MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Libertação
André Luiz
(Parte
22)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Libertação,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1949 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. O juiz teria, ao
acordar, lembrança do
que ocorreu durante o
sono?
R.: Não. Gúbio disse
que, no dia seguinte,
ele se ergueria do leito
sem a lembrança integral
daquela conversa, porque
o cérebro carnal é um
instrumento delicado,
"incapaz de suportar a
carga de duas vidas",
mas ideias novas lhe
surgiriam formosas e
claras, com respeito ao
bem que era necessário
praticar. A intuição,
que é o disco milagroso
da consciência,
funcionaria livremente,
retransmitindo-lhe as
sugestões daquela hora
de luz e paz. "Chegado
esse momento, não
permitas que o cálculo
te abafe o impulso das
boas obras", advertiu
Gúbio. (Libertação,
cap. XIII, pp. 173 a
175.)
B. Jorge tivera
relacionamento com o
juiz em existências
passadas?
R.: Sim. Jorge fora,
numa anterior
encarnação, escravo do
juiz, então um rico
fazendeiro. Mas, embora
ali vivesse na condição
de escravo, Jorge era,
na verdade, irmão
consanguíneo do dono das
terras. De mães
diferentes, o pai era o
mesmo. Esse fato,
contudo, jamais lhe foi
perdoado, porque
semelhante situação era
tida por aviltante
ultraje ao nome da
família. (Obra
citada, cap. XIII, pp.
173 a 175.)
C. Ao pedir a ajuda de
Saldanha, diretor da
falange que obsidiava
Margarida, Gúbio foi
atendido?
R.: Sim. Ainda
sensibilizado por tudo
que Gúbio fizera por
seus familiares,
Saldanha colocou-se
inteiramente à
disposição do Instrutor
para servi-lo, dando
início, de imediato, à
articulação do plano de
ação. (Obra citada,
cap. XIV, pp. 179 a
181.)
Texto
para leitura
90. As raízes do
drama - O juiz,
em pranto, perguntou a
Gúbio como agir. O
Instrutor informou que,
no dia seguinte, ele se
ergueria do leito sem a
lembrança integral
daquela conversa, porque
o cérebro carnal é um
instrumento delicado,
"incapaz de suportar a
carga de duas vidas",
mas ideias novas lhe
surgiriam formosas e
claras, com respeito ao
bem que era necessário
praticar. A intuição,
que é o disco milagroso
da consciência,
funcionaria livremente,
retransmitindo-lhe as
sugestões daquela hora
de luz e paz. "Chegado
esse momento, não
permitas que o cálculo
te abafe o impulso das
boas obras", advertiu
Gúbio, explicando que
nos corações hesitantes
o raciocínio vulgar luta
contra o sentimento
renovador, turvando-lhe
a corrente límpida, com
o receio da ingratidão
ou com ruinosa
obediência aos
preconceitos. Saldanha
acompanhava a cena com
indizível bem-estar, o
mesmo ocorrendo com
Jorge e Lia, que
trocavam olhares de
alegria e esperança. O
juiz contemplou-os,
pensativo, e, dominado
pelas emoções do minuto,
calou-se, resignado e
humilde. Compreendendo
que ele tinha ainda algo
a indagar acerca da
culpabilidade de Jorge,
Gúbio afirmou-lhe que,
relativamente ao delito
de que fora acusado,
Jorge tinha as mãos
limpas. Ocorre que nos
sofrimentos de hoje
solvemos os débitos de
ontem. Assim, Jorge
liberara certa parte do
passado doloroso. As
pessoas e os sucessos
que nos afetam a
consciência de modo
particular não nos
aparecem por acaso.
Gúbio, então, informou
ao magistrado: "Já te
auscultei (...) os
arquivos mentais e vejo
os quadros que o tempo
não destrói. No século
findo, guardavas o
título de posse sobre
extensa faixa de terra e
orgulhavas-te da
posição de senhor de
dezenas de escravos que,
em maioria
reencarnados, atualmente
te integram a falange de
colaboradores nos
trabalhos comuns a que
te sentes constrangido
pela máquina funcional.
A todos eles, deves
assistência e carinho,
auxílio e compreensão".
Acrescentou então: "Nem
todos os servos do
passado, porém, se
confundem no mesmo naipe
de relações com o teu
espírito. Alguns se
salientaram no drama
que viveste e volvem ao
teu caminho,
impressionando-te o
coração". Era esse o
caso de Jorge, que fora,
naquela existência,
escravo do rico
fazendeiro. (Cap. XIII,
pp. 173 a 175)
91. Um desfecho
feliz - Embora
ali vivesse na condição
de escravo, Jorge era,
na verdade, irmão
consanguíneo do dono das
terras. De mães
diferentes, o pai era o
mesmo. Esse fato,
contudo, jamais lhe foi
perdoado, porque
semelhante situação era
tida por aviltante
ultraje ao nome da
família. Chegados ambos
à tarefa da paternidade,
o filho do fazendeiro, o
mesmo Alencar de agora,
transviou a filha de
Jorge, a mesma Lia, e,
quando semelhante
amargura sobreveio, com
escárnio supremo para
aquele lar cativo e
triste, o fazendeiro
determinou medidas
condenáveis que
culminaram em
insofreável desespero de
Jorge, que, desarvorado
e semilouco, não somente
assassinou o rapaz que
lhe invadira o santuário
doméstico, como pôs fim
à própria existência,
suicidando-se em
dramáticas
circunstâncias. "Todavia
-- informou Gúbio ao
magistrado --, nem a
dor, nem a morte apagam
as aflições da
responsabilidade que só
o regresso à
oportunidade de
reconciliação consegue
remediar. E aqui te
encontras, de novo,
diante do condenado,
junto do qual sempre te
inclinaste à antipatia
gratuita, e ao lado da
jovem a quem prometeste
amparar por filha muito
querida ao coração".
"Trabalha, meu amigo!
vale-te dos anos, porque
Alencar e tua pupila
serão atraídos à bênção
do matrimônio. Age
enquanto podes. Todo bem
praticado felicitará a
ti mesmo, porquanto
outro caminho para Deus
não existe, fora do
entendimento
construtivo, da bondade
ativa, do perdão
redentor." O Instrutor
lembrou-lhe então que
Jorge, humilhado e
desiludido, apagara o
desvario deplorável,
suportando inominável
martírio moral, com a
prisão indébita, a
viuvez, a enfermidade e
as privações de toda a
espécie por que
passara. O relato de
Gúbio tocou o juiz
profundamente. A força
magnética do Instrutor
alcançara-lhe as fibras
mais íntimas... E ele,
após levantar-se, em
lágrimas, cambaleante,
abeirou-se de Jorge e
estendeu-lhe a destra em
sinal de fraternidade, a
qual o filho de Saldanha
beijou igualmente em
pranto, e, em seguida,
acercando-se da jovem,
abriu-lhe os braços
acolhedores, exclamando
comovido: "Serás minha
filha, doravante, para
sempre!..." Saldanha,
modificado por uma
alegria misteriosa que
lhe refundia as
expressões fisionômicas,
avançou para Gúbio e,
tentando beijar-lhe as
mãos, murmurou: "Nunca
pensei encontrar noite
tão gloriosa quanto
esta!" Gúbio impediu-lhe
o gesto, dizendo:
"Saldanha, nenhum
júbilo, depois do amor
de Deus, é tão grande
quanto aquele que
recolhemos no amor
espontâneo de um amigo.
Semelhante alegria,
neste momento, é nossa,
porque te sentimos a
amizade nobre e sincera
no coração". E um abraço
de carinhosa
fraternidade coroou a
tocante e inesquecível
cena. (Cap. XIII, pp.
175 a 177)
92. Gúbio revela a
verdade a Saldanha
- De volta ao quarto de
Margarida, onde os dois
hipnotizadores os
aguardavam em função
ativa, Gúbio pousou
significativo olhar em
Saldanha e pediu-lhe em
tom discreto: "Meu
amigo, chegou a minha
vez de rogar. Releva-me
a identificação, talvez
tardia aos teus olhos,
com relação aos
objetivos que nos
prendem aqui". E, com
imensa comoção na voz,
esclareceu: "Saldanha,
esta senhora doente é
filha de meu coração
desde outras eras. Sinto
por ela o enternecimento
com que cuidaste, até
agora, do teu Jorge,
defendendo-o com as
forças de que dispões.
