LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Servos de
Deus
Existe uma história
muito bonita contada
pelo Irmão X, no livro Estante
da Vida,
psicografada por F. C.
Xavier, com o título
“Parábola do Servo”, na
qual ele narra as
dificuldades pelas quais
passa um Espírito nobre,
até alcançar a condição
de Servo de Deus, isto
é, daquele que traz,
dentro de si, o Reino de
Deus com a pureza e a
humildade que ele
representa, às quais
Jesus se refere no
capítulo 8 de O
Evangelho segundo o
Espiritismo.
Nosso narrador fala, em
verdade, do nosso
caminhar e das ilusões
fantasiosas que criamos
para fugir ao
compromisso assumido,
diante das leis divinas,
de sermos os gestores de
nossa própria evolução
espiritual, únicos
responsáveis pelas
consequências de nossos
atos, palavras ou ações
que podem nos
impulsionar ou nos
atrasar nesse processo
de crescimento.
Assim, segundo a
história que o benfeitor
espiritual narra,
tornamo-nos,
primeiramente,
provedores, na
medida em que nos
preocupamos somente com
nossa apresentação
pessoal, com a casa onde
moramos, com o ano e o
modelo do carro que
temos e, até mesmo, com
o uso dos recursos
materiais na prática do
bem, através da
distribuição de
alimentos, remédios e
agasalhos. É louvável
nosso comportamento, mas
é necessário que
aprendamos a plantar as
bênçãos do Amor.
E outra vez, retornamos
ao planeta, em nova
oportunidade, mas
preocupados, ainda, com
a opinião alheia. Muitas
vezes, de posse de
grandes valores ou de
cargos elevados,
ajudamos a construir
estradas, escolas,
casas, estimulamos as
artes, ajudando, dessa
forma, milhares de
pessoas. Realizamos o
que nos é possível,
naquele momento
evolutivo, dentro da
nossa capacidade de
entender o que seja amar
ao próximo como a nós
mesmos. Entretanto,
mesmo realizando muito,
somos, tão somente, administradores, porque
não cultivamos a lavoura
do Amor.
Depois, nos são dadas
outras novas
oportunidades de voltar
à matéria, e avançamos
mais um pouco,
tornando-nos, então, benfeitores, na
medida em que, através
de ganhos, podemos
assalariar empregados
que nos representem
junto aos necessitados,
distribuindo socorro,
consolação, criando
instituições que
abriguem as misérias
humanas. Todavia, apesar
de todo o nosso empenho
em dar condições para
que muitas pessoas
possam ajudar, em nosso
nome, aos necessitados
de todos os quilates,
ainda não conseguimos
semear o Amor.
Mas Deus, Pai de
misericórdia,
concede-nos mais
retornos, até que
aprendamos a abandonar
as ilusões. E,
despreocupados com as
aparências, com a posse
de bens, renunciando a
todas as vantagens que
esses bens possam
trazer, sejam títulos,
nome de família,
recursos financeiros, ou
posição social,
entregamo-nos,
pessoalmente, em
benefício dos outros,
preferindo ser útil:
sossegando aflições
alheias, apagando
discórdias que poderiam
levar a crimes,
dissipando as trevas da
ignorância, lutando para
que a luz alcance as
criaturas, levantando os
caídos da estrada da
vida sem nos
incomodarmos com a
calúnia, a perversidade
ou a ingratidão. E
agora, mais conscientes
dos nossos compromissos
junto aos semelhantes,
e, mesmo acreditando que
ainda não merecemos o
título de servos, ei-nos
atravessando o lugar
onde o céu se encontra
com a Terra e onde se
inicia a claridade
celeste, cobertos de
glória, coroados em
luzes.
Esta história do Irmão X
convida-nos a profunda
reflexão acerca da nossa
preparação para
avançarmos um pouco mais
no nosso progresso
espiritual. Hoje,
ainda, precisamos de
balizas que nos coloquem
na rota certa. Por isso,
os ensinamentos de Jesus
são tão importantes,
pois não conseguimos
caminhar sozinhos por
medo de nos soltarmos
das ilusões.
A passagem evangélica
contida no capítulo 8,
citada acima, tão
conhecida e tão mal
interpretada, mostra-nos
que precisamos ter
pureza e humildade em
nossos corações – como
uma criança, símbolo
tomado por Jesus –,
deixando de vez esse
coração que ainda abriga
sentimentos inferiores,
que a criança ainda não
tem.
O símbolo é importante
porque temos, de um
lado, essa criança
física representando a
pureza de coração que,
para Jesus, quer dizer o
“amor a todos os
semelhantes”; enquanto
que, do outro lado,
temos o adulto,
representando o
sentimento contrário, ou
seja, o egoísmo, que
quer dizer o amor
individualista e apego a
tudo que signifique
posse pessoal.
Por conta disso somos
fracos, viciosos,
doentes da alma,
crianças espirituais que
precisam do Mestre para
que nos tornemos fortes,
puros e saudáveis.
A consciência desse Amor
– existente em nós desde
a nossa criação –, que
nos transformará em Servos
de Deus, requer
exercício constante,
intenso e prolongado.
Necessitamos superar o
provedor, o
administrador e o
benfeitor; é fundamental
derrubarmos a muralha
que nos separa do Pai
para alcançarmos, em
definitivo, o título de
Servo. O modelo a ser
seguido, Jesus; o
caminho a ser
percorrido, a ação no
bem; a bússola a ser
seguida, o Evangelho.