CLÁUDIO PELLINI
VARGAS
prof.pellini@yahoo.com.br
Juiz de Fora,
Minas Gerais
(Brasil)
A
individualidade
resulta em
parceria: será
um paradoxo?
Muitas mudanças
marcaram o
início do novo
milênio. Não foi
apenas o avanço
tecnológico, mas
também as
relações
afetivas, que
passam por
profundas
transformações e
descobrem, lenta
e
gradativamente,
o verdadeiro
conceito de
amor.
O que parece
natural na
contemporaneidade
é que os
indivíduos
busquem uma
relação
compatível com
os tempos (pós)
modernos, na
qual exista uma
individualidade
saudável, que
traz em conjunto
o respeito, a
alegria e o
prazer de estar
junto, e não
mais uma relação
de dependência,
em que um
responsabiliza o
outro pelo seu
bem-estar.
A ideia de uma
pessoa ser a
solução para
nossa
felicidade,
nascida com o
romantismo, está
fadada a
desaparecer
neste novo
milênio. Esse
“amor romântico”
parte da idéia
de que somos uma
fração e que
precisamos
encontrar nossa
“outra metade”
para nos
sentirmos
completos. Até
pouco tempo
atrás,
acreditava-se
que o outro era
a alma gêmea,
mas, na verdade,
esse outro foi
inventado ao
nosso próprio
gosto, sendo
ainda de costume
a espera e a
cobrança de algo
em troca do amor
dedicado
inicialmente.
Por vezes
ocorria até um
processo de
coerção de
identidades que,
historicamente,
sempre atingiu e
prejudicou mais
o segmento
feminino (na
verdade, isso
ainda ocorre).
Quase da mesma
forma, a teoria
dos “opostos que
se atraem”
também vinha
dessa raiz: se
um é manso, o
outro deve ser
agressivo; se um
é ciumento ou
possessivo o
outro deve ser
mais liberal; se
um trabalha
muito fora do
lar o outro deve
ficar mais no
lar; e assim por
diante. Uma
ideia prática de
sobrevivência,
mas ao mesmo
tempo egoísta e
nada “romântica”
por sinal.
Nas boas
relações
afetivas não há
cobranças, mas
sim diálogo.
Ninguém exige
nada de ninguém,
todavia ambos
crescem ao se
aconselharem,
mas para isso é
primordial a
humildade de
saber ouvir.
Relações de
dominação ou de
concessões
exageradas são
coisas do século
passado, ou
melhor, do
milênio passado.
O outro, com o
qual se
estabelece um
elo, não é um
“príncipe
encantado” ou um
“salvador” de
coisa nenhuma.
Mas sim um
companheiro de
viagem em um
momento de
experiências
efêmeras e de
ajuda mútua.
Neste contexto,
a palavra de
progresso para
este século
parece ser
entendida melhor
como parceria.
Troca-se o amor
de necessidade,
pelo amor de
desejar estar
perto. Eu gosto
e quero a
companhia, mas
não dependo, o
que é muito
diferente.
O avanço
científico-tecnológico
e o processo de
globalização
influenciam
nossas vidas de
inúmeras formas.
Seja de maneira
positiva ou
negativa, a
sociedade atual
já não é mais a
mesma que era há
poucos anos
atrás, pois a
velocidade da
comunicação
parece ser o
grande
diferencial de
tais
transformações.
Assim, com tal
influência
ocorrendo em
tantos campos da
vida, quase que
naturalmente o
ser humano passa
a ter também que
lidar de forma
diferente com
sua
individualidade,
ou melhor, com o
“estar
sozinho”.
A despeito do
conhecimento
sobre os tipos
de socialização
existentes nos
dias de hoje,
que parecem mais
virtuais do que
reais (onde as
pessoas trocam
suas relações de
forma rápida e
instável por
meio de conexões
e desconexões),
observa-se,
simultaneamente,
que indivíduos
ficam mais tempo
sozinhos diante
dos
computadores, o
que exige,
consequentemente,
mais tempo
individual.
Assim, as
pessoas parecem
também estar
perdendo o
“pavor” de ficar
sozinhas, e
aprendendo
(de alguma
forma) a
conviver melhor
consigo mesmas.
Isto pode
favorecer
uma percepção
pessoal de que
elas são uma
fração de algo
(maior e mais
profundo), mas
que são inteiras
ao mesmo
tempo. Todavia,
convém anotar
que permanecer
algum tempo
“sozinho
virtualmente”
não pode ser
significado de
uma alienação
que desprestigie
ou desestruture
relações reais.
Isto posto,
parece
compreensível
que a sociedade
avança para uma
era da percepção
da
individualidade,
o que não tem
nada a ver com
egoísmo. O
egoísta não tem
energia própria,
pois se alimenta
do que vem do
outro (seja de
forma
financeira,
sentimental,
intelectual ou
moral). Tal
processo pode
culminar com o
ódio e,
possivelmente,
com uma
separação
momentânea, pois
sabemos que os
grilhões do
desafeto, um
dia, terão de
ser rompidos
pelo perdão.
Esta sim parece
uma lei
imutável: a
libertação pelo
amor. Tal
percepção da
individualidade
leva ao encontro
da paz e da
felicidade
interna, ou
melhor, a
perceber que
esta paz só
existirá após a
consciência
tranquila do bem
realizado em
atos,
pensamentos e
sentimentos.
O amor sincero
tem significado
puro e profundo.
A
individualidade
equilibrada que
leva à
parceria
visa à
aproximação de
inteiros, e não
à união de
metades. E ela
só é possível
para aqueles que
conseguem
conviver em
plenitude com
momentos de
introspecção.
Assim,
entende-se que
quanto mais o
Espírito for
competente para
viver sozinho
com maturidade,
tranquilidade e
equilíbrio, mais
preparado estará
para uma boa
relação afetiva.
Por vezes, ficar
sozinho traz
reflexões
importantes. O
que não
significa
isolar-se do
mundo e de
todos. O
apóstolo Tiago
(o Menor), por
exemplo,
isolou-se até
que o Cristo
chamou sua
atenção. Não há
como evoluir
isolado, pois
não haveria
mérito. Conviver
e trabalhar são
nossos maiores
desafios. É no
relacionamento
humano que
podemos superar
nossas
principais
mazelas.
Entretanto,
parece ser
importante que
as pessoas
possam ficar um
pouco sozinhas,
meditar de vez
em quando, para
estabelecer um
diálogo interno
e descobrir sua
força pessoal.
No campo da
mediunidade,
inclusive, é
altamente
recomendável,
segundo os
Espíritos
superiores, que
o médium
encontre
momentos de
meditação e
introspecção.
Moisés, João
Batista e Paulo
meditaram nos
ásperos desertos
dos tempos
antigos, sempre
buscando
equilíbrio para
harmonizarem-se
com o “Alto” e
conduzirem de
forma apropriada
suas vidas e
suas missões.
Chico Xavier
meditava por
horas antes de
iniciar suas
preciosas
psicografias.
Com estes
exemplos,
verificamos que,
em momentos de
solidão
temporária, o
indivíduo
entende que a
paz de espírito
só pode ser
encontrada
dentro dele
mesmo. Ao
perceber isso,
ele entende o
valor do
silêncio e se
torna até mais
crítico, porém
mais
compreensivo
quanto às
diferenças (algo
difícil na
contemporaneidade),
respeitando a
maneira de ser
de cada um,
justamente por
perceber
primeiramente
suas próprias
limitações.
Muita paz!