A
regra universal
“A moral dos
Espíritos
superiores se
resume, como a
do Cristo, nesta
máxima
evangélica:
Fazer aos outros
o que
quereríamos que
os outros nos
fizessem,
isto é, fazer o
bem e não o mal.
Neste princípio
encontra o homem
uma
regra universal
de conduta,
mesmo para as
suas menores
ações.”
(1)
Hoje à noite eu
chorei. Estava
fazendo uma
tarefa simples:
dobrando roupas
e ouvindo o
noticiário de um
canal de
televisão. E
chorei. As
lágrimas
espontaneamente
brotaram quando
ouvi que alguns
jovens de classe
média, moradores
de condomínios
condizentes com
a sua classe
socioeconômica,
haviam espancado
uma mulher.
Chorei ao ouvir
a descrição
aligeirada da
reportagem
televisiva a
respeito de
tamanha
barbárie. A
justificativa
dos jovens não
podia ser mais
estúrdia:
imaginavam se
tratar de uma
prostituta! Para
eles, no seu
“manual”
particular de “falta-de-educação”,
é permitido
bater em
mulheres até
quase à morte,
claro, se forem
prostitutas.
Foi por causa
desse absurdo
que eu chorei. O
caso da
empregada
doméstica,
rotulada por
prostituta e
espancada por
jovens que
retornavam de
suas festinhas,
enquanto ela
esperava
condução para se
dirigir ao
trabalho, traz à
tona muitas
questões,
questões de
gênero, classe
social,
preconceito e
estigmatização,
carência de
valores humanos
e pobreza
espiritual.
Jesus, o Mestre
de todos nós,
esteve conosco
há mais de dois
mil anos
apresentando uma
doutrina
radicalmente
fundamentada no
amor
incondicional ao
próximo. Em suas
atitudes, tão
eloquentes
quanto as suas
palavras, o
meigo Rabi
elevou aos olhos
daquela
sociedade
sectária a
condição dos
pobres, dos
oprimidos, dos
estigmatizados
culturalmente,
da mulher, do
diferente,
enfim.
Tanto que
colocou como
símbolo da
máxima compaixão
a figura do
samaritano que,
ao contrário dos
sacerdotes do
templo, conforme
a parábola, ao
invés de se
omitir ante o
sofrimento do
viajante,
deixou-se tocar
pelo sofrimento
alheio,
sensibilizando-se
e trabalhando
por lhe
restituir o
equilíbrio,
fazendo o seu
melhor pelo
próximo.
Pedagogo
insuperável
trazia em sua
prática
educativa junto
ao povo simples
estórias
oriundas do
cotidiano,
comparações que
encerravam
ensinamentos
profundos,
somente
compreensíveis
àquelas almas
dispostas a
aprender como
uma criança
curiosa e aberta
à boa notícia de
alegria.
Os que têm
ouvidos de ouvir
e olhos de ver,
em todas as
épocas da
História da
humanidade,
seguem seus
passos amando e
servindo,
trabalhando e
crescendo no
bem, inspirados
em seus exemplos
de sabedoria e
caridade.
Cristo ampliou a
compreensão da
família. Quando
buscado pelos
seus – achavam
que Ele estava
fora do juízo –,
afirmou serem de
sua família
aqueles que
faziam a vontade
do Pai,
permitindo-nos
inferir que Ele
concebia todos
os homens e as
mulheres como
seus irmãos e
irmãs; pois nada
e ninguém na
Terra escapa ao
influxo da
amorosa vontade
divina que se
manifesta em
tudo e todos
mediante suas
leis.
O Nazareno foi,
em sua
encarnação, a
presença
constante do
amor na vida
daqueles que com
Ele conviveram,
fizeram contato
ou ouviram,
tocando a todos
nas fibras
íntimas da alma
por causa de sua
amorosidade
infinita.
