EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
E
por que sim?
A única coisa
que não se pode
tirar de nós é
aquilo que
doamos
(Jean-Yves
Leloup).
Apenas o amor
pode auxiliar a
amar melhor a
pessoa com que
se vive.
Idealizamos
certo tipo de
homem ou certo
tipo de mulher e
esta imagem
debilita a
aceitação da
pessoa que está
à nossa frente,
pois o
significado
valioso do
encontro emerge
também da
compreensão
relativa às
imperfeições (de
si mesmo e do
outro) de onde
pode nascer uma
relação que
caminhe em
direção ao amor
real.
Recebo, com
frequência,
relatos de
pessoas que
dizem ter um
relacionamento
duradouro, mas
se afirmam
infelizes pelo
desagradável
revelado durante
a convivência e
pela sensação de
que deixaram de
progredir como
pessoas e, por
isso, sentem-se
como “indivíduos
sem
pensamentos”.
Amar envolve
amar-se, penso.
Assim, amar é
ser generoso
consigo mesmo e
com o outro e,
por isso, não
deixar de cuidar
de si, não
abdicar dos
próprios dons e
necessidades de
trabalho com a
própria alma,
motivando o
outro também a
desenvolver-se
para ser feliz.
Do contrário,
será um amor
muito
superficial,
frágil aos
ventos e às
intempéries dos
egos, quase
sempre
suscetíveis aos
caprichos.
Uma questão
principal: como
fazer para
sofrer menos e,
principalmente,
como servir-se
do amor para
viver melhor?
Sim, porque amar
é ser feliz, é
desejar a
felicidade do
outro.
Como sair da
confusão?
A confusão
existe quando
exigimos do
nosso
companheiro, por
exemplo, que
substitua o pai
que nos faltou,
quando cobramos
da nossa esposa
que seja mãe de
tempo integral,
livrando-nos das
pequenas
responsabilidades
diárias com a
casa, com os
filhos, com
nosso próprio
crescimento.
É sabido que as
pessoas que não
são capazes de
se envolver em
uma relação
particular são
ainda imaturas.
Estamos onde
estamos, cada um
com sua
narrativa e
habilidades. E
isso me faz
pensar sobre as
diferentes
nuanças de amor.
Há uma palavra
grega, Pathé,
que assinala
tanto o
nascimento da
palavra
patologia como
instaura na
pessoa o
amor-doença,
pois, aqui, o
amor não é
qualidade de
ser, mas apenas
necessidade e
dependência,
aquilo que
Ovídio, em sua
Arte de Amar,
chamou
amor-posse,
possessão, que
dá causa à
mania...
Creio que isso
alude aos
aspectos (e
feridas)
narcisistas, que
se revelam
inaptos para
reconhecer a
alteridade. Tu
me dás, somente.
Para muitos
terapeutas
antigos, então,
a doença é girar
em círculos.
Assim, o
amor-posse
mantém o casal
aprisionado no
caminho...
Mas não é o
coração humano
capaz de amar
sem retorno?
Alguém me diria
que isso somente
para os
perfeitos.
Digo-lhe que é
para cada um de
nós, embora,
muitas vezes,
possamos amar
como bebês,
consumindo o
outro. Qual
seria, então, a
solução? Passar,
em primeiro
lugar, do
consumo à
partilha. Abrir
o coração e
aprender a dar,
pois conviver,
no amor, exige
disciplina.
Apenas sei que
devemos manter o
passo. Por isso,
independente do
amor que
sentimos, seu
grau ou
qualidade,
independente do
companheiro (ou
da companheira)
com o qual
dividimos o pão,
a oração e a
esperança,
apenas
precisamos nos
dispor a
ajudá-lo a
desenvolver sua
autonomia sem
que percamos a
nossa autonomia
– duas
autonomias que
seguem unidas e
procuram
humanizar-se...
No lugar de
apenas exigir
(ou necessitar),
pôr em prática o
acolher – e
este, sim, pode
ser um começo
rumo a um
amoroso
conviver.
Penso na alma
gêmea – “alguém
do mesmo
comprimento de
onda”, diria
Jean-Yves Leloup.
Neste caso,
seria mais fácil
amar?
Em razão da
sintonia
natural, uma
compreensão
natural. Mas
isso extinguiria
os pequenos
dramas da
rotina? Não, mas
ao menos aqui
ambos procurarão
expandir tanto o
si-mesmo (Self)
como a
capacidade de
amar, confiantes
no devir, pois o
“amor jamais
passará“ (São
Paulo).