72. Da cidade de Midi,
um dos correspondentes
da Revue refere
como a cruzada contra o
Espiritismo estava sendo
dirigida. Num grupo da
cidade, onde se
discutiam pró e contra
as ideias espíritas, um
dos assistentes disse
que o Codificador não
contava em sua Revue
todas as tribulações
e mistificações que
experimentava. E afirmou
que em setembro do ano
passado, numa reunião de
cerca de trinta pessoas,
em casa do Sr. Kardec,
todos os assistentes
foram mimoseados a
cacetadas pelos
Espíritos. (P. 150)
73. Respondendo à carta,
Kardec desmentiu de modo
formal o suposto
episódio e acrescentou
que no mês de setembro
de 1862 ele estava em
viagem pelo interior da
França, tendo-se
ausentado de Paris desde
o final de agosto até o
dia 20 de outubro. (PP.
150 e 151)
74. A
propósito do assunto,
Kardec adverte que
ninguém deve pensar que
a guerra movida contra o
Espiritismo tenha
chegado ao apogeu. Quer
dizer: viria ainda coisa
mais pesada e grosseira.
Em face disso, anotou o
Codificador: I) Os
verdadeiros espíritas,
diante dos ataques
recebidos, devem
distinguir-se pela
moderação, deixando aos
antagonistas o triste
privilégio das injúrias.
II) É dever de todo bom
espírita esclarecer os
que o procuram de boa
fé, mas é inútil
discutir com
antagonistas de má fé ou
ideia preconcebida. III)
As questões pessoais
apagam-se ante a
grandeza do objetivo e o
conjunto do movimento
irresistível que se
opera nas ideias. Pouco
importa, assim, que este
ou aquele seja contra o
Espiritismo, quando se
sabe que ninguém tem o
poder de impedir a
realização dos fatos.
IV) É preciso continuar
a semear a ideia,
espalhando-a pela doçura
e pela persuasão e
deixando aos nossos
antagonistas o monopólio
da violência e da
acrimônia a que só se
recorre quando a pessoa
não é bastante forte
pelo raciocínio. (PP.
152 e 153)
75. Focalizando o grande
número de comunicações
mediúnicas que lhe eram
enviadas de todas as
partes, Kardec valeu-se
dos números para mostrar
que nem toda mensagem de
origem espiritual merece
ser veiculada pela
imprensa. Diz ele que em
3.600 mensagens
recebidas existiam mais
de 3.000 de moralidade
irreprochável e
excelentes como fundo,
mas somente 300 (dez por
cento delas) serviriam à
publicidade, das quais
apenas 100 apresentariam
um mérito inconteste. A
análise do Codificador
leva a uma conclusão
óbvia: não se deve
publicar
inconsideradamente tudo
quanto venha dos
Espíritos, se quisermos
atingir o objetivo a que
nos propomos. (PP. 153 a
155)
76. O mesmo raciocínio
se aplica aos trabalhos
dos encarnados: de 30
artigos que ele
examinou, não mais de
seis (vinte por cento)
mereceriam ser
publicados. “No mundo
invisível como na Terra,
não faltam escritores
- assevera Kardec -,
mas os bons são raros.”
Sua conclusão é que
todas as precauções são
poucas para evitar as
publicações lamentáveis.
Em tais casos -
acrescenta o Codificador
- mais vale pecar
por excesso de
prudência, no interesse
da causa. (PP. 155 e
156)
77. Viennois (Espírito)
explica, respondendo a
Kardec, por que há
Espíritos incrédulos no
mundo espiritual. É que
a morte não modifica de
repente as opiniões dos
que partem: sua
incredulidade geralmente
os acompanha. (PP. 156 e
157)
78. O caso de Espíritos
materialistas no mundo
espiritual é explicado
por Erasto, que lembra
que todos os corpos,
sólidos ou fluídicos,
pertencem à substância
material. Os que em vida
só admitem um princípio
na natureza - a matéria,
muitas vezes não
percebem, após a morte,
esse princípio único,
absoluto, como cegos
ante as coisas
espirituais. (P. 158)
79. O número de junho é
aberto com um artigo de
Kardec intitulado “Do
princípio da
não-retrogradação do
Espírito”, em que é
desenvolvida com clareza
a tese espírita de que
os Espíritos não
retrogradam, no sentido
de que nada perdem do
progresso realizado.
Eles podem ficar
momentaneamente
estacionários, mas, se
bons, não podem
tornar-se maus,
verificando-se o mesmo
no tocante à sabedoria.
O que pode ser
modificado é a situação
material, a condição
social ou econômica da
existência. (PP. 163)
80. Kardec analisa
também, no mesmo artigo,
a tese de que os
Espíritos não teriam
sido criados para se
encarnarem. A encarnação
não seria senão o
resultado de sua falta.
O Espiritismo afirma o
contrário, ou seja, que
a encarnação é uma
necessidade para o
progresso do Espírito e
do próprio planeta em
que ele vive. Outro
ponto interessante
comentado por Kardec é a
situação do Espírito em
sua origem. Sendo ele
criado simples e
ignorante, ao buscar o
caminho do mal não
haveria uma
retrogradação? Kardec
diz que não, porquanto
só existe queda na
passagem de um estado
relativamente bom a um
pior, o que não ocorre
no caso, visto que,
criado simples e
ignorante, o Espírito se
encontra num estado de
nulidade moral e
intelectual como a
criança que acaba de
nascer. (PP. 164 a 166)
81. A
Revue traz um
artigo contendo a
refutação de Kardec aos
ataques ao Espiritismo
contidos numa brochura
assinada pela Rev. Pe.
Nampon, da Companhia de
Jesus. Elaborada com
base em dois sermões que
o padre proferiu na
igreja de São João
Batista, em presença do
cardeal-arcebispo de
Lyon, a brochura não
traz novidades, mas se
apresenta eivada de
erros cometidos
deliberadamente por seu
autor na menção de
certos trechos das obras
de Kardec. (PP. 167 a
173)
(Continua no próximo
número.)