." (Libertação, cap. V,
pp. 65 e 66.)
B. Que tipo de discurso foi ouvido pelos
Espíritos nos instantes que precederam seu
julgamento?
R.: As palavras do juiz naquele dia foram
enfáticas: "Nem lágrimas, nem lamentos. Nem
sentença condenatória, nem absolvição
gratuita. Esta casa não pune, nem
recompensa. A morte é caminho para a
justiça. Escusado qualquer recurso à
compaixão, entre criminosos. Não somos
distribuidores de sofrimento, e, sim,
mordomos do Governo do Mundo. Nossa função é
a de selecionar delinquentes, a fim de que
as penas lavradas pela vontade de cada um
sejam devidamente aplicadas em lugar e tempo
justos. Quem abriu a boca para vilipendiar e
ferir, prepare-se a receber, de retorno, as
forças tremendas que desencadeou através da
palavra envenenada. Quem abrigou a calúnia,
suportará os gênios infelizes aos quais
confiou os ouvidos..." O discurso foi todo
nesse tom, mostrando que a consequência do
mal é sempre o mal, sem nenhuma complacência
ou esperança de melhora. "Seguidores do
vício e do crime, tremei!", eis uma das
frases proferidas pelo orador. (Obra
citada, cap. V, pp. 68 a 70.)
C. Como se dá o fenômeno chamado
licantropia?
R.: Conforme o relato de André Luiz, o juiz
determinou que uma determinada pessoa se
aproximasse. Depois, incidindo toda a força
magnética que lhe era peculiar, através das
mãos, sobre ela, ordenou-lhe que
confessasse. A mulher, batendo no peito e
pedindo perdão a Deus, em desespero, falou
em voz alta e pausada: "Matei quatro
filhinhos inocentes e tenros... e combinei o
assassínio de meu intolerável esposo... O
crime, porém, é um monstro vivo.
Perseguiu-me, enquanto me demorei no
corpo... Tentei fugir-lhe através de todos
os recursos, em vão... e por mais buscasse
afogar o infortúnio em bebidas de prazer,
mais me chafurdei... no charco de mim
mesma..." O juiz, então, diante daquele
quadro, considerou: "Como libertar
semelhante fera humana ao preço de
rogativas e lágrimas?" Em seguida, fixando
sobre ela as irradiações que lhe emanavam do
olhar, asseverou, peremptório: "A sentença
foi lavrada por si mesma! não passa de uma
loba, de uma loba, de uma loba..." A mulher,
à medida que o juiz repetia aquelas
palavras, foi modificando a expressão
fisionômica. A boca entortou-se, a cerviz
curvou-se para a frente, os olhos
alteraram-se; simiesca expressão
revestiu-lhe o rosto. Via-se patente o
efeito do hipnotismo sobre o perispírito.
Gúbio explicou: "O remorso é uma bênção,
sem dúvida, por levar-nos à corrigenda, mas
também é uma brecha, através da qual o
credor se insinua, cobrando pagamento".
Disse então que ali estava a gênese dos
fenômenos de licantropia, inextricáveis,
ainda, para a investigação dos médicos
encarnados. (Obra citada, cap. V, pp. 71
e 72.)
Texto para leitura
31. A
seleção
-
Na noite seguinte, Gúbio e seus amigos foram
conduzidos a um edifício de grandes e
curiosas proporções. O palácio tinha a forma
de enorme hexágono, alongando-se para cima
em torres pardacentas, e reunia muitos
salões consagrados a estranhos serviços.
Iluminado externa e internamente pela
claridade de tocheiros volumosos,
apresentava o aspecto de uma casa
incendiada. Levados por quatro guardas da
residência de Gregório, eles penetraram o
recinto de largas dimensões, no qual se
congregavam algumas dezenas de entidades em
deploráveis condições. Moços e velhos,
homens e mulheres ali se misturavam. Alguns
gemiam e choravam. Em sua quase totalidade,
eram almas doentes, que padeciam
desequilíbrios mentais visíveis. O
perispírito deles mostrava a mesma
opacidade do corpo físico. Os estigmas da
velhice, da moléstia e do desencanto ali
triunfavam, perfeitos... Medo e inquietação
transpareciam de todos os rostos.
Aproximava-se a hora da seleção, para
julgamento oportuno. Gúbio informou que eles
presenciavam ali uma cerimônia semanal dos
juizes implacáveis da cidade. "A operação
seletiva realiza-se com base nas
irradiações de cada um", explicou o
Instrutor. "Os guardas que vemos em
trabalho de escolha, compondo grupos
diversos, são técnicos especializados na
identificação de males numerosos, através
das cores que caracterizam o halo dos
Espíritos ignorantes, perversos e
desequilibrados", informou Gúbio,
acrescentando que a maioria das almas
asiladas naquele sítio vieram até ali,
obedecendo a forças de atração, incapazes
de perceber a presença dos benfeitores
espirituais que militam em todos os
lugares, na Crosta ou fora dela, porquanto
"cada mente vive na companhia que elege".
(Cap. V, pp. 65 e 66)
32. Os juizes - Tais
entidades, em vista do baixo teor vibratório
em que se precipitaram, através de delitos
reiterados, da ociosidade impenitente ou da
deliberada cristalização no erro, não
encontraram senão o manto de sombras em que
se envolveram e, desvairadas e sós,
procuraram as entidades desencarnadas que
com elas se afinam, agregando-se
naturalmente àquele imenso cortiço, com toda
a bagagem de paixões destruidoras que lhes
marcam a estrada. André disse não
compreender por que o Senhor conferia
atribuições de julgadores a Espíritos
despóticos, mas Gúbio prontamente
considerou: "Quem se atreveria a nomear um
anjo de amor para exercer o papel de
carrasco? Ao demais, como acontece na Crosta
Planetária, cada posição, além da morte, é
ocupada por aquele que a deseja e procura".
Entre as vítimas via-se que predominavam os
sentimentos de humildade e aflição, mas
entre as sentinelas a peçonha da ironia
transbordava. palavrões eram desferidos, a
esmo, e compacta multidão se amontoava,
irreverente, à frente da tribuna vazia e sob
as galerias laterais. Daí a pouco, uma voz
anunciou: "Os magistrados! os magistrados!
Lugar! lugar para os sacerdotes da justiça".
Na paisagem exterior, funcionários trajados
à moda dos lictores da Roma antiga,
carregando a simbólica machadinha ao ombro,
avançavam, ladeados por servidores que
portavam grandes tochas. Depois deles, sete
andores, sustentados por dignitários
diversos daquele corte, traziam os juizes,
esquisitamente ataviados. As poltronas
suspensas eram, em tudo, idênticas à sédia
gestatória das cerimônias papais. Os
julgadores desceram de seus tronos e
tomaram assento numa espécie de nicho a
salientar-se de cima, inspirando silêncio e
temor, porque a turba calou-se de súbito.
Tambores variados rufaram, e uma composição
musical semi-selvagem acompanhou-lhes o
ritmo. Terminado o ruído, um dos julgadores
se levantou e dirigiu-se à massa atenta e
ansiosa. (Cap. V, pp. 67 e 68)
33. O pavor domina as vítimas
- As palavras do juiz foram enfáticas: "Nem
lágrimas, nem lamentos. Nem sentença
condenatória, nem absolvição gratuita. Esta
casa não pune, nem recompensa. A morte é
caminho para a justiça. Escusado qualquer
recurso à compaixão, entre criminosos. Não
somos distribuidores de sofrimento, e, sim,
mordomos do Governo do Mundo. Nossa função é
a de selecionar delinquentes, a fim de que
as penas lavradas pela vontade de cada um
sejam devidamente aplicadas em lugar e tempo
justos. Quem abriu a boca para vilipendiar e
ferir, prepare-se a receber, de retorno, as
forças tremendas que desencadeou através da
palavra envenenada. Quem abrigou a calúnia,
suportará os gênios infelizes aos quais
confiou os ouvidos..." O discurso foi todo
nesse tom, mostrando que a consequência do
mal é sempre o mal, sem nenhuma complacência
ou esperança de melhora. "Seguidores do
vício e do crime, tremei!", eis uma das
frases proferidas pelo orador. Olhos
esgazeados pelo pavor jaziam abertos em
todas as fisionomias. O juiz não revelava o
menor resquício de misericórdia.
