MARCOS PICKINA
marcospickina@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Nossa costumeira
conduta
e o silêncio
O humano
(demasiado
humano, na
lembrança de
Nietzsche) tem a
tendência de
enaltecer
determinados
conteúdos
negativos,
posturas que
abordam sintomas
e não virtudes
(basta lembrar a
conduta
costumeira de
tachar aquele
que sofre de
determinada
doença como
pagador de
erros, criminoso
do passado, que
fez isso ou
aquilo).
Muito há a se
considerar e o
assunto
demandaria
longas páginas.
Mas três pontos
podem resolver a
problemática:
(1) Pouco
sabemos de
nossas próprias
vidas – a
caminhada é
revelada aos
poucos –, como
podemos então
falar sobre o
outro? Não
sabemos se é
prova, resgate
ou pedido. (2)
Quem aqui está
que nunca errou?
(3) A Justiça
Divina opera-se
– segundo uma
ordem justa e
misericordiosa –
com base na
reparação e não
no “pagamento de
crimes ou
pecados”. Todas
estas questões
levam ao
silêncio.
Considero de
extremo valor a
passagem de
Paulo no
Capítulo
Bem-Aventurados
os
Misericordiosos
quando trata do
Perdão das
Ofensas. Chama a
atenção daquele
que diz ter sido
ofendido,
levando-o à
profunda
autorreflexão(*),
fazendo-o
questionar se
não tem parte na
ofensa e, mesmo
quando assim
nada tenha a
reprovar em sua
conduta, maior
será o seu
mérito se se
mostrar
indulgente. E o
que isso revela?
Qual deve ser a
nossa postura
diária com
aquele que nos
agride, que
invade a nossa
intimidade, que
ultrapassa os
seus limites e
avança sobre o
direito alheio?
Penso que não é
possível
exigir-se do
humano, ainda em
construção,
condutas
militares com
relação às suas
reações
(pratique o
Evangelho,
ou...). Uma
melhor leitura
trará a
lembrança de que
os Espíritos
Superiores
possuem uma
seriedade
amorosa,
conduzem seus
ensinos com base
na compreensão e
no amor. E tudo
isso é realizado
de forma
gradativa. A
postura deve ser
gradativamente
readequada, do
contrário, não é
apreendida, não
é introjetada, e
volta-se,
depois, com mais
ênfase no
problema do que
na solução.
O amor –
sentimento que
pulsa por trás
do perdão do
outro e de nós
mesmos – não se
impõe. Amor não
se mistura a
controle,
repressão,
obrigação.
Sim, precisamos
pensar o
Evangelho no
cotidiano. Mas a
prática deve ser
consciente. A
necessidade de
repensarmos
nossas atitudes,
a forma como
lidamos com o
outro em nossas
vidas devem ser
trazidas à luz
das lições
deixadas no
principal livro
do Espiritismo e
isso deve ser
feito com base
numa vontade
interior, que
deseja sublimar
aquilo que em
nós hoje ainda
não é virtude.
Por ora, convoco
a importância do
silêncio. O
silenciar sobre
o outro
impede-nos do
julgamento e da
sintonia com
frequências
negativas. O
silêncio sobre
nós mesmos
impele-nos à
meditação e à
reflexão
interior,
caminhos
essenciais para
quem busca se
melhorar e se
compreender.
(*) “Quem sabe
se, mergulhando
em vós mesmos,
não descobrireis
que fostes o
agressor? Quem
sabe se, nessa
luta que começa
por um simples
aborrecimento e
acaba pela
desavença, não
fostes vós a dar
o primeiro
golpe? Se não
vos escapou uma
palavra ferina?
Se usastes de
toda a moderação
necessária? Sem
dúvida o vosso
adversário está
errado ao se
mostrar tão
suscetível, mas
essa é ainda uma
razão para
serdes
indulgentes, e
para não merecer
ele a vossa
reprovação.
Admitamos que
fôsseis
realmente o
ofendido, em
certa
circunstância.
Quem sabe se não
envenenastes o
caso com
represálias,
fazendo
degenerar numa
disputa grave
aquilo que
facilmente
poderia cair no
esquecimento? Se
dependeu de vós
impedir as
consequências, e
não o fizestes,
sois realmente
culpado.
Admitamos ainda
que nada tendes
a reprovar na
vossa conduta,
e, nesse caso,
maior o vosso
mérito, se vos
mostrardes
clemente.” [in.
O Evangelho
segundo o
Espiritismo,
trad. Herculano
Pires. 14 ed.
São Paulo:
Edições FEESP,
1998. P. 133]