MARIA
MARGARIDA MOREIRA
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São Paulo, SP (Brasil)
Posse
material:
demorada
conquista
O homem é um ser real,
revestido de corpo
somático que lhe permite
o processo de construção
de valores ético-morais
e aquisições
espirituais, que o
tornam pleno quanto mais
conquista na escala
evolutiva com o abandono
das mazelas que lhe
constituem embaraço ao
progresso. A sua
emancipação resulta do
esforço que empreende
para vencer obstáculos
que lhe dificultam o voo
no rumo da plenitude que
o aguarda. Etapa a
etapa, no entanto,
adquire força que o
impulsiona a vencer os
empecilhos e alto
encontra-se ao longo da
marcha ascensional. Por
instinto de conservação
da vida, apega-se aos
recursos que lhe passam
pelo caminho: afetivos,
emocionais, materiais e
sem reservas morais
suficientes,
submete-se-lhes,
escravizando-se, para
depois vencer as
ingentes lutas, a
situação calamitosa a
que se atirou.
A missão inteligente do
ser humano na Terra é a
de promover o próprio
progresso, bem como o
progresso geral, e aí
reside o fim
providencial da riqueza,
que estimula a
criatividade com fins
nobres e dignifica o
Espírito. A propriedade
é conquista que resulta
de longas buscas nos
relacionamentos humanos,
objetivando a harmonia e
respeito pelos valores
indispensáveis às trocas
que fomentam o comércio,
que nobilitam a
existência e promovem o
progresso.
Normalmente, porém, é
aquisição digna de cada
qual que envida
sacrifício e habilidade,
conhecimento e labor a
fim de adquiri-la,
pensando de forma
providencial nos dias
difíceis da velhice, da
enfermidade e da morte.
A sociedade, de alguma
forma, estabelece seus
sistemas nos valores e
posses dos grupos afins
(entidades congêneres e
nações) e seus recursos
de modo a facilitar o
intercâmbio, bem como a
competitividade de
produtos e bens de
consumo entre as pessoas
e os povos da Terra.
Isso tem um fim
providencial, que é
desenvolver a indústria,
a ciência, fomentar as
artes, facilitar a
comodidade e propiciar
valores que contribuem
para a sobrevivência dos
indivíduos e grupos
humanos. Portanto,
entregar-se à sua
conquista é dever de
todo indivíduo que pensa
e faz parte da
sociedade. A família
depende desses recursos,
como a própria criatura,
trabalhando em favor da
harmonia do agrupamento
no qual se encontra
colocada.
O risco da posse ou da
aquisição da propriedade
não está no fato em si
mesmo de consegui-la,
mas na maneira como se
dá, além do que
representa
emocionalmente. A posse
que leva à riqueza, à
fortuna, também facilita
os desmandos, o
exacerbar dos
sentimentos vis como o
orgulho, o egoísmo, a
vaidade desmedida, a
alucinação em detrimento
do enriquecimento
interior, que se
consegue através da
abnegação, da renúncia,
do devotamento e,
sobretudo, da seleção de
valores entre aqueles
que são eternos e os
efêmeros.
Segundo Kardec, “se a
riqueza somente males
houvesse de produzir,
Deus não a teria posto
na Terra. Compete ao
homem fazê-la produzir
bem”; por isso, Ele
faculta a riqueza,
proporcionando recursos
ao ser humano para
desenvolver a
consciência e ampliar os
sentimentos superiores.
Mais importante, porém,
do que os amoedados e
acumulados em arcas ou
bancos, são aqueles de
ordem emocional e
espiritual, moral e
social: os sentimentos
do dever que decorrem da
consciência que atua em
consonância com as
Soberanas Leis da Vida.
São esses tesouros, sem
dúvida, mais preciosos
que os materiais que
podem transformá-los em
valiosos empreendimentos
salvadores de vida, como
a instrução, a educação,
a libertação dos vícios
em razão do amparo no
campo da saúde e do
trabalho, propiciando
felicidade em toda
parte.
Através da postura do
amor e da caridade surge
a compreensão de como
aplicar-se a riqueza,
multiplicando-a em obras
que favoreçam a todos os
seres com oportunidade
de desenvolvimento dos
valores internos. Na
pobreza ou na riqueza, o
ser adquire experiências
valiosas que lhe devem
constituir patrimônio de
crescimento no rumo do
Infinito.
Jesus compreendia a
finalidade superior da
propriedade, por isso
valorizou-a quando
conviveu com homens de
bem e com aqueles que
possuíam recursos,
estimulando-os, porém, a
buscar o reino dos céus,
de que se haviam
esquecido. Quando o
Mestre Divino se
reportou aos ricos,
aparentemente
apresentando palavras
duras, não se deteve
somente na referência
aos detentores de
coisas, moedas, minerais
preciosos, propriedades,
escravos, mas, também,
aos possuidores de
exacerbado orgulho, de
incomum dureza de
sentimentos, de rancor,
de ódio, de presunção e
de avareza, que, também,
são possuidores de
preciosos bens (na sua
essência), de que não se
dispõem a libertar. Para
que ficasse inolvidável
a lição, narrou, então,
a parábola do rico que
era dono de terras, que
cuidava de ampliar a
fortuna até o excesso, e
quando já não tinha mais
onde armazenar os
haveres, propôs-se a
dormir e a desfrutar de
todos os bens até a
exaustão, esquecido de
que naquela noite o
Senhor da Vida lhe
tomaria a alma.
Aplicar a sã virtude da
caridade faz que mais
autoenriqueça o
administrador, do que
apenas amealhando nos
cofres da usura e da
avareza, nos quais perde
totalmente o significado
conforme é atribuído
pela sociedade aos bens
materiais.
Viver o presente tempo,
como presente, dádiva em
constante serviço de
construção interior,
exercendo a ação de
enriquecimento geral, é
o dever que cabe aos
possuidores de riquezas
que as tornarão
abençoadas pelas
contribuições que
espalharem em torno de
seus recursos.
Portanto, a fortuna,
seja como for que se
manifeste, é alta
responsabilidade para
seu detentor, que terá
de prestar contas,
inicialmente a si mesmo,
pelo acordar da
consciência responsável
– quando desperta e se
impõe a culpa pelo seu
mau emprego – e diante
da Consciência Cósmica
da qual ninguém se evade
por presunção, capricho
ou infantilidade
emocional.
Referências:
JOANNA DE
ÂNGELIS (Espírito).
Jesus e o Evangelho à
Luz da Psicologia
Profunda,
[psicografado por]
Divaldo Pereira Franco –
2ª ed., Salvador/BA-LEAL
editora – 2005 –
“Propriedade e Avareza”.
KARDEC,
Allan. O Livro dos
Espíritos – 66ª ed.,
FEB Editora – Rio de
Janeiro/RJ – questão
811.
KARDEC,
Allan. O Evangelho
segundo o Espiritismo
– 2ª ed., Livraria e
Editora Humberto de
Campos, São Paulo/SP –
1990 - Cap. 16 e 17.
EMMANUEL
(Espírito). Fonte
Viva, [psicografado
por] F. C. Xavier – 20ª
ed., FEB editora – Rio
de Janeiro/RJ – 1956,
lição 9.
EMMANUEL
(Espírito). Caminho
Verdade e Vida
[psicografado por]
F.C.Xavier – 25ªed., FEB
Editora - Rio de
Janeiro/RJ – 2005 –
lições 56, 58 e 59.