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Raul Teixeira responde
Ano 3 - N° 110 - 7 de Junho de 2009

  

– O fanatismo religioso ainda campeia, destilando ódio e sangue em nome de Deus. Até quando vamos assistir a esses fenômenos tão feios, em nome da religião?

Raul Teixeira: Enquanto houver criaturas que se afirmem religiosas, mas que sejam, em realidade, perturbadas e preconceituosas. Tudo o que essas pessoas dizem e fazem, passa pelo filtro do seu entendimento, e como o seu entendimento está contaminado por conceitos  e preconceitos indigestos, por propostas de fé deformadas, as consequências do que dizem e fazem estarão carregadas desse desequilíbrio.

A religião, por si só, traz a todos o ensinamento do bem.

Se tivermos um arejado entendimento da figura do Cristo, com aberturas emocionais e intelectuais que nos permitam melhor entendê-Lo, melhor O interpretaremos, melhor destrinçaremos Seus ensinamentos. Porém, se tivermos aberturas menores, a tendência será limitar, apertar, condicionar as interpretações dos Seus ensinos em razão da estreiteza da nossa mente.

Se encontramos pessoas excessivas ou mesmo fanatizadas na pauta do movimento religioso, com certeza serão pessoas fanáticas em tudo o que fizerem. Ninguém consegue ser fanático na religião e não ser fanático (ciumento, possessivo, opressor, dono-da-verdade, etc.) na relação com a esposa, com o marido ou com os filhos ou, ainda, no seu trabalho profissional. São sempre pessoas excessivas. O problema, assim, não é da religião que professam. O problema é delas, estejam na religião ou onde quer que seja.

O fato de uma pessoa pervertida estar dentro de um templo religioso não significa que ela tenha mudado de vida, do mesmo modo, se encontrarmos um santo visitando um gueto nauseante e sórdido,  não significa que ele tenha deixado de ser santo. Onde estivermos portamos a nossa bagagem espiritual, as nossas idiossincrasias ou a nossa cultura, no sentido mais amplo possível. Tudo o que nós fizermos terá o sabor do estado evolutivo a que tenhamos chegado.

Torna-se, então, necessário nos investir de muita paciência e ter uma visão bastante amadurecida relativamente a irmãos de outras crenças que, muitas vezes, condenam os espíritas porque acham que somos endemoniados, que não somos cristãos ou que não cremos em Deus, como eles creem. Por mais que falemos de Deus ou de Jesus, a questão para eles é ideológica. Não conseguem aceitar que quem não faça parte dos seus núcleos de crença, quem não faça os mesmos gestos ou não repita os mesmos bordões, possam ser considerados como filhos de Deus. Isso em nada nos deverá perturbar.

Chegará o dia do aclaramento, do amadurecimento, o dia da verdade. Porém, vale verificarmos se em nossos arraiais não temos confrades com esses mesmos teores de intolerância, com esse mesmo espírito absolutista ou com essa postura messiânica de quem é capaz de salvar o mundo, pelo fato de ser espírita, ou se nós mesmos não alimentamos essa loucura internamente.

O lamentável é que todos os grupos ou indivíduos que atiram pedras, uns  contra os outros, sejam quais sejam as crenças que estejam em litígio, se atribuem a condição de  criaturas salvas, redimidas, e com intimidade com Jesus Cristo. Essa suposta intimidade lhes dá o direito de julgar e de condenar as outras pessoas, fugindo completamente do ensino de Cristo que recomendou que amássemos os próprios inimigos e orássemos por aqueles que nos perseguissem e caluniassem. Ora, se nós, os espíritas, não somos inimigos de ninguém, por que tanta malquerença, por que esse espírito inamistoso, por quê?

A nossa felicidade hoje é não existir mais Tribunal do Santo Ofício e que não haja mais o espaço para as guerras santas, embora ainda existam, extraoficialmente. Pelo menos em nosso país isso não pode existir. Essa é a nossa grande felicidade. Isso demonstra que já evoluímos. Mas, no campo minoritário, quando chegamos ao crivo da sociedade mais basal, vamos achar Espíritos muito limitados, açulados por mentes muitos sagazes, encarnadas e desencarnadas, que deles desejam tirar proveito, ao mesmo tempo em que lhes retarda a marcha do progresso. Utilizam-nos como marionetes, nesse grande palco da interpretação religiosa. Cabe aos espíritas não alimentar nenhuma guerra com esses irmãos, sem deixar, contudo, de pôr cada coisa em seu lugar na esfera do respeito social, que uns devemos aos outros, a fim de que as relações sociais não se convertam numa balbúrdia. Temos que compreendê-los em seu momento intelectual e moral,  e não fazer da mensagem do Cristo uma muralha divisionista, mas um toldo unificador, independentemente dos modos de interpretar os Seus ensinamentos.


Entrevista realizada na sede da  SEF - Sociedade Espírita Fraternidade, publicada no jornal Correio Espírita em março/2007.



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita