MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Libertação
André Luiz
(Parte
15)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Libertação,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1949 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Qual é, em essência,
o objetivo da existência
corpórea?
R.: Seu objetivo é o
aprimoramento do
indivíduo, porque é nos
atritos da marcha que o
ser se desenvolve, se
apura e se ilumina. A
tendência dos crentes em
geral é, no entanto, a
de fugir aos conflitos
da senda. Há pessoas que
depois de servirem ao
ideal religioso durante
dois anos pretendem o
repouso de vinte
séculos. (Libertação,
cap. IX, pp. 121 e 122.)
B. O celebrante do culto
pode interferir
negativamente no
atendimento prestado aos
fiéis?
R.: Sim. Foi o que se
viu na missa descrita
por André Luiz, cujo
celebrante, apesar de
consagrado para o culto,
era ateu, gozador dos
sentidos e não se
esforçava por sua
própria sublimação. Sua
mente pairava longe do
altar, pois se achava
interessado em terminar
a cerimônia com
brevidade, de modo a não
perder uma alegre
excursão em perspectiva.
Resultado: intensa
luminosidade fluía do
sacrário, envolvendo
todo o material do
culto, mas, quando o
sacerdote ergueu a
oferta sublime, apagou a
luz que a revestia com
os raios
cinzento-escuros que ele
próprio expedia em todas
as direções. (Obra
citada, cap. IX, pp. 122
e 123.)
C. Por que Saldanha
liderava o assédio
obsessivo a Margarida?
R.: Ele assim agia por
vingança, visto que
culpava o pai de
Margarida, juiz de
Direito, pela condenação
de seu filho Jorge,
inocente do crime pelo
qual foi julgado. A
condenação do rapaz
levou a esposa ao
suicídio e a mãe à
indigência. Mais tarde,
o próprio Jorge se
perturbou mentalmente e
esse conjunto de
tragédias não permitia a
Saldanha nutrir qualquer
ideia de perdão.
(Obra citada, cap. X,
pp. 126 e 127.)
Texto
para leitura
61. A
missa
- Gúbio continuou a
falar sobre o objetivo
da existência corpórea,
que se destina, de
maneira fundamental, ao
aprimoramento do
indivíduo. É nos atritos
da marcha que o ser se
desenvolve, se apura e
se ilumina, mas a
tendência dos crentes,
em geral, é a de fugir
aos conflitos da senda.
Existem pessoas que
depois de servirem ao
ideal religioso durante
dois anos pretendem o
repouso de vinte
séculos. Em todas as
casas de fé, os
mensageiros do Senhor
distribuem favores e
bênçãos compatíveis com
as necessidades de cada
um; entretanto, é
preciso preparar o
coração nas linhas do
mérito, para
recolhê-los. Prevalecem
nesse processo o
imperativo da sintonia,
a necessidade do
esforço. Aludindo à
cena verificada na
igreja, Gúbio asseverou:
"Em verdade, a missa é
um ato religioso tão
venerável quanto
qualquer outro em que os
corações procuram
identificar-se com a
Proteção Divina; no
entanto, raros são
aqueles que trazem até
aqui o espírito
efetivamente inclinado à
assimilação do auxílio
celestial". Explicou,
então, que para a
formação de semelhante
clima interior cada
crente, além de
purificar seus
sentimentos, necessita
combater a influência
dispersiva e
perturbadora que procede
das entidades
desencarnadas. Na fase
final da missa, as vozes
do coro pareciam
projetar vibrações
harmoniosas e lúcidas
ao longo da nave
radiosa. Viu-se então
que muitos Espíritos
sublimes penetraram o
recinto, de semblante
glorificado, rumando
para o altar, onde o
celebrante elevava o
cálice, após abençoar a
hóstia. (Cap. IX, pp.
121 e 122)
62. Sacerdote ateu
e gozador -
Intensa luminosidade
fluía do sacrário,
envolvendo todo o
material do culto, mas
André reparou que o
sacerdote, ao erguer a
oferta sublime, apagou a
luz que a revestia com
os raios
cinzento-escuros que ele
próprio expedia em todas
as direções. Depois,
quando ele se preparou
para distribuir o
alimento eucarístico
entre os 11 comungantes
que se prosternavam,
viu-se que as hóstias
eram autênticas flores
de farinha, coroadas de
doce esplendor.
Irradiavam luz com
tanta força que o
magnetismo obscuro das
mãos do ministro não
conseguira
inutilizá-las; contudo,
à frente da boca que se
dispunha a receber o
pão simbólico,
enegreciam como por
encanto. Somente uma
senhora, ainda jovem,
cuja contrição era
irrepreensível,
recolheu a flor divina
com a pureza desejável.
Nesta, André viu a
hóstia, qual foco de
fluidos luminescentes,
atravessar a faringe,
alojando-se-lhe a
claridade em pleno
coração. Gúbio explicou
a cena: "Aprendeste a
lição? O celebrante,
apesar de consagrado
para o culto, é ateu e
gozador dos sentidos,
sem esforço interior de
sublimação própria. A
mente dele paira longe
do altar. Acha-se
sumamente interessado em
terminar a cerimônia
com brevidade, de modo a
não perder uma alegre
excursão em
perspectiva". O
Instrutor disse ainda
que os próprios
comungantes, cheios de
sentimentos rasteiros e
sombrios, incumbiam-se,
eles mesmos, de anular
as dádivas celestes,
antes que lhes
trouxessem benefícios
imerecidos. "Temos aqui
-- declarou Gúbio --
grande quantidade de
crentes titulares, mas
muito poucos amigos do
Cristo e servidores do
bem". Finda a missa,
Margarida e seu esposo
retornaram ao lar,
cercados pelo mesmo
séquito de entidades
infelizes. (Cap. IX, pp.
122 e 123)
63. O caso
Saldanha - De
volta a casa, a jovem
senhora continuou a
receber a mesma
influência perturbadora
de antes. Um dos
perseguidores presentes
lhe aplicou energias
torturantes ao longo dos
olhos, que passaram a
denunciar fenômenos
alucinatórios. André viu
como é fácil aos seres
perversos hipnotizar
suas vítimas,
impondo-lhes os
tormentos psíquicos que
desejam. Grossas
lágrimas banhavam o
rosto da enferma. Sua
mente aflita e sofredora
imprimia graves
alterações em todo o
cosmos orgânico. Dos
olhos, o magnetizador
passou a cuidar das
células auditivas,
carregando-as de
substância escura, como
se estivesse doando
combustível a um motor.
Margarida, mesmo que
desejasse, não
conseguiria agora
erguer-se. Finda essa
intervenção, Saldanha
dispensou os terríveis
colaboradores, mantendo
ali apenas a dupla de
hipnotizadores,
alegando que havia
serviço em outros
lugares da cidade.
Segundo sua avaliação, a
enferma já recebera
material de prostração
para trinta horas
consecutivas. A sós com
Saldanha, Gúbio procurou
sondar-lhe o íntimo,
discretamente: "Que
razões teriam conduzido
Gregório a conferir-lhe
tão delicada missão?"
Saldanha lhe respondeu:
"O ódio, meu amigo, o
ódio!" "À senhora?",
perguntou Gúbio. "Não
propriamente a ela",
informou Saldanha, "mas
ao pai, juiz sem alma
que me devastou o lar.
Faz onze anos,
precisamente, que a
sentença cruel de um
magistrado caiu sobre
os meus descendentes,
exterminando-os..."
Saldanha narrou, então,
que logo que abandonou o
corpo físico, minado por
uma tuberculose
galopante, e revoltado
com a pobreza que o
lançara a extrema
penúria, não pôde
afastar-se do ambiente
doméstico, onde viviam
sua infortunada mulher,
Iracema, e Jorge, um
filho querido, a quem
não pudera legar
qualquer recurso
apreciável. (Cap. X, pp.
124 a 126)
64. Raízes do ódio
- Iracema e Jorge
passaram a enfrentar,
desde então,
dificuldades e aflições
que Saldanha não podia
relembrar sem imensa
angústia. Operário
braçal, seu filho não
conseguia sustentar
dignamente a casa, e
sua mãe definhava-se em
padecimentos
continuados, sofridos
em silêncio. Mesmo
assim, Jorge contraiu
núpcias, muito cedo, com
uma colega de trabalho,
que lhe deu uma filhinha
atormentada e
sofredora. A vida
corria assim
desesperadamente para o
lar subalimentado e
desprotegido, quando
certo crime, constituído
de roubo e assassínio,
aconteceu na empresa em
que o rapaz trabalhava,
e toda a culpa, em face
de circunstâncias
inextricáveis, recaiu
sobre ele. Jorge foi
imerecidamente preso e
levado a
interrogatórios, como se
fora homicida vulgar.
Saldanha a tudo
acompanhou, com a alma
em aflição. Visitou
chefias e repartições,
autoridades e guardas,
tentando encontrar
alguém que o auxiliasse
a salvar o filho
inocente. Identificou o
verdadeiro criminoso,
que desfrutava posição
social invejável, e tudo
fez, sem resultado, por
clarear o processo
humilhante. Jorge
sofrera todo o gênero
de atrocidades morais e
físicas por parte dos
carrascos policiais que
tentaram obter dele
confissão de algo que
não cometera. Saldanha
resolveu, então,
influenciar o juiz da
causa, na esperança de
que ele fosse justo e
piedoso, mas o
magistrado preferiu
ouvir pareceres de
amigos influentes na
política dominante, que
se interessavam
vivamente pela indébita
condenação, na ânsia de
livrar o verdadeiro
criminoso. Jorge recebeu
dolorosa pena. Irene,
sua mulher, conturbada
pela necessidade e pelo
infortúnio, suicidou-se.
Iracema, mãe de Jorge,
torturada pelos
sucessos aflitivos,
desencarnou num catre de
indigência, e sua neta,
agora menina-moça,
trabalhava naquela mesma
casa, onde um
tresloucado irmão de
Margarida procurava
arrastá-la sutilmente a
grave desvio moral. O
juiz era o pai da
enferma, e foi ele quem,
recebendo-lhe em sonho
as promessas de
vingança, buscou
empregar a moça na casa
de sua filha, empenhado
em reparar de algum modo
o seu crime. (Cap. X,
pp. 126 e 127)
65. Jorge vai para
o hospício -
Gúbio ouviu todo o caso
em silêncio, murmurando
apenas: "Realmente, a
sementeira de dor é das
que mais nos
afligem..." Encorajado
pelo tom amigo daquela
frase, Saldanha contou
que muita gente o
convidara à
transformação
espiritual,
concitando-o ao perdão
estéril. Ele, porém, não
podia aceitar semelhante
alvitre. Seu filho
Jorge, sob a pressão
mental de Irene e de
Iracema, que,
desencarnadas, passaram
a assediá-lo no cárcere,
não resistiu e
perturbou-se.
Enlouquecendo na cela,
foi transferido de
quarto úmido para
misérrimo hospício,
onde mais se assemelhava
a um animal encurralado.
Como poderia seu cérebro
dispor de recursos para
pensar em compaixão que
não recebera de pessoa
alguma? "Enquanto esses
quadros permanecerem
sob meus olhos, não
abrirei minhalma às
sugestões religiosas",
afirmou Saldanha. "A
sepultura apenas derruba
o muro da carne,
porquanto nossas dores
continuam tão vivas e
tão contundentes quanto
em outra época, quando
suportávamos a caixa dos
ossos." Foi assim, em
semelhante estado, que
Gregório o encontrara. O
sacerdote necessitava de
alguém, de alma
suficientemente
endurecida, para
presidir à retirada
técnica de Margarida,
que ele desejava
arrebatar, devagarinho,
à vida terrestre. Eis a
razão de lhe ter sido
confiada a tarefa.
"Todos aqui pagarão.
Todos...", acentuou,
colérico, o diretor da
falange espiritual.
Gúbio continuou calado.
Dentro em pouco, o
médico incumbido do caso
penetrou o recinto,
acompanhado do esposo.
Faltavam quinze minutos
para o meio-dia. Para o
especialista, Margarida
estava sob o império de
uma epilepsia
secundária e talvez
fosse preciso submetê-la
a uma cirurgia. Logo em
seguida, uma entidade
espiritual,
evidentemente bem
intencionada,
compareceu e percebeu a
posição de Gúbio e seus
pupilos, sem dizer
palavra. (Cap. X, pp.
128 e 129)
(Continua
no próximo número.)