LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
O caráter
sagrado da
palavra de
Jesus
“As palavras que eu vos
disse são espírito e
vida.” –
Jesus (João, 6:63.)
Nunca é demasiado
comentarmos a
importância e o caráter
sagrado da palavra. Em
cada época e em todos os
lugares, surgem no mundo
grandes Espíritos que
manejam a palavra que
impressiona multidões.
Não falamos apenas de
discursos que, muitas
vezes, enganaram e
enganam indivíduos e até
nações com promessas
vãs, com teorias falsas
que encontram
identificações em mentes
sintonizadas com essas
ilusões, ou ainda
discursos que prometem
liberdade sem obrigações
e, portanto, sem
responsabilidades.
Não nos referimos apenas
ao discurso falado, mas
também à palavra
escrita. Homens
existiram e ainda
existem que, através de
seus pensamentos
expressos em palavras,
exaltam uma época, uma
nação, ou ainda narram
as experiências de um
povo através de suas
transformações sociais.
Cada um desses homens
falou sempre para um
tempo determinado, para
um povo determinado, ou
mesmo para alguns povos.
Mas esse tempo passa e,
na maioria das vezes, as
palavras se perdem ou
são deturpadas; os povos
se renovam e as novas
experiências que são
vividas tornam as
anteriores
ultrapassadas. Para
termos uma ideia desse
processo de
transformação, lembremos
as mudanças tecnológicas
que vivenciamos no
passado e as de agora.
As máquinas de um ano
atrás já são obsoletas
hoje. Assim, qualquer
narrativa que exalte as
descobertas de ontem
servirá para sabermos
como foi nosso passado,
como tudo se iniciou,
mas não serve para
atender nossas
necessidades de agora.
No entanto, as palavras
de Jesus transcendem
tudo que seja tempo ou
espaço. Vão além de
qualquer obra literária
ou artística que exalte
as belezas de uma época
ou de um povo.
Ultrapassam plataformas
políticas ou verdades
filosóficas, frutos
sempre da mente humana
e, portanto,
imperfeitas. As palavras
do Mestre dirigem-se a
todas as criaturas da
Terra, no momento exato,
estejam elas neste ou
naquele campo evolutivo.
Pelo caráter universal
que elas possuem é que a
Doutrina Espírita as
reflete, porque são
verdadeiras em qualquer
lugar e em qualquer
tempo. O Espiritismo não
observa os ensinamentos
de Jesus porque deseja
uma reforma superficial
como muitos movimentos
religiosos o fazem, com
vistas a simples
mudanças exteriores. Ao
Espiritismo não basta
desmontar uma casa e,
usando o mesmo material,
modificar-lhe as
disposições, dando-lhe
nova fachada. A Doutrina
propõe algo muito maior,
mais profundo.
Propõe-nos não somente
desmontar a casa das
nossas falsas crenças e
medos, mas também trocar
o material da construção
e criar novas formas.
E de que maneira podemos
fazer isso sem ficarmos
ao relento, já que ainda
necessitamos de apoios?
Acreditamos poder
responder levando a
questão para dentro de
nossa casa, no nosso
trabalho doméstico ou
profissional. Quando nos
propomos a fazer faxina
nos nossos armários ou
nas nossas mesas, não
podemos tirar tudo, de
uma só vez, para depois
tentar organizar,
recolocando nos melhores
lugares. Sabemos que o
caos se instalaria.
O que fazemos, então?
Limpamos um lugar de
cada vez. Jogamos fora o
que não nos interessa
mais, reformamos outras
que ainda poderão nos
ser úteis, mas,
principalmente, limpamos
o lugar para que possa
receber coisas novas que
estavam guardadas, pois
nossas gavetas estavam
tão lotadas de coisas
inúteis – seja por medo
de jogar fora ou porque
não nos havíamos
percebido de sua
inutilidade – que não
havia lugar para mais
nada.
Assim é com nossa mente,
quando pensamos em
renovação, em
transformação. Estamos
recebendo novos
ensinamentos –
princípios espíritas –
que constituem um
sistema renovador a nos
indicar o caminho
correto. É um roteiro de
ação, de diretriz no
aperfeiçoamento de cada
um. Na verdade, o novo
material de construção
está chegando; são os
novos objetos que irão a
seu tempo para as
gavetas. Só que, antes
de usá-los, temos que
limpar os espaços onde
eles ficarão.
Quando recebemos os
ensinamentos que Jesus
nos oferece através do
Espiritismo, na maioria
das vezes, nos colocamos
diante deles como se
fosse um espetáculo de
beleza: ou choramos,
porque nutrimos apenas a
fonte de nossa
emotividade, ou nos
penitenciamos, nos
sentindo culpados diante
de nossos próprios
erros. Porém, é preciso
ir além das lágrimas e
das culpas. É
imprescindível que
aprendamos, diante dos
ensinamentos do Divino
Amigo, a pensar sobre
eles, a nos
purificar na prática
deles, a nos
reerguer, entendendo
que somos todos
aprendizes do Seu
Evangelho; mas,
sobretudo, que
aprendamos a servir ao
próximo, esteja ele
dentro dos nossos lares,
no trabalho, nos
transportes coletivos,
nas filas de espera.
Isto não importa. O que
importa é vivenciar os
ensinamentos que Jesus
nos deixou.
Quando temos sede ou
fome, buscamos saná-las
na fonte material.
Quando adoecemos,
buscamos a cura da
moléstia através de
remédios específicos.
Assim também acontece
com as necessidades da
nossa alma, com os
nossos desequilíbrios
morais. Tanto a
necessidade física
quanto a espiritual não
são diferentes em parte
alguma e em tempo algum.
Sempre existiram porque
o Espírito é imortal.
A lição do Cristo para
todos nós, quando diz
que suas palavras são o
espírito e a vida, isto
é, a água e o pão da
alma, é comparável à
fonte que mata a sede e
ao pão que alimenta o
corpo. As palavras do
Divino Amigo são o fator
equilibrante de nossos
desajustes morais e o
medicamento para nossa
alma ferida. Por isso
Seus ensinos não se
perdem no tempo nem no
espaço. Em qualquer
lugar, onde haja um
coração aflito e uma
mente em desarmonia, as
lições de Jesus ali
estarão. Como o pão,
como a água e como o
remédio, elas são
fundamentais à vida.
Prestemos atenção,
portanto, quando
lidarmos com as palavras
benditas que Ele nos
deixou, seja em relação
a nós próprios, seja em
relação aos outros.
Viciamos nossos corpos
como viciamos nossas
almas e, muitas vezes,
fazemos isso com as
pessoas que nos cercam.
Quantos trocam a água
pura pelas bebidas
excitantes e quantos
preferem lidar com a
ilusão perniciosa em se
tratando dos problemas
espirituais. O alimento
do coração, para ser
efetivo na vida eterna,
baseia-se na realidade
simples e não nos
deslumbramentos da
fantasia que procede do
exterior.
Cheio de abnegação e
amor, Jesus sabe
alimentar todos os
homens. Fiquemos, pois
com Ele.
EMMANUEL
(Espírito). Palavras
de Vida Eterna, 20
ed., [psicografado por]
Francisco Cândido Xavier
– EDIÇÃO CEC,
Uberaba/MG, 1995, lição
118.