MARCUS
VINICIUS DE AZEVEDO
BRAGA
acervobraga@gmail.com
Guará II, Distrito
Federal (Brasil)
Crônicas
de Natal
Cadê o menino?
Na grande Belém, em uma
casa simples, porém
aconchegante, havia
nascido o menino Jesus.
Menino robusto, desde
cedo teve contato com o
mar, caminhando com a
sua mãe para o mercado
do Ver-o-peso.
Sempre assistia ao Círio
e acompanhava seu pai
nas idas à Praia do
Mosqueiro, para vender o
artesanato em madeira
que ele produzia. Mas
aquele dia era especial
para o pequeno Jesus.
Completaria doze
primaveras e seu cabelo
negro já denotava
feições de um rapazinho.
Sua mãe, apesar das
dificuldades reinantes,
juntou uma modesta
quantia para que naquele
dia de dezembro pudesse
presenteá-lo. Seria uma
festa singela, com a
presença de alguns
amigos e, por
insistência do menino, a
presença de alguns
animais que ele ajudava
o pai a criar com muito
carinho.
A mãe se debulhava na
tapioca e no doce de
cupuaçu e já havia até
chamado o padre da
paróquia para dizer
algumas palavras bonitas
por ocasião do
“Parabéns”.
Tudo pronto para o
começo da festa, os
convidados chegando, o
som tocando e o burrinho
amarrado na porta como
solicitado pelo menino.
E cadê o menino? Jesus
havia desaparecido de
sua festa. Os convidados
já queriam se lambuzar
com os saborosos
quitutes, mas Jesus
havia desaparecido.
Após uma procura
incessante pela mata,
pelas cachoeiras
próximas, pela rua...
ninguém sabia de Jesus.
A cada menino moreninho
que a mãe via, pensava
ser seu filho. As
crianças, inquietas,
fruto de seu
egocentrismo infantil,
só pensavam em ir
embora, quando o padre
sugeriu sabiamente que
as crianças trocassem
entre si os presentes
que seriam para Jesus,
na busca de acalmá-los.
A noite caiu. Da festa
nada ficou, além de uma
leve música ao fundo.
Dia após dia, fotos no
jornal, chamadas em
praça pública e ninguém
mais sabia daquele pobre
menino belenense, filho
único, que tanta alegria
trouxe aos seus.
A verdade é que Jesus
havia desaparecido e a
cada ano, naquela data,
seus pais lembravam
saudosos aquela data.
Faziam pequenas trouxas
de roupas e alimentos e
distribuíam naquela data
a várias crianças pobres
da grande Belém. Do
mais, ninguém recordava
de Jesus.
Naquele dia do mês de
dezembro, mais um Jesus
desaparecia de sua
festa. Se o primeiro,
que fez de sua vida uma
mensagem, já havia sido
esquecido, o que dizer
do segundo, que mal
iniciou a sua jornada?