EUGÊNIA PICKINA 
eugeniamva@yahoo.com.br 
Londrina, Paraná (Brasil) 
 

Se queres a visão secreta, fecha teus olhos. Se desejas
um abraço, abre teu peito. - Rumi

A luz do sol exige o olhar em direção à árvore miniaturizada, uma jabuticabeira, cuja presença preenche a varanda. Sim, o calor da manhã lhe dá um motivo condutor para as diminutas folhas, segundo o mistério da arte bonsai. Isso me mantém no presente, porquanto assisto a coisas que existem.

Ela põe a porta abaixo e sua beleza entra em toda a minha vida, sem ser reta como uma espada, mas sinuosa como um caminho.

Não me doem assim os jardins cheios de flores taciturnas, não os tenho. A árvore pequena e desnuda me faz superar as estátuas adormecidas no parque, pois adivinho e sinto seu signo sereno diante de mim, transparente à chegada do vento irremediável como estrelas em fuga.

Essa colisão inevitável da natureza retira de mim a sensação de país dividido, o status de estrangeiro entre interpretações do mundo. A simetria de seu enraizamento faz-me indagar, para início de conversa, qual seria o significado de nossas histórias?

Não ignoramos. Também como ela muito da nossa identidade está condicionada pelo passado, pela genética e pela cultura, principalmente em relação à mobilização do cuidado e da atenção. Então, seria justo observar que experimentamos a dupla ferida da proteção e do abandono?

Na melhor das hipóteses, somos vulneráveis, mas ao mesmo tempo mais impressionáveis à recusa ao crescimento, o que nos afasta, largamente, da pequena árvore, que triunfa sobre nossas ilusões e pesadelos.

Talvez seja esse o segredo da jabuticabeira: enraizada, como um ponto luminoso, ergue-se, sem culpa, em direção ao firmamento.