CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
Vaidades e
autocrítica
Conforme
avançamos no
aprendizado das
coisas maiores
de Deus e da
Vida, avulta,
espontânea, a
capacidade de
autocrítica,
fiel salvaguarda
contra os
assomos
excessivos e
enganadores das
vaidades fúteis
– como flor em
constante estado
de alerta,
dotada dos
espinhos que, a
despeito do
inebriante
perfume que dela
possa evolar,
equitativa, à
sensibilidade de
todos, revela
também ao mundo
as suas defesas
naturais.
Assim, na arena
das tarefas
associadas ao
conhecimento,
aprendizado,
prática e
divulgação
daquelas instâncias
superiores da
existência,
cabe-nos, a nós,
espiritualistas ou
despertos de
quaisquer níveis
para a vastidão
da Vida para
além dos limites
acanhados da
materialidade, o
colocar-se de
guarda e de
prontidão para
com nós mesmos,
abertos ao amor
compartilhado
nas suas mais
variadas nuances
e manifestações
de luz – mas
imunes aos
efeitos nocivos
desencadeados
por outrem,
muita vez
ingenuamente, ou
mobilizados por
ternura sincera,
ao dirigir-nos
elogios que
possam vir a
exacerbar
vaidades ocultas
e indesejáveis.
Frequentemente,
no serviço
confraterno,
seja ele na Casa
espírita, na
Loja Branca ou
por ocasião da
publicação de um
texto feliz aos
leitores,
ocorre-nos
receber
manifestações
sinceras de
apreço ou de
exaltação
entusiástica
daquilo que
realizamos.
Lembremo-nos,
todavia, e
sempre, nesta
conjuntura, que,
como bem realçou
a
Espiritualidade
através da
lúcida
Codificação
Kardequiana,
jamais nos
achamos
solitários na
realização de
quaisquer
coisas,
sobretudo
daquelas
associadas ao
trabalho
espiritista e
seus afins.
Somos, a exemplo
dos serviços
atinentes ao
dia-a-dia da
vida corpórea,
rodeados de
seres amigos das
dimensões
invisíveis,
também durante
as tarefas
ligadas ao
esclarecimento e
auxílio do
espírito humano
como ser vivente
das múltiplas
dimensões que
nos rodeiam!
Assim como
diuturnamente,
na matéria,
dificilmente
alguém realiza
isolado algo de
vulto, assim
também o esforço
conjunto é o que
imprime
exuberância e
qualidade às
realizações da
Vida Maior. Na
atividade de
equipe que
mobiliza e
desenvolve as
incontáveis
instâncias da
burocracia do
trabalho
material humano,
quanto na
produção
literária ou
artística,
reveladora das
realidades
maiores da
existência,
sempre há
presenças, aqui
e além,
inspirando,
assessorando,
assistindo,
refletindo e
influenciando,
despercebidamente.
Sempre, e em
qualquer
circunstância,
troca e
associação de
energias afins
para um
determinado
propósito.
Sempre o mérito
do feito devido
a mais de um!
Como nas
múltiplas
expressões da
Natureza
terrena, onde
nem a mais
minúscula e
insignificante
das criaturas
quanto o maior
expoente da
genialidade
humana não
prescinde das
bênçãos humildes
quão, a um só
tempo,
grandiosas da
luz solar para a
continuidade da
vida diária,
assim também, na
grande colmeia
cósmica em
movimento, neste
quanto noutros
tantos mundos ou
dimensões da
invisibilidade,
não prescindimos
dos esforços uns
dos outros para
o feito
bem-sucedido.
Aqui, não se
prescinde do
serviço
esforçado do
carteiro sob a
pena da
correspondência
de teor urgente
não alcançar o
devido destino,
originadas,
disso,
consequências
imprevisíveis!
Não há de se
depreciar,
tampouco, a
tarefa de subido
valor dos
agentes da
limpeza pública,
sem os quais o
próprio ambiente
onde convivemos
e desenvolvemos,
distraídos
disso, as nossas
atividades
se fariam
inabitáveis!
Resguardemo-nos,
portanto, dos
brilhos
enganosos das
gloríolas
pessoais e
inúteis. Até por
reverterem puro
engodo! Os de
fato grandes em
espírito de há
muito conheceram
que nenhum
avanço
significativo
fora ainda
individualmente
realizado
enquanto, a par
da intenção
correta no
caminho da luz,
palavras,
pensamentos e
atitudes ainda
não a
acompanharem, em
essência.
De nada, pois,
nos adiantará a
susceptibilidade
a elogios
extemporâneos ao
pouco que vimos
realizando,
enquanto,
contraditoriamente,
ainda supusermos
demasiado acerca
de nós mesmos e
das nossas
capacidades.
Inútil a vaidade
do trabalho
espiritualista,
se não
suportamos com
verve o revés
cotidiano que,
em momentos de
distração
traiçoeira, nos
surpreende na
reclamação
incontida de que
só nós fazemos,
ou que fazemos
melhor ou mais
que
outros. Porque é
bem aí que se
revela, funesta
aos nossos
melhores
propósitos, a
germinação da
semeadura
ingrata da
vaidade inútil!
É neste momento
que emerge,
lastimável, a
medida exata da
nossa própria
cegueira,
arrastando-nos
ao esquecimento
deplorável de
que, se algo
sofremos e
realizamos,
inúmeros outros,
incontáveis e
anônimos,
próximos ou mais
distanciados,
sofrem e
realizam incomparavelmente
mais, em
silêncio, e, no
mais das vezes,
sem queixumes e
recordando,
acima de tudo,
de louvar e
agradecer a Deus
pelo dom eterno
e maravilhoso da
Vida, com todas
as suas
oportunidades
renovadas, como
rio caudaloso e
pródigo, a cada
um dos
segundos!
Atribuamos,
desta forma, os
eventuais
elogios do
próximo aos
nossos atos
modestos
perante a
grandiosidade da
Vida à
generosidade e
aos impulsos
sinceros de
gratidão de
nossos irmãos em
jornada. De
nossa parte, por
outra,
resguardemo-nos
dentro da
autocrítica
justa para com
nós mesmos e
para com as
nossas
conquistas
íntimas, e ainda
restritas
realizações,
que, se algumas
já foram
efetivadas,
imprescindível a
consciência
clara de que
toda uma
eternidade de
aperfeiçoamento
nos aguarda
frente às
maravilhas
indizíveis de
coisas e de
seres outros do
infinito, no
qual
prosseguimos em
marcha ascensa,
destinados,
todos, a grande
herança de
felicidade –
jamais, contudo,
a uma felicidade
cujo mérito seja
atribuído aos
feitos de apenas
um pequeno e
acanhado aspecto
da Criação!