JOSÉ CARLOS
MONTEIRO DE
MOURA
jcarlosmoura@terra.com.br
Belo Horizonte,
Minas Gerais
(Brasil)
O Chico e o
Velho Chico
Do alto da Serra da
Canastra até
Uberaba, em linha
reta, passando pelo
chapadão da Zagaia,
Desemboque e
Sacramento, não deve
haver mais do que
uns 150 quilômetros.
Essa é a distância
entre a nascente do
Velho Chico e o
local em que Chico
Xavier viveu a
partir de meados do
século passado.
Além dessa
proximidade
geográfica, existiu
entre os dois uma
profunda e
incontestável
proximidade de ordem
ética. Ambos
nasceram pequenos e
humildes, cresceram
no anonimato do
serviço constante e
desinteressado e se
destacaram aos olhos
de todos pela
grandeza de suas
missões!
O velho rio, que
inicia tímido e
frágil a sua
caminhada por entre
as árvores e
folhagens do Parque
Nacional da
Canastra, insiste
heroicamente em
vencer todos os
obstáculos que a sua
árdua jornada lhe
impõe,
representados, já
aos primeiros vinte
quilômetros de sua
existência, pela
cascata de Casca
d’Anta, e segue em
frente, levando vida
e sustentando vidas
de milhares de
ribeirinhos, até
desaguar 3.130
quilômetros adiante,
já no distante
estado das Alagoas.
Sofre, ao longo de
seu caminho, estoica
e resignadamente,
toda sorte de
agressões. O homem,
o seu maior
beneficiário, é
também seu maior
agressor. Suas águas
são poluídas, o seu
curso natural é
alterado, a sua
exploração
desordenada e
gananciosa se
revela, muitas
vezes,
ostensivamente
criminosa. Contudo,
a cada nova
violência, sempre
respondeu servindo
mais...
Indiferente e
tranquilo, ciente e
consciente do dever
cumprido e a ser
cumprido, prossegue
na sua trajetória,
unindo, sustentando,
levando alegria,
transmitindo
notícias,
impulsionando o
progresso na força
de suas corredeiras
e usinas,
transportando homens
e mercadorias,
ligando o Centro-sul
ao Nordeste do país.
Essa é a rotina
milenar do Velho
Chico: servir, sem
reclamar! A união de
grande área
territorial da
Pátria do Cruzeiro é
o objetivo final de
sua valorosa e
vitoriosa missão,
traduzida de forma
eloquente na
expressão que o
define tão bem: O
rio da
unidade nacional.
Não obstante todos
os percalços com que
se defronta, não
perde a sua
indiscutível beleza,
revelada no
verde-azul de suas
águas, reflexo da
grandeza típica dos
que não se exaltam e
sabem exercitar a
humildade em toda a
sua extensão.
Chico Xavier, ao
longo de sua quase
centenária
existência
missionária, seguiu
caminho semelhante.
Ainda criança,
enfrentou e venceu a
sua primeira cascata
– das muitas que a
vida lhe reservou –
quando se viu órfão
da mãe aos cinco
anos de idade. De
lá para cá, conviveu
com o sofrimento e
com a dor, com a
incompreensão e com
a calúnia, com o
desprezo e a
zombaria dos
sábios e prudentes.
Nunca os seus lábios
se abriram para uma
reclamação e jamais
as suas mãos se
ergueram para um
gesto de reprovação!
Nenhum obstáculo foi
capaz de impedir o
curso normal de sua
vida, cujo objetivo
final sempre foi
promover a união de
todos em face do
ensinamento maior
que Jesus nos legou
e que ele jamais se
cansou de observar:
“Amai-vos uns
aos outros como
eu vos amei”.
No deslizar dos
anos, por onde
viveu, por onde
passou, por onde
conduziu a palavra
da Espiritualidade
Maior a bordo
de sua mediunidade,
sempre levou a
esperança, o alento,
o conforto e a
alegria a todos os
desamparados,
sofredores,
angustiados ou
descrentes.
Restituiu a razão de
viver aos que se
achavam no terreno
árido e deserto das
desilusões e
sofrimentos, da
mesma forma que o
outro Chico renovou
e renova, a cada
ano, as esperanças
dos que dependem
dele para o sustento
próprio e de sua
família.
Jamais abandonou o
leito do
compromisso assumido
com Jesus e Kardec,
jamais deixou o
caminho do dever,
embora isso
implicasse, como de
fato implicou, o
sacrifício de sua
própria saúde.
Nunca se exaltou,
nunca se deixou
levar pelos
atrativos dos
títulos e honrarias
mundanas, pois que
ele próprio se
intitulava um
cisco ou uma
formiga...
Para servir e
ajudar, reconstruir
esperanças e
suavizar
sofrimentos, não
precisou de outro
atributo, titulação
ou qualificação, que
não fosse a sua
evangélica
humildade. O
testemunho de sua
vida foi, por isso
mesmo, o principal
recurso de que se
utilizou para
ensinar, a todos
que o procuraram, a
viver cristãmente.
Às críticas e
incompreensões,
calúnias, injúrias e
difamações sempre
respondeu, servindo
mais...!
O Velho Chico
representa e
significa a unidade
territorial. Chico
Xavier simbolizou e
ainda simboliza a
unidade espiritual.
O Velho Chico uniu
territórios,
culturas e hábitos
de lugares
diferentes. Chico
Xavier uniu corações
em torno de um ideal
maior: a
fraternidade e a
solidariedade entre
os homens!
O Velho Chico, na
sua descida para o
mar, que se repete a
cada segundo, a cada
minuto, a cada hora,
vai levando a
esperança de dias
melhores para a
sofrida população
dos lugares por onde
passa.
Chico Xavier, na sua
ascensão para os
planos espirituais
mais elevados, que
se renovou a cada
segundo, a cada
minuto e a cada hora
na vivência
autêntica dos
legítimos postulados
cristãos, foi
deixando entre os
desvalidos da sorte,
entre os sofredores
e entre nós – os
trabalhadores de
última hora – a
certeza de uma
humanidade melhor,
de uma vida futura
caracterizada pela
superação do egoísmo
e do orgulho, de um
planeta regenerado
pela lei irrevogável
do amor, e, o que é
mais grave e
importante, a
certeza da
imortalidade do
Espírito e de sua
destinação superior,
nos termos do
chamamento
imperativo feito por
Jesus à unanimidade
dos habitantes do
orbe: “Sede,
vós, pois, vós
outros, perfeitos,
como perfeito é
o vosso Pai
celestial”.
O Velho Chico
é a força propulsora
do progresso
material. Chico
Xavier foi e é a
força propulsora do
progresso
espiritual.