MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Libertação
André Luiz
(Parte
19)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Libertação,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1949 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que fato ocorreu com
o instrutor Gúbio quando
ele orou a favor dos
familiares de Saldanha?
R.: Gúbio
transformou-se,
gradualmente. As
vibrações rigorosas da
oração expulsaram as
partículas obscuras de
que se havia tocado
quando penetrara a
colônia penal em que
conhecera Gregório, e
sublimada luz
brilhava-lhe agora no
semblante que o pranto
de amor e compunção
irisava com intraduzível
beleza. De seu peito e
fronte despediam-se
raios luminosos de
intenso azul, ao mesmo
tempo que formoso fio de
claridade
incompreensível o ligava
ao Alto, perante o
aturdido olhar dos
companheiros. (Libertação,
cap. XII, pp. 155 e
156.)
B. Que efeito teve a
prece sobre Jorge, filho
de Saldanha?
R.: Jorge arregalou os
olhos, parecendo acordar
de pesadelo angustioso.
Inquietação e tristeza
desapareceram-lhe do
rosto, rapidamente. Num
impulso maquinal, o
filho de Saldanha,
obedecendo à ordem
recebida de Gúbio,
ergueu-se com absoluto
controle do raciocínio,
porquanto a
interferência de Gúbio
quebrara os elos que o
prendiam às parentas
desencarnadas,
liberando-lhe a economia
psíquica. Vendo o que
ocorria, Saldanha
gritou, em lágrimas:
"Meu filho! meu
filho!..." Jorge não
registrou as exclamações
paternas, mas buscou o
leito singelo, onde se
aquietou com inesperada
serenidade. (Obra
citada, cap. XII, pp.
157 e 158.)
C. A esposa de Saldanha
também despertou ao ser
ajudada por Gúbio?
R.: Sim. Iracema voltou
a si, gemendo: "Onde
estou?!..." A pobre
mulher notou, desde
logo, a presença de
Saldanha e, desvairada
de emoção, chamando-o
por carinhoso apelido de
família, bradou:
"Socorre-me! onde está
nosso filho? nosso
filho?" O diretor da
falange que obsidiava
Margarida derramava
então abundantes
lágrimas e buscava,
instintivamente, o
olhar de Gúbio,
rogando-lhe, em
expressiva mudez,
medidas socorristas. "Em
que mau sonho me
demorei?" -- indagava a
pobre mulher, chorando
convulsivamente -- "que
cela imunda é esta? Será
verdade que já
atravessamos o túmulo?"
E, em crise de
desespero, dizia temer o
demônio, rogando a Deus
a salvasse... O
Instrutor dirigiu-lhe
palavras encorajadoras e
indicou-lhe o filho, que
descansava ali ao lado.
(Obra citada, cap.
XII, pp. 157 e 158.)
Texto
para leitura
78. Gúbio assiste
os três enfermos
- O Instrutor interveio
dizendo que elas se
encontravam em profunda
hipnose: "Nossas irmãs
não conseguiram, por
enquanto, ultrapassar o
pesadelo do sofrimento,
no transe da morte, qual
acontece ao viajante que
inicia a travessia de
vasta corrente de águas
turvas, sem recursos
para alcançar a outra
margem". Saldanha contou
que, por mais que ele se
esforçasse por
retirá-las dali,
ansioso por
infundir-lhes vida nova,
via baldado todo o seu
esforço, porquanto elas
regressavam para Jorge,
de repente, num impulso
análogo ao das agulhas
que um ímã recolhe a
distância. Gúbio
explicou que as duas
entidades estavam
temporariamente
esmagadas de pavor,
desânimo e sofrimento:
"Pela ausência de
trabalho mental
contínuo e bem
coordenado, não
expeliram as ‘forças
coagulantes' do
desalento, que elas
mesmas produziram,
inconformadas, ante os
imperativos da luta
normal na Terra e
entregaram-se, com
indiferença, a
deplorável torpor,
dentro do qual se
alimentam das energias
do enfermo". E Jorge,
drenado incessantemente
nas reservas psíquicas,
hipnotizado por ambas,
vivia entre alucinações
e desesperos,
incompreensíveis para
quantos o rodeavam. Com
sincera disposição de
servir, Gúbio sentou-se
no piso cimentado e,
num gesto de extrema
bondade, acomodou no
regaço paternal as
cabeças das três
personagens daquela cena
comovente de dor. Em
seguida, olhando para
Saldanha, pediu-lhe
permissão para algo
fazer em benefício dos
três enfermos. A
fisionomia do
perseguidor
modificou-se. O gesto
espontâneo de Gúbio
desarmava-lhe o coração,
emocionando-o nas fibras
mais íntimas: "Como não?
– disse Saldanha. – É o
que procuro realizar
inutilmente".
Impressionado com os
acontecimentos, André
contemplou a paisagem
ao redor, onde os
obstáculos eram muito
difíceis de vencer. O
cubículo transbordava
imundície. Nas celas
vizinhas, entidades de
aspecto repugnante se
arrastavam a esmo,
mostrando algumas
características
animalescas de pasmar. A
atmosfera para André se
fizera sufocante,
saturada de nuvens de
substâncias escuras,
formadas pelos
pensamentos em
desequilíbrio de
encarnados e
desencarnados que
perambulavam no local.
Contudo, apesar de todas
as dificuldades,
ver-se-ia na sequência a
demonstração viva do
preceito evangélico:
"Ama o teu inimigo, ora
por aqueles que te
perseguem e caluniam,
perdoa setenta vezes
sete". (Cap. XII, pp.
150 a 152)
79. A
prece
– Gúbio afagou a fronte
dos três enfermos,
parecendo liberar cada
um dos fluidos pesados
que os entorpeciam. Após
meia hora de operação
magnética de auxílio,
olhou novamente para
Saldanha e perguntou:
"Saldanha, não te
agastarias se eu orasse
em voz alta?" A
pergunta obteve os
efeitos de um choque.
Saldanha respondeu com
uma indagação:
"Acreditas em semelhante
panaceia?", mas,
sentindo a boa vontade
dos amigos, aduziu,
confundido: "Sim...
sim... se querem..."
O Instrutor, valendo-se
daquele minuto de
simpatia, alçou o
pensamento ao Alto e
rogou, humilde, a ajuda
de Jesus. A prece
começou assim: "Senhor
Jesus! Nosso Divino
Amigo... Há sempre quem
peça pelos perseguidos,
mas raros se lembram de
auxiliar os
perseguidores!" Em sua
oração, tão bela, Gúbio
aludiu aos fracos e aos
fortes, aos que
obedecem e aos que
administram, lembrando
que o Mestre não julga
pelo padrão de nossos
desejos caprichosos,
porque o seu amor é
perfeito e infinito...
Recordou, então, que
Jesus, quando esteve
entre nós, não se
preocupara apenas com as
vítimas do mal, mas
buscara, igualmente, os
pecadores, os infiéis e
os injustos. E, por fim,
rogou ao Mestre: "Acende
em nós a claridade dum
entendimento novo.
Auxilia-nos a
interpretar as dores do
próximo por nossas
próprias dores.
Acrescenta-nos a fé
vacilante,
descortina-nos as raízes
comuns da vida, a fim de
compreendermos,
finalmente, que somos
irmãos uns dos outros.
Ensina-nos que não
existe outra lei, fora
do sacrifício, que nos
possa facultar o anelado
crescimento para os
mundos divinos.
Impele-nos à compreensão
do drama redentor a que
nos achamos vinculados.
Ajuda-nos a converter o
ódio em amor, porque não
sabemos, em nossa
condição de
inferioridade, senão
transformar o amor em
ódio..." (Cap. XII, pp.
152 a 155)
80. Os efeitos da
prece - Gúbio
imprimira tocante
inflexão aos últimos
lances da rogativa. Elói
e André tinham os olhos
turvos de lágrimas,
tanto quanto Saldanha,
que recuou, aterrado,
para um dos ângulos
escuros do cubículo
triste. O Instrutor
transformara-se,
gradualmente. As
vibrações rigorosas
daquela oração
expulsaram as partículas
obscuras de que se havia
tocado, quando penetrara
a colônia penal em que
conhecera Gregório, e
sublimada luz
brilhava-lhe agora no
semblante que o pranto
de amor e compunção
irisava com intraduzível
beleza. De seu peito e
fronte despediam-se
raios luminosos de
intenso azul, ao mesmo
tempo que formoso fio de
claridade
incompreensível o ligava
ao Alto, perante o
aturdido olhar dos
companheiros. Findo
ligeiro intervalo, fez
incidir toda a
luminosidade que o
envolvia sobre as três
criaturas que asilava no
regaço, e exorou: "É
para eles, Senhor, para
os que repousam aqui em
densas sombras, que te
suplicamos a bênção!