Foi o Mestre que
nos legou uma
máxima que
deveria ser
reconsiderada e
meditada por
todo aquele que
se identifica
com o ideal de
uma vida nobre e
de um mundo
melhor: fazer
aos outros o que
queremos que nos
façam.
Essa máxima não
é apenas um
aforismo que
pode nos
emocionar,
parece-me mesmo
uma necessidade
ética a sua
observação,
sobretudo se
considerarmos os
danos que estão
sendo produzidos
pelos seres
humanos na vida
uns dos outros e
da Natureza em
função da falta
de contenção.
A ausência da
prática da
contenção tem
demarcado a
ocorrência de
atitudes as mais
violentas, como
a citada no
início deste
texto. E, por
isso, estamos
dando vazão
excessiva à
nossa sombra
interior, ou
seja, aos
pensamentos e
condicionamentos
inferiores que
nos vinculam à
fera que fomos
no passado
distante.
A máxima
lecionada por
Jesus é o
princípio
supremo da ética
cristã que, por
sua vez, é
igualmente
apontada pela
Doutrina
Espírita como
fundamental à
felicidade da
criatura,
convocando todos
que se acercam
dos seus saberes
à sua vivência
cotidiana.
Pensar em
fazer ao outro o
que eu gostaria
que o outro me
fizesse
consiste num
exercício
reflexivo que
pode reorientar
saudavelmente o
meu agir perante
o outro.
Ao me perguntar
sobre isso, sou
levado
automaticamente
a considerar a
felicidade do
outro como um
projeto paralelo
e tão válido
como o meu
projeto pessoal
de felicidade.
Dessa forma,
passo a ter por
critério ético
de minhas
atitudes as
consequências do
meu agir na
felicidade
alheia. Esse
critério
conduz-me à
necessidade da
contenção, para
não perturbar a
vida do próximo,
e à dúvida
quanto à
validade das
minhas próprias
intenções.
Tudo isso
provoca o hábito
da análise ética
do meu modo de
estar no mundo e
que me revela
algo muito
simples: somente
quando a minha
motivação é o
bem, meus atos
poderão ser bons
e as suas
consequências
também.
Aliás, parece
que todo o
indivíduo com
perfeita saúde
mental deseja o
bem a si
próprio, não
acha? Então, ao
reorientar meu
jeito de agir
pelo modo como
desejaria que
outrem agisse
para comigo,
naturalmente vou
focar a minha
atenção no bem,
o qual gostaria
que me fosse
endereçado.
Ao concentrar a
mente no bem
estou cultivando
virtude,
materializando-a
nas ações
concretizadas ao
longo do tempo e
na felicidade
que provoco na
jornada
existencial do
outro.
Como somos o que
pensamos,
mergulhar a
mente no bem,
juntamente com
atitudes
concernentes,
torna-nos, pouco
a pouco,
melhores, mais
éticos e
felizes.
Querer bem aos
outros
conecta-nos ao
amor que
transpira no
universo, cria
uma disposição
interna que se
manifesta em
nossa
psicosfera.
Passamos a
sintonizar com o
bem e atraímos a
presença dos que
vibram nesse
sentido.
Pensando no bem,
fazemos escolhas
eticamente mais
corretas e
construímos
possibilidades
cada vez maiores
de felicidade e
paz nas
circunstâncias
que se desdobram
em nossa vida
terrestre.
A observação da
regra universal
postulada por
Jesus de Nazaré
é o segredo da
plenitude
íntima, da
felicidade nos
inter-relacionamentos
e provável fator
desencadeador de
acontecimentos
enriquecedores
para o Espírito
imortal.
Em tempo: Há uma
música do grupo
“Nenhum de Nós”
que rondou minha
cabeça enquanto
escrevia esse
capítulo.
Nas estrofes
finais o
vocalista clama:
ensinem os seus
filhos a ter
compaixão!
Ensinem aos seus
filhos...
compaixão!...
Que tal pensar
nisso?
Referência:
(1)
O
Livro dos
Espíritos,
introdução, item
VI.