MARCUS
VINICIUS DE AZEVEDO
BRAGA
acervobraga@gmail.com
Guará II, Distrito
Federal (Brasil)
Crônicas de Natal
A vela
Na vila da amendoeira ,
morada de antigas
famílias de estivadores,
todos se uniram para
decorar a rua para os
festejos natalinos.
Iluminação nas árvores,
a efígie de Papai Noel
nas portas e enfeites
luminosos no portão.
Como em tempos de Copa
do Mundo, uma velada
competição pela casa
mais decorada se instala
e idas seguidas ao
comércio suprem os
arroubos dos moradores
na busca de fazer da sua
fachada a mais bela.
Alguns falam até da
distribuição de prêmios.
Dona Felisberta,
entretanto, cujo filho
havia chegado de uma
viagem a serviço no
exterior, recebera de
presente deste uma
robusta e enfeitada vela
natalina. Felisberta
exibiu seu presente
“king size”,
instalando-o defronte de
uma de suas janelas, de
modo que todos os
vizinhos e transeuntes
pudessem ver da rua o
seu enfeite. Fez a vela
se acompanhar de uma
plêiade de velas
menores, formando um
verdadeiro castiçal
natalino.
Os vizinhos incomodados
saíram ávidos pelo
comércio, buscando na
internet, importadoras e
até na fábrica de velas
da cidade vizinha um
artefato que pudesse
fazer frente ao aparato
de Dona Felisberta. Com
arranjos e combinações
diversas, incluindo até
acendimento elétrico,
conjuntos de velas se
instalaram nas
residências daquela
vila.
Max, cabo do corpo de
bombeiros, proibiu a sua
esposa de tal
extravagância, por
motivos de segurança.
Esta, aproveitando-se do
fato de que este
trabalharia na véspera
de Natal, também montou
em sigilo o seu
lampadário de Natal.
Na véspera de Natal,
todos acenderam as suas
velas e já próximo da
meia-noite, em caravana,
seguia de casa em casa
um séquito de aldeões
observando e tecendo
comentários sobre os
arranjos de velas,
estabelecendo um
ranking mental que
foi se tornando cada vez
mais ostensivo.
Na casa de Dona
Felisberta foi a
culminância da
procissão. Todos se
acotovelaram na pequena
morada para ver a vela
trazida do estrangeiro.
Na confusão daquele
grupo de pessoas em tão
humilde e reduzido lar,
uma das pessoas esbarra
em uma vela, que em um
efeito dominó faz
daquele adereço natalino
um imenso incêndio de
volumosos labaredas,
alimentado pela árvore
de Natal, presentes e
demais inflamáveis.
A correria é geral. Água
para cá, extintor para
lá e somente com a
chegada do Corpo de
Bombeiros, tendo à
frente o cabo Max, que
o fogo se extingue sem
vítimas, ainda que
deixasse de herança um
grande prejuízo...
Entre prantos e
correrias terminou a
noite de Natal, em que a
fraternidade dos
vizinhos acolheu Dona
Felisberta e sua
família, para aproveitar
um pouco do Natal
iluminado pelas velas,
que já estavam no seu
final.