Mostrava-se, na verdade, interessado em
criar ambiente negativo a qualquer espécie
de soerguimento moral, estabelecendo nos
ouvintes angustioso temor. Ele mostrava
conhecer as leis magnéticas e procurava
hipnotizar as vítimas, em sentido
destrutivo, não obstante usar a verdade
contundente. "Não vale acusar a edilidade
desta colônia -- prosseguiu ele, com voz
trovejante --, porque ninguém escapará aos
resultados das próprias obras, quanto o
fruto não foge às propriedades da árvore que
o produziu". Parecia que ele captava,
intuitivamente, a queixa mental dos
ouvintes; por isso, bradou, terrificante:
"Quem nos acusa de crueldade? Não será
benfeitor do espírito coletivo o homem que
se consagra à vigilância de uma
penitenciária? e quem sois vós, senão
rebotalho humano? Não viestes, até aqui,
conduzidos pelos próprios ídolos que
adorastes?" Nesse ponto, convulsivo choro
invadiu a muitos. Gritos atormentados,
rogativas de compaixão se fizeram ouvir.
Muitos se ajoelharam. Imensa dor se
generalizara e até André, lembrando-se dos
velhos caminhos da ilusão, ajoelhou-se
também, compungido, implorando piedade em
silêncio. (Cap. V, pp. 68 a 70)
34. Licantropia - Diante das
rogativas de compaixão, o julgador bradou,
colérico: "Perdão? Quando desculpastes
sinceramente os companheiros da estrada?
onde está o juiz reto que possa exercer,
impune, a misericórdia?" E, incidindo toda
a força magnética que lhe era peculiar,
através das mãos, sobre uma pobre mulher que
o fixava, estarrecida, ordenou-lhe que fosse
até ele. "Confesse! confesse!", determinou o
juiz. A desventurada mulher, batendo no
peito e pedindo perdão a Deus, em desespero,
falou em voz alta e pausada: "Matei quatro
filhinhos inocentes e tenros... e combinei o
assassínio de meu intolerável esposo... O
crime, porém, é um monstro vivo.
Perseguiu-me, enquanto me demorei no
corpo... Tentei fugir-lhe através de todos
os recursos, em vão... e por mais buscasse
afogar o infortúnio em bebidas de prazer,
mais me chafurdei... no charco de mim
mesma..." De repente, contudo, parecendo
sofrer a interferência de lembranças menos
dignas, clamou: "Quero vinho! vinho!
prazer!..." O juiz, então, diante daquele
quadro, considerou: "Como libertar
semelhante fera humana ao preço de
rogativas e lágrimas?" Em seguida, fixando
sobre ela as irradiações que lhe emanavam do
olhar, asseverou, peremptório: "A sentença
foi lavrada por si mesma! não passa de uma
loba, de uma loba, de uma loba..." A
mulher, à medida que o juiz repetia aquelas
palavras, foi modificando a expressão
fisionômica. A boca entortou-se, a cerviz
curvou-se para a frente, os olhos
alteraram-se; simiesca expressão
revestiu-lhe o rosto. Via-se patente o
efeito do hipnotismo sobre o perispírito.
Gúbio explicou: "O remorso é uma bênção,
sem dúvida, por levar-nos à corrigenda, mas
também é uma brecha, através da qual o
credor se insinua, cobrando pagamento".
Disse então que ali estava a gênese dos
fenômenos de licantropia, inextricáveis,
ainda, para a investigação dos médicos
encarnados. "O hipnotismo é tão velho quanto
o mundo e é recurso empregado pelos bons e
pelos maus, tomando-se por base, acima de
tudo, os elementos plásticos do perispírito",
concluiu o Instrutor. (Cap. V, pp. 71 e 72)
(Continua no próximo número.)