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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 97 - 8 de Março de 2009

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)

 

Conhece-te a ti mesmo

"O conhecimento de si mesmo é a chave do progresso individual."
(Santo Agostinho) (1)


Na questão do autojulgamento, costumamos ser muito benevolentes e parciais, vez que ainda trazemos "uma trave" nos olhos. Por não desconhecer essa ancestral tendência humana, Santo Agostinho pergunta e ao mesmo tempo desenvolve uma esclarecedora resposta (1):  

"Como alguém há de julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos: Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na podereis ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de Sua justiça. Procurai também saber o que dela pensam os vossos semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a Verdade e Deus muitas vezes os coloca ao vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo; perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas; dê balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Formulai, de vós para convosco, questões nítidas e precisas e não temais multiplicá-las. Justo é que se gastem alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice? Que é esse descanso de alguns dias em comparação com o que espera o homem de bem? Não valerá este outro a pena de alguns esforços?" 

Allan Kardec, complementando estas ilações de Santo Agostinho, afirma (1):  

"Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, efetivamente, seguindo o conselho de Stº. Agostinho, interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza e o móvel de nossos atos. 

A forma interrogativa tem alguma coisa de mais preciso do que qualquer máxima, que muitas vezes deixamos de aplicar a nós mesmos. Aquela exige respostas categóricas, por um sim ou por um não, que não abrem lugar para qualquer alternativa. Pela soma que derem as respostas, poderemos computar a soma de bem ou de mal que existe em nós". 

Conhecendo de sobejo a economia espiritual de quantos ainda mourejamos nas veredas da regeneração, leciona Joanna de Ângelis (2): 

"Ocorrências imprevisíveis, sucessos, malogros, alta e queda de valores amoedados respondem pelo resultado da empresa ao fecharem-se as contas. O mesmo se dá com a economia moral, onde faz-se mister proceder-se a uma avaliação das conquistas realizadas durante a ocorrência de cada período, para bem aquilatar-se de como se vai e de como programar a nova etapa.    

Quem conhece Jesus é convidado a investir nos divinos cofres do amor as moedas que a sabedoria lhe faculta em forma de maior iluminação, pela renúncia, caridade, perdão e esperança. 

De tempos em tempos torna-se necessário um cotejo do que foi feito em relação ao programado, para medir-se o comportamento durante o trânsito dos compromissos. Constatada a presença de equívocos, disponhamo-nos a corrigi-los; identificados os êxitos, preparemo-nos para multiplicá-los; logrados os sucessos, apliquemo-los em favor do bem geral... 

Entanto, tenhamos coragem de realizar uma avaliação honesta, sem desculpas e sem excesso de intransigência. Espíritos em processo lapidador, ainda não nos libertamos da ganga que impede se reflita no íntimo o brilho do amor de Jesus. Proponhamo-nos à pausa da reflexão com a coragem de nos despirmos perante a consciência, como se a desencarnação nos houvesse surpreendido e nos não fosse possível omitir, escamotear ou fugir à responsabilidade que adquirimos perante a Vida face à dádiva da reencarnação. Experiência que passa enseja lição que permanece; e, de aprendizado em aprendizado, o relógio da Eternidade nos propiciará o crescimento rumo a Deus e à aquisição da virtude da paz".
 

Referências:

(1) Kardec, A.O Livro dos Espíritos, Questão 919-a.

(2) Joanna de Ângelis/Franco, Divaldo P., Alegria de Viver, Capítulo 8.                                    
 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita