Herança no além
Cornélio Pires
Você deseja saber
Meu caro Joaquim
Monforte,
Dentre os assuntos de
herança,
O que há depois da
morte.
Respondendo a sua carta
Cumpro apenas um dever;
Herança dá muita
encrenca,
Você nem queira saber.
Decerto que há muita
gente,
Caminhando ao nosso
lado,
Que sabe usar com Jesus
Os bens de qualquer
legado.
Entretanto, em muitos
casos,
Nos passos de muitas
vidas,
Heranças trazem
problemas
Às pessoas mais
queridas.
Amparo que você queira
Fazer, em verdade sã,
Auxilio, bênção, favor,
Não deixe para amanhã.
Nosso Téo deixou ao
genro
A fazenda Carolina,
O moço inexperiente
Descambou na jogatina.
Tanta injúria de
inventário
Recebeu Nhô Chico Bentes
Que se fez obsessor
De todos os seus
parentes.
Nhá Nicota ajuntou casas
Em favor da própria
filha;
Viu a filha envenenada
Numa questão de
partilha.
Nhô Tino deixou aos
filhos,
A fazenda da Tronqueira
E os rapazes sem
trabalho
Caíram na bebedeira.
Calma legou à filha
Todas as lojas de um
prédio:
A moça largou o estudo,
Depois matou-se de
tédio.
Teotônio legou milhões
Para o bisneto Tadeu;
Ao vê-lo abusar de
drogas
O coitado enlouqueceu.
Nicão viu tantas
loucuras
Na viúva Dona Criste,
Que deseja ir para o
inferno,
Mas o inferno não
existe.
Joaninha ao achar as
filhas,
Em sombra, gozo e
moleza,
Hoje pede vida nova
Afundada na pobreza.
Se você tem para dar
Não exija condição,
Dê trabalho e caridade,
Paz, amor e educação.
Bendita seja a pessoa
Que recebendo uma
herança,
Sabe espalhar benefício,
Conforto, luz e
esperança.
No entanto, muito legado
É mero apoio ilusório,
Há muito desencarnado
Que enlouqueceu no
cartório.