MARCUS
VINICIUS DE AZEVEDO
BRAGA
acervobraga@gmail.com
Guará II, Distrito
Federal (Brasil)
Crônicas
de Natal
O Natal
da mata
Na floresta é tudo vida,
é tudo profusão. O canto
dos pássaros anima as
manhãs. Os macacos,
nossos parentes mais
próximos, agitam os
galhos com a sua
gritaria, enquanto os
animais rastejantes
passeiam lentamente pelo
solo. Araras
multicoloridas alegram o
ambiente tornando-o
igualmente
multicolorido. Na mata,
a vida surge de várias
formas e matizes. No
verme, no inseto, no
mamífero, no réptil.
Tudo é vida, mas nem
tudo é movimento. Quis
assim o Criador, a
permear a vida por cada
espaço deste mundão.
E no meio dessa mata,
entre as árvores
colossais, uma árvore se
apresenta diferente das
outras. Naquela manhã,
uma árvore havia se
transmutado, enfeitada
agora com bolas de vidro
reluzentes e
multicoloridas
penduradas na ponta de
seus galhos. Sinos e
outros adereços
espalhados pelo seu
caule contrapõem-se a
uma extensa faixa
aveludada e prateada a
envolver toda a sua
extensão. E no seu cume,
brilhante e
resplandecente, paira
fincada uma bela
estrela.
Os bichos da mata,
ressabiados pelas tantas
mazelas que já provaram
nos últimos tempos,
chegam aos poucos para
admirar aquela quebra na
rotina da floresta. As
araras aos poucos se
aproximam enquanto os
macacos emitem sonoras
gargalhadas em frente
daquela combinação de
cores. As serpentes
tentam abocanhar as
bolas de vidro sem
sucesso, na busca de
ovos suculentos. Os
índios aproximam-se com
seus curumins para
mostrar aquela novidade,
sem no entanto entender
o que levou alguém a
enfeitar daquela maneira
o que Tupã já havia
feito com tanta
maestria.
Logo, na clareira que
morava aquela árvore
aninhou-se a diversidade
da floresta em torno
daquela novidade. Todos
em um misto de espanto e
admiração pela árvore
toda enfeitada. Dias
quentes se passaram, até
que no sexto dia do ano
surge um pequeno menino
branco, com uma larga
sacola. Ao ver os índios
cultuando a árvore que
jazia envolta de bichos,
abre um largo sorriso.
Abeirando-se daquela
turba, o menino vai
recolhendo um a um os
adereços da árvore,
colocando-os na bolsa e
trazendo-a para seu
estado natural. Mais
boquiabertos ainda, os
índios e os animais, por
sinalização universal,
perguntam o porquê
daquilo. O menino,
utilizando elementos da
própria natureza,
expressa a eles que Deus
tudo criou e que, em um
dado momento da Terra,
nasceu Nosso Senhor
Jesus Cristo para
redenção de todos nós. E
o seu nascimento era
comemorado pelos homens,
em um período em que se
cultivava a paz, chamado
Natal, e a árvore era um
símbolo já antigo dessa
época.
Espantou-se o menino
observar que aquele
culto ao Criador não era
estranho para eles, que
também tinham nos seus
deuses esse ideal da
paz. A mensagem de amor
também tinha ali a sua
linguagem, em símbolos
outros, e com certeza,
se não conheciam Nosso
Senhor como ele
conhecia, conheciam e
viviam algo, ainda que
latente, de sua
mensagem, uma vez que o
ideal transcende a
carapaça corporal que
nos esconde.
Ao fim do dia, une-se o
menino aos índios e aos
animais, em uma canção
sem letra, que lembra o
Natal, que lembra o
Criador, que lembra a
vida. Que lembra que
ainda precisamos de
símbolos para nos
lembrar desses
sentimentos.