EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Educar-se é
preciso
A educação do
Espírito deve
ser baseada na
pedagogia do
amor,
libertadora,
segundo uma
moralidade
consciencial
reativada no
coração, para
que floresça
nele um
comportamento
ético, apto a
estimulá-lo para
viver sua
realidade, sua
história,
simplificando
seu pensamento
canalizado para
as vibrações da
paz, do bem e do
belo.
Platão já
sugeria que o
verdadeiro
caminho de
formação
espiritual
consistia em se
tornar o mais
possível
semelhante a
Deus. E tal
semelhança é
possível ao
homem caso viva
em grau máximo
de justiça,
bondade e
sabedoria.
Em As Leis,
Platão afirma
que “Deus é a
medida de todas
as coisas e não
o homem” (Cf.
As Leis,
716c). Em O
Banquete,
explica o tema
da imitação de
Deus como ideal
filosófico e da
vida virtuosa.
Em A
República,
Platão
desenvolve a
concepção de que
a educação
deverá
desempenhar a
função de
auxiliar o
indivíduo a amar
a Deus,
tornar-se
semelhante a
Ele, na medida
das
possibilidades
humanas.
Desse modo, já
em Platão
desponta a
relevância da
educação, pois
como formula o
humano como um
ser sedento de
infinito e
aberto ao
inteligível,
assemelhar-se a
Deus sugere,
como uma das
metas principais
da vida, o
domínio das
paixões
negativas
presentes na
sombra
individual.
Na visão
platônica, o
homem que não
supera seus
desejos
irascíveis, suas
paixões
negativas, passa
a viver como um
imprudente e um
alienado,
minguado em sua
vontade,
possuído pelas
ilusões e afetos
desordenados,
pondo em risco a
sua liberdade.
A paideia
proposta por
Platão está
exposta no
mito da caverna
(Cf. A
República,
Livro VII), na
qual a educação
se revela como
conversão, que,
“no seu sentido
original, é uma
mudança de vida
e de
mentalidade. Mas
a conversão
quanto à
educação não se
dá de um dia
para noite. Ela
é consequência
de longos anos
de esforço e
perseverança
constante” (1).
O processo
educativo, pois,
tem início
dentro da
caverna, no
campo do ego,
porém sua meta é
mais ampla, é
conduzir o
prisioneiro a
sair dela, é
livrá-lo do
estado de
alienação a fim
de que ele possa
contemplar a luz
do sol (a luz da
ideia do Bem).
Nesse rastro, a
educação é
justamente uma
construção que
impele o homem a
galgar degraus
sempre mais
altos, embora,
por meio dessa
metáfora, Platão
revele que não
existe educação
sem desafios,
sem sacrifícios
ou imune a
momentos de
crises e
incertezas.
Jung se reúne a
Platão, pois
para ambos a
educação está
ligada ao
desenvolvimento
de um trabalho
interior à
própria alma. E
na passagem das
trevas da
ignorância para
a luz (a luz da
ideia do Bem
para Platão ou o
Self para Jung),
realizada pela
desinstalação
dos velhos
hábitos e
condicionamentos,
o prisioneiro,
em direção à
liberdade,
orienta-se pela
longa conquista
da condição de
quem aprende a
distinguir o
ser do
parecer.
Desse modo, ele
pode, “exilado
em seu próprio
país de origem”,
como nos conta
Gerárd Lebrun
(Cf. “Surhomme
et homme total”),
realizar a
metanoia
(*), a mudança
radical de
mentalidade e de
vida.
Platão e Jung
fazem ecoar
novamente a
frase do templo
de Delfos:
conhece-te a ti
mesmo. Desse
modo, construir
no homem o
homem
diferenciado
implica investir
energias na
própria educação
para que seja
dilatada a
percepção do
si-mesmo
(Self) para a
verdade que
esclarece e
liberta, pois
educar-se é
cuidar de si
mesmo e cuidar
de si mesmo é
zelar pelo
cuidado com a
própria alma,
tal como dizia
Sócrates, o
mestre de
Platão.
Na Apologia,
Sócrates avisa:
“Uma vida sem
reflexão não
merece ser
vivida”. Com
isso, ele
inaugura um
motivo condutor,
que é, ao mesmo
tempo, um
necessário
desafio: a
auto-educação.
Referências:
(1)Teixeira,
Evilázio F.
Borges. A
educação do
homem segundo
Platão. SP:
Paulus, 1999, p.
66.
(*) Metanoia
é uma palavra
grega que, em
sua origem,
significa
mudança de mente.