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Crônicas e Artigos
Ano 3 - N° 121 - 23 de Agosto de 2009

ÂNGELA MORAES
anjeramoraes@hotmail.com
Bauru, São Paulo (Brasil)

 
A instabilidade financeira

(Conto espírita)

“Tende cuidado de preservar-vos de toda avareza, porquanto, seja qual for a abundância em que o homem se encontre, sua vida não depende dos bens que ele possua” (S.Lucas, cap. XII, vv.13 a 15).


Carlos sempre fora dedicado funcionário, daqueles que não têm preguiça e não escolhem serviço. Começara cedo, desde o colegial, a fazer uns bicos aqui e ali, de forma que pudesse comprar sozinho sua própria roupa do final de semana, ou pagar o refrigerante da namorada. Entrou na faculdade com planos brilhantes e uma forte cobrança interior: eu vou vencer antes dos trinta! Antes mesmo do término do curso, já havia se engajