MILTON R.
MEDRAN MOREIRA
medran@via-rs.net
Porto Alegre,
Rio Grande do
Sul (Brasil)
Um momento
singular
“...é preciso
que a moralidade
vença
numericamente”
(Allan Kardec,
“As
Aristocracias”,
em “Obras
Póstumas”)
O Brasil vem
assistindo a uma
torrente de
escândalos que
acontecem em sua
mais alta Casa
Legislativa. O
Senado Federal,
instituição que,
no ideal
republicano,
deveria abrigar
homens probos,
experientes,
voltados à
defesa das
prerrogativas
dos Estados que
os elegeram, tem
se mostrado um
dispensador de
privilégios
inconfessáveis.
Por meio de uma
excrescência
jurídica, os
“atos secretos”,
nomearam-se
cargos em
comissão,
concederam-se
vantagens,
pagaram-se
mordomias,
remuneraram-se
prestadores de
serviços
particulares com
verbas públicas,
desbaratam-se,
enfim, milhões
de reais dos
cofres públicos.
Nossa incipiente
democracia tem
sido,
frequentemente,
violada por
escândalos dessa
ordem. Seria
ingênuo supor
seja isso
novidade. Quanto
mais recuarmos
no tempo, mais
identificaremos
a presença de
sanguessugas do
erário. Por
milênios, os
mais fortes e os
mais hábeis, ora
valendo-se da
força bruta, ora
invocando
pretensos
direitos
divinos, ou de
sangue, ou de
raça, ou de
corporação,
assenhorearam-se
dos bens comuns
e espezinharam
os direitos
inerentes a
todos.
O postulado de
que “todo o
poder emana do
povo e em seu
nome será
exercido” é uma
conquista
recente da
sociedade que
está longe de
ser inteiramente
praticada. É
verdade, já
somos capazes de
exercitar com
plenitude a
cidadania na
hora de eleger
nossos
representantes.
Mas estamos
distantes de
poder
fiscalizá-los
convenientemente
e nos sentimos
impotentes de
lhes evitar os
desmandos.
O momento é
singular. A
plena democracia
permitiu-nos
fortalecer os
organismos
políticos. Com
os poderes que
lhe concedemos,
a classe
política criou
uma formidável
estrutura
corporativista.
Disso decorre
que os honestos
e
bem-intencionados
que lá chegam
deparam-se com
um forte
mecanismo
protecionista
que nem sempre
lhes possibilita
agir em favor da
moralização.
Em
contrapartida,
talvez nunca,
como hoje, a
sociedade civil
esteve tão
mobilizada.
Nunca a imprensa
apontou tão
cruamente as
mazelas do poder
político.
Também,
inegavelmente,
acentua-se o
senso ético na
consciência do
povo. Está
começando uma
revolução em
prol da
transparência,
da moralidade e
da punibilidade
dos
malversadores do
interesse
público. O povo
se sente traído
e compreende que
as raízes dessa
traição se
nutrem no
lodaçal de uma
imoralidade
cultivada e
tolerada por
muito tempo e
que precisa ser
contida.
Entretanto, toda
a corrupção
pública, mesmo a
que se
institucionaliza
e assume ares de
legalidade, é
gestada na
consciência do
ser humano. Vale
dizer, produze-a
o espírito
imperfeito,
aquele que,
segundo os
mensageiros da
espiritualidade,
é ainda dominado
pelo orgulho e o
egoísmo. Mais do
que nunca, a
quem, como nós,
foi possível a
compreensão das
leis da vida
fundadas na
imortalidade e
na evolução do
espírito cabe
investir no
processo de
educação
integral do ser
humano.
Resgatar a
essencialidade
espiritual do
homem implica
também
demonstrar que
há um único
caminho para a
felicidade, em
qualquer plano e
estágio: o do
esforço pela
transformação
ética e moral.
Não se atingem
patamares de
justiça,
estabilidade
política e
social, correta
administração da
coisa pública,
sem que esses
valores se
encontrem
ancorados na
consciência
moral de cada
cidadão: de
eleitores e
eleitos, de
governantes e
governados.
Convém, enfim,
ter presente
sempre que o bem
e o mal são
escolhas do ser
humano. Que
valores públicos
gestados pelos
ideais
republicanos
exigem de cada
indivíduo um
assentimento e
uma participação
que não se
esgotam no voto
e reclamam a
ação concreta em
favor do bem
comum. Viver é,
sobretudo,
conviver,
aprendendo a
fazer da
convivência um
ideário de
justiça,
solidariedade e
fraternidade.
Seja qual for
nossa posição no
contexto social.