Desata-os, Mestre da
caridade e da compaixão,
liberta-os para que se
equilibrem e se
reconheçam... Ajuda-os a
se aprimorarem nas
emoções do amor
santificante, olvidando
as paixões inferiores
para sempre. Possam eles
sentir-te o desvelado
carinho, porque também
te amam e te buscam,
inconscientemente,
embora permaneçam
supliciados no vale
fundo de sentimentos
escuros e
degradantes..."
Nesse ponto, Gúbio
interrompeu-se. Intensos
jorros de luz
projetavam-se em torno
dele, atirados por mãos
invisíveis aos demais.
Com perceptível
emotividade, Gúbio
aplicou passes
magnéticos em cada um
dos três infelizes, e,
em seguida, falou ao
rapaz encarnado: "Jorge,
levanta-te! Estás livre
para o necessário
reajustamento". (Cap.
XII, pp. 155 e 156)
81. O despertar
dos três enfermos
- Jorge arregalou os
olhos, parecendo acordar
de pesadelo angustioso.
Inquietação e tristeza
desapareceram-lhe do
rosto, rapidamente. Num
impulso maquinal, o
filho de Saldanha
obedeceu à ordem
recebida, erguendo-se
com absoluto controle do
raciocínio, porquanto a
interferência de Gúbio
quebrara os elos que o
prendiam às parentas
desencarnadas,
liberando-lhe a economia
psíquica. Vendo o que
ocorria, Saldanha
gritou, em lágrimas:
"Meu filho! meu
filho!..." Jorge não
registrou as exclamações
paternas, mas buscou o
leito singelo, onde se
aquietou com inesperada
serenidade. Em seguida,
sua mãe, Iracema, voltou
a si, gemendo: "Onde
estou?!..." A pobre
mulher notou, desde
logo, a presença de
Saldanha e, desvairada
de emoção, chamando-o
por carinhoso apelido de
família, bradou:
"Socorre-me! onde está
nosso filho? nosso
filho?" O diretor da
falange que obsidiava
Margarida derramava
então abundantes
lágrimas e buscava,
instintivamente, o
olhar de Gúbio,
rogando-lhe, em
expressiva mudez,
medidas socorristas. "Em
que mau sonho me
demorei?" -- indagava a
pobre mulher, chorando
convulsivamente -- "que
cela imunda é esta? Será
verdade que já
atravessamos o túmulo?"
E, em crise de
desespero, dizia temer o
demônio, rogando a Deus
a salvasse... O
Instrutor dirigiu-lhe
palavras encorajadoras e
indicou-lhe o filho, que
descansava ali ao lado.
Recompondo-se
gradualmente, a mulher
perguntou a Saldanha por
que emudecera, faltando
à palavra amorosa e
confiante de outro
tempo, ao que o verdugo
de Margarida respondeu,
significativamente:
"Iracema, eu ainda não
aprendi a ser útil...
Não sei confortar
ninguém". A esposa de
Saldanha, nesse ponto,
percebeu, embora com
dificuldade, que a
companheira a seu lado,
que fazia a mão direita
movimentar-se sobre a
garganta, era Irene, sua
nora. Gúbio interveio no
sentido de ajudar esta
última a despertar,
distribuindo vigorosas
energias aos centros
cerebrais da criatura,
que continuava abatida.
Decorridos alguns
instantes, a nora de
Iracema ergueu-se, num
grito terrível. Com
dificuldade de falar,
sufocava-se,
ruidosamente, presa de
angústia infinita. Gúbio
segurou-lhe ambas as
mãos com sua destra, e
com a mão esquerda
ministrou-lhe recursos
magnético-balsâmicos
sobre a glote,
especialmente ao longo
das papilas gustativas,
acalmando-a, de alguma
sorte. (Cap. XII, pp.
157 e 158)
(Continua
no próximo número.)