CLÁUDIO PELLINI VARGAS
prof.pellini@yahoo.com.br
Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)
Educação
atemporal
“Eu não vim à
Terra para curar
os sãos.”
(Jesus)
Lembremo-nos dos
momentos em que
o Cristo se
apresentou para
aqueles irmãos,
muitos dos quais
perdidos nos
caminhos das
trevas, trazendo
sua compaixão
sem
sentimentalismo
exagerado, mas
sim com amor
puro e
compreensivo.
Mostrava desta
forma, a
necessidade de
nos atermos aos
potenciais dos
indivíduos e
não às falhas
alheias que,
costumeiramente,
surgem diante
dos nossos
olhos, muitas
vezes ainda pela
influência
invisível e
perniciosa dos
Espíritos menos
esclarecidos.
Suas palavras
são atemporais.
Em todas as
épocas, e
principalmente
agora, nas
dificuldades de
uma
contemporaneidade
múltipla de
significados, a
simplicidade de
todas as suas
formas
educativas
vigora e brilha
diante de todos
aqueles que se
propõem a
entendê-lo com
razão e
sensibilidade.
Em face de um
momento onde a
Ciência se
arvora a cada
dia, muitas
vezes
confundindo mais
do que
esclarecendo, o
seu sólido
exemplo
permanece
intacto, mesmo
que, por vezes,
esteja
lamentavelmente
esquecido pelo
homem (pós)
moderno. Em seus
poucos anos de
pregação, foi o
único capaz de
dividir o tempo
em antes
e depois
do próprio
nascimento. Foi
um homem que
viveu num mundo
sempre à frente
do próprio
mundo; e em
todos os
sentidos: na
conduta, nas
relações
pessoais, na
vestimenta, na
alimentação, na
educação. Assim
posto,
relembremos
adiante alguns
momentos
marcantes de
seus atos
educativos.
Na clássica
passagem de
Madalena, Jesus
reconheceu a
companheira de
trabalho
sofredora e
restabeleceu-lhe
a dignidade, ao
invés de
apegar-se aos
desvarios
comportamentais
que a
acompanhavam.
Identificou seus
erros, exercendo
o direito de
julgamento que
compete à razão,
mas não a
condenou.
Disse-lhe, com
firmeza e
doçura, para
prosseguir sem
pecar.
Com o amigo de
Cafarnaum, Simão
Pedro, que o
negou por três
vezes, o Mestre
reconheceu o
momento de medo,
angústia e
invigilância,
afirmando-lhe
que, na Terra,
os homens são
muito mais
frágeis do que
essencialmente
maus.
Apoiava-se,
assim, no
arrependimento
sincero do amigo
pescador. E
atribuindo-lhe a
credibilidade
que
verdadeiramente
merecia,
solidificou em
seu nome as
rochas que
trouxeram a base
do Cristianismo
nascente.
O Messias também
convocou para o
trabalho homens
como Zaqueu e
Levi, iluminando
suas mentes, sem
apontar a
ambição e a
avareza que
manchavam seus
perispíritos
apegados à
materialidade.
Tornava-os,
assim,
missionários da
luz e do
progresso,
aproveitando-se
de seus
talentos.
Ao lado do
centurião romano
que lhe buscou
humilde e
desesperadamente
a ajuda para o
filho, e que
carregava nos
próprios ombros
o peso de cruéis
martírios e
assassinatos, o
Cristo mostrava
que o poder da
fé simples e
profunda está
dentro de nós,
independente dos
próprios vícios.
No Getsêmani
(1),
uma série de
lições. O
querido
Nazareno,
prevendo as
chagas que lhe
alcançariam o
corpo, desde o
início, soube
compreender e
aguardar o
momento das
humilhações e
agressões sem
reagir e sequer
acusar seu
traidor. Mesmo
preso a pesadas
correntes, e sob
o açoite dos
infelizes, Jesus
ainda repreendeu
Simão pela
atitude
agressiva contra
os fariseus,
pois, no ímpeto
de defendê-lo,
agiu pelo
instinto e
decepou a orelha
de Malco, um
servo do sumo
sacerdote, que
compunha a
escolta covarde.
O Mestre, então,
apenas
cicatrizou-lhe a
chaga que
jorrava sangue,
mostrando a
todos o tamanho
de sua humildade
e de seu poder.
Ao mesmo tempo,
o Messias não
perdia de vista
o pérfido e
infeliz amigo,
Judas
Iscariotes, que
havia fraquejado
por simples
moedas e que, de
longe, tudo
observava,
atordoado. Ele
buscava-lhe o
olhar, em
silêncio, e
perdoava-o. E
mesmo durante os
momentos
derradeiros e
dolorosos da
crucificação,
enviava-lhe
amigos
espirituais em
seu resgate,
pois o amigo
adentrava as
sombras
umbralinas
através do
enforcamento
atroz e
pungente,
oriundo do
arrependimento
doloroso e
tardio pelo
gesto infeliz da
delação.
Mesmo depois da
morte física, o
Mentor amoroso
de nossas vidas
foi de encontro
ao cruel
perseguidor,
Saulo de Tarso,
clarificar sua
visão infame às
portas de
Damasco.
Olvidando seu
passado sombrio
de assassinatos
e atrocidades
contra os irmãos
queridos do
Caminho, fez
nascer Paulo, de
quem utilizou a
capacidade
intelectual,
retórica e
filosófica para
a maior
divulgação
evangélica
conhecida da
história Cristã.
Utilizou-se para
isso da própria
mediunidade de
Ananias, o bom
velhinho a quem
Saulo pretendia
matar.
Amigos leitores,
Jesus não cobrou
nada de seus
escolhidos, mas
alertou-os
constantemente.
Não se deteve no
passado sombrio
de nenhum de
seus irmãos, ao
contrário,
ajudou, amparou
e iluminou os
corações
daqueles que
estavam
desvirtuados do
caminho do bem,
enriquecendo-lhes
as existências e
trazendo a
oportunidade
imediata do
resgate e do
progresso.
Resguardemo-nos,
então, contra a
nossa própria
intolerância,
fazendo da
convivência uma
oportunidade de
crescimento
fraterno e
auxílio
constante. A
intransigência
pode estar
presente apenas
na defesa dos
ideais
superiores, no
sentido de
firmeza ou
austeridade de
caráter e força
interna.
Todavia, no que
tange às
diferenças
individuais, e,
principalmente,
diante do
surgimento da
discordância de
idéias com o
próximo (uma das
maiores
dificuldades do
movimento
espírita
contemporâneo),
não adotemos o
orgulho em
desvario que nos
transforma em
algozes da
exigência,
incapazes de
perceber as
limitações
alheias.
Apliquemos as
lições junto ao
próximo.
Busquemos
constantemente a
educação
atemporal de
Jesus, para que
a compreensão
definitiva da
eternidade
infunda-nos
energias
positivas, e
para que também
possamos estar
prontos para
auxiliarmos, sem
pieguismo, com a
nossa própria
compreensão.
Referências:
Sou Eu: A Paixão
do cristo na
visão dos
espíritos
– Amélia
Rodrigues,
psicografado por
Divaldo Franco –
Org. Álvaro
Chrispino,
Livraria
Espírita
Alvorada
Editora, 2006.
(1)
Getsêmani
é o nome de um
jardim em
Jerusalém
junto ao
Monte das
Oliveiras.
Foi o cenário no
qual ocorreu a
traição de
Judas.