MILTON R.
MEDRAN MOREIRA
medran@via-rs.net
Porto Alegre,
Rio Grande do
Sul (Brasil)
O
Livro dos
Espíritos
– Um novo
paradigma
É sempre
oportuno
recordar, no mês
de abril, a
elevada
significação do
marco inicial da
doutrina
espírita, que
foi o
lançamento, em
18/4/1857, de
O Livro dos
Espíritos.
Decorridos pouco
mais de 150 anos
desse
acontecimento,
pode-se dizer
que o mundo não
alcançou, ainda,
o pleno
amadurecimento
histórico para
dimensionar
corretamente o
valor dessa
obra. O Livro
dos Espíritos,
fundamentalmente,
é um convite a
que se contemple
o ser humano a
partir de uma
nova
perspectiva: a
sua dimensão
espiritual.
É verdade que,
antes dele, e ao
curso de toda a
chamada
civilização
cristã, nossa
cultura sempre
admitiu a
existência da
“alma” como um
dos componentes
da identidade
individual
humana. Mas,
sabemos bem, a
“alma” das
religiões não
corresponde
exatamente ao
conceito do
“espírito”
apregoado pela
Doutrina
Espírita. À luz
dessa nova
filosofia
espiritualista,
cujas bases
foram lançadas
há exatos 152
anos, o Espírito
não é apenas um
componente do
ser humano. Para
o Espiritismo, o
homem não é um
ser dotado de
corpo e de
espírito. Ele é,
essencialmente,
um Espírito
provisoriamente
dotado de um
corpo físico.
Preexistente e
sobrevivente aos
fenômenos do
nascimento e da
morte física, o
Espírito
constitui-se na
verdadeira
identidade
intelectual,
emocional e
moral do ser
humano. Seu
arcabouço físico
passa a ser,
assim, mera
instrumentalidade
para a vida de
relação na
experiência
encarnatória.
Bem visto, pois,
O Livro dos
Espíritos
propõe à cultura
ocidental e
cristã um novo
paradigma
científico-filosófico.
Lança um novo
olhar sobre a
natureza
intrínseca do
homem de que
decorre,
naturalmente,
também, uma nova
postura
ética-moral do
indivíduo e do
gênero humano.
Princípio
inteligente do
universo, como o
definiu a
questão 23 da
obra
aniversariante,
é o Espírito, no
seu estágio
hominal, o
responsável por
seu próprio
processo
evolutivo, como
indivíduo, e do
mundo por ele
habitado, como
comunidade
social
planetária.
O novo paradigma
ali proposto,
muito mais do
que uma nova
ciência, um ramo
novo da
filosofia ou uma
nova religião,
conduz a uma
síntese
conceitual que,
corretamente
assimilada, pode
marcar uma nova
etapa para a
história da
humanidade. Não
será exagero
dizer que, mesmo
com seu razoável
avanço no mundo,
poucas pessoas
mostram-se aptas
a assimilar essa
essencialidade
intrinsecamente
revolucionária
espírita.
Um intelectual,
amigo de Allan
Kardec, o
teatrólogo
Victorien
Sardou, talvez
tenha percebido
toda essa
abrangência
quando, ao
receber um
exemplar da
primeira edição
de O Livro
dos Espíritos,
agradeceu-lhe
escrevendo ao
ilustre
professor:
“É o livro
mais
interessante e
instrutivo que
já li. É
impossível que
não alcance
enorme
repercussão.
Todas as grandes
questões de
metafísica e de
moral estão ali
elucidadas da
maneira mais
satisfatória;
todos os grandes
problemas foram
resolvidos ali
inclusive
aqueles que os
mais ilustres
filósofos não
puderam
resolver. É o
livro da vida, é
o guia da
humanidade”.
“Livro da vida”
e “guia da
humanidade” não
pode, pois, ser
apresentado como
se fora um livro
sagrado de um
segmento
religioso. Se o
temos como
referência, não
nos será lícito
comportarmo-nos
como integrantes
de uma nova
seita,
dissociada da
cultura humana e
alheia ou oposta
ao fluxo
imprimido pela
vocação
renovadora e
progressista do
“Espírito”. Se
as ideias
magnificamente
sintetizadas em
O Livro dos
Espíritos
guardam,
efetivamente,
esse caráter de
universalidade,
elas iluminarão
o mundo, com ou
sem o
Espiritismo,
pela “própria
força das
coisas”, como
costumava dizer
Kardec. Muitos
dos conceitos
ali antecipados
já são, hoje,
consensos no
mundo
civilizado.
Outros aguardam
o devido
amadurecimento,
estágio para
cujo advento
contribuem todos
os homens de boa
vontade, entre
os quais,
necessariamente,
devem estar os
espíritas.