– O
fanatismo
religioso
ainda
campeia,
destilando
ódio e
sangue em
nome de
Deus. Até
quando vamos
assistir a
esses
fenômenos
tão feios,
em nome da
religião?
Raul
Teixeira:
Enquanto
houver
criaturas
que se
afirmem
religiosas,
mas que
sejam, em
realidade,
perturbadas
e
preconceituosas.
Tudo o que
essas
pessoas
dizem e
fazem, passa
pelo filtro
do seu
entendimento,
e como o seu
entendimento
está
contaminado
por
conceitos e
preconceitos
indigestos,
por
propostas de
fé
deformadas,
as
consequências
do que dizem
e fazem
estarão
carregadas
desse
desequilíbrio.
A religião,
por si só,
traz a todos
o
ensinamento
do bem.
Se tivermos
um arejado
entendimento
da figura do
Cristo, com
aberturas
emocionais e
intelectuais
que nos
permitam
melhor
entendê-Lo,
melhor O
interpretaremos,
melhor
destrinçaremos
Seus
ensinamentos.
Porém, se
tivermos
aberturas
menores, a
tendência
será
limitar,
apertar,
condicionar
as
interpretações
dos Seus
ensinos em
razão da
estreiteza
da nossa
mente.
Se
encontramos
pessoas
excessivas
ou mesmo
fanatizadas
na pauta do
movimento
religioso,
com certeza
serão
pessoas
fanáticas em
tudo o que
fizerem.
Ninguém
consegue ser
fanático na
religião e
não ser
fanático
(ciumento,
possessivo,
opressor,
dono-da-verdade,
etc.) na
relação com
a esposa,
com o marido
ou com os
filhos ou,
ainda, no
seu trabalho
profissional.
São sempre
pessoas
excessivas.
O problema,
assim, não é
da religião
que
professam. O
problema é
delas,
estejam na
religião ou
onde quer
que seja.
O fato de
uma pessoa
pervertida
estar dentro
de um templo
religioso
não
significa
que ela
tenha mudado
de vida, do
mesmo modo,
se
encontrarmos
um santo
visitando um
gueto
nauseante e
sórdido,
não
significa
que ele
tenha
deixado de
ser santo.
Onde
estivermos
portamos a
nossa
bagagem
espiritual,
as nossas
idiossincrasias
ou a nossa
cultura, no
sentido mais
amplo
possível.
Tudo o que
nós fizermos
terá o sabor
do estado
evolutivo a
que tenhamos
chegado.
Torna-se,
então,
necessário
nos investir
de muita
paciência e
ter uma
visão
bastante amadurecida
relativamente
a irmãos de
outras
crenças que,
muitas
vezes,
condenam os
espíritas
porque acham
que somos
endemoniados,
que não
somos
cristãos ou
que não
cremos em
Deus, como
eles creem.
Por mais que
falemos de
Deus ou de
Jesus, a
questão para
eles é
ideológica.
Não
conseguem
aceitar que
quem não
faça parte
dos seus
núcleos de
crença, quem
não faça os
mesmos
gestos ou
não repita
os mesmos
bordões,
possam ser
considerados
como filhos
de Deus.
Isso em nada
nos deverá
perturbar.
Chegará o
dia do
aclaramento,
do
amadurecimento,
o dia da
verdade.
Porém, vale
verificarmos
se em nossos
arraiais não
temos
confrades
com esses
mesmos
teores de
intolerância,
com esse
mesmo
espírito
absolutista
ou com essa
postura
messiânica
de quem é
capaz de
salvar o
mundo, pelo
fato de ser
espírita, ou
se nós
mesmos não
alimentamos
essa loucura
internamente.
O lamentável
é que todos
os grupos ou
indivíduos
que atiram
pedras, uns
contra os
outros,
sejam quais
sejam as
crenças que
estejam em
litígio, se
atribuem a
condição de
criaturas
salvas,
redimidas, e
com
intimidade
com Jesus
Cristo. Essa
suposta
intimidade
lhes dá o
direito de
julgar e de
condenar as
outras
pessoas,
fugindo
completamente
do ensino de
Cristo que
recomendou
que
amássemos os
próprios
inimigos e
orássemos
por aqueles
que nos
perseguissem
e
caluniassem.
Ora, se nós,
os
espíritas,
não somos
inimigos de
ninguém, por
que tanta
malquerença,
por que esse
espírito
inamistoso,
por quê?
A nossa
felicidade
hoje é não
existir mais
Tribunal do
Santo Ofício
e que não
haja mais o
espaço para
as guerras
santas,
embora ainda
existam,
extraoficialmente.
Pelo menos
em nosso
país isso
não pode
existir.
Essa é a
nossa grande
felicidade.
Isso
demonstra
que já
evoluímos.
Mas, no
campo
minoritário,
quando
chegamos ao
crivo da
sociedade
mais basal,
vamos achar
Espíritos
muito
limitados,
açulados por
mentes
muitos
sagazes,
encarnadas e
desencarnadas,
que deles
desejam
tirar
proveito, ao
mesmo tempo
em que lhes
retarda a
marcha do
progresso.
Utilizam-nos
como
marionetes,
nesse grande
palco da
interpretação
religiosa.
Cabe aos
espíritas
não
alimentar
nenhuma
guerra com
esses
irmãos, sem
deixar,
contudo, de
pôr cada
coisa em seu
lugar na
esfera do
respeito
social, que
uns devemos
aos outros,
a fim de que
as relações
sociais não
se convertam
numa
balbúrdia. Temos
que
compreendê-los
em seu
momento
intelectual
e moral, e
não fazer da
mensagem do
Cristo uma
muralha
divisionista,
mas um toldo
unificador,
independentemente
dos modos de
interpretar
os Seus
ensinamentos.
Entrevista
realizada na
sede da SEF
- Sociedade
Espírita
Fraternidade,
publicada no
jornal
Correio
Espírita em
março/2007.