Eu sei que a luta te
impôs acerbos espinhos
ao coração, mas também
guardo sentimentos de
pai. Não te merecerei,
porventura, simpatia e
ajuda?" Verificou-se
então uma cena que,
minutos antes, pareceria
inacreditável. Saldanha
contemplou Gúbio com o
olhar de um filho
arrependido. Grossas
lágrimas brotaram-lhe
dos olhos antes frios e
impassíveis. O diretor
da falange parecia
inabilitado a
responder, diante da
emotividade que o
dominava. Gúbio, então,
enlaçando-o
fraternalmente,
falou-lhe: "Passamos
horas sublimes de
trabalho, entendimento e
perdão. Não desejarás
desculpar os que te
feriram, libertando,
enfim, quem me é tão
querida ao espírito?
Chega sempre um instante
no mundo em que nos
entediamos dos próprios
erros. Nossa alma se
banha na fonte lustral
do pranto renovador e
esquecemos todo o mal a
fim de valorizar todo o
bem. Noutro tempo,
persegui e humilhei,
por minha vez. Não
acreditava em boas obras
que não nascessem de
minhas mãos. Supunha-me
dominador e invencível,
quando não passava de
infeliz e insensato.
Considerava inimigos
quantos me não
compreendessem os
caprichos perigosos e me
não louvassem a insânia.
Experimentava diabólico
prazer, quando o
adversário esmolasse
piedade ao meu orgulho,
e gostava de praticar a
generosidade humilhante
daquele que determina
sem concorrentes". O
Instrutor informou,
enfim, que a vida havia
retalhado seu coração
com o estilete dos
minutos, transformando-o
devagar, até que o
déspota morresse dentro
dele. "O título de irmão
é, hoje, o único de que
efetivamente me
orgulho", concluiu,
antes de apelar outra
vez para o concurso de
Saldanha. (Cap. XIV, pp.
178 e 179)
93. Saldanha
promete servir a Gúbio
- André e Elói tinham
lágrimas ardentes
diante daquela
doutrinação emocionante
e inesperada. Saldanha,
por sua vez, enxugou os
olhos e, fixando-os no
interlocutor bondoso,
disse-lhe, humilde:
"Ninguém me falou ainda
como tu... Tuas palavras
são consagradas por uma
força divina que eu não
conheço, porque chegam
aos meus ouvidos, quando
já me encontro
confundido pelos teus
atos convincentes. Faze
de mim o que desejares.
Adotaste, nesta noite,
por filhos de teu
coração todos os
parentes em cuja memória
ainda vivo. Amparaste-me
o filho demente,
ajudaste-me a esposa
alucinada,
protegeste-me a nora
infeliz, socorreste-me a
neta indefesa e
repreendeste os que me
perturbavam sem motivo
justo... Como não
enlaçar, agora, as
minhas mãos com as tuas
na salvação da pobre
mulher que amas por
filha? Ainda que ela
própria me houvesse
apunhalado mil vezes,
teu pedido, após o bem
que me fizeste,
redimi-la-ia ao meu
olhar..." E, detendo a
custo o pranto que lhe
manava espontâneo,
Saldanha colocou-se
inteiramente à
disposição de Gúbio,
para servi-lo. Passou-se
então à articulação do
plano de ação. Daí a
pouco Saldanha retornou
ao aposento e dirigiu a
palavra a um dos
hipnotizadores em
serviço: "Leôncio, nosso
projeto mudou e conto
com a tua colaboração".
"Que houve?", indagou
com curiosidade o
interpelado. "Um grande
acontecimento... Temos
aqui um mago da luz
divina", disse-lhe
Saldanha, que, em traços
rápidos, narrou-lhe os
acontecimentos daquela
noite. Leôncio
aquiesceu, de pronto, ao
pedido do diretor da
falange, advertindo,
porém, quanto a Gaspar
(o outro hipnotizador),
que não se achava,
segundo sua avaliação,
em condições de aderir
ao novo projeto.
Saldanha pediu-lhe
ficasse tranquilo,
porque tudo seria
acertado. (Cap. XIV, pp.
179 a 181) (Continua
no próximo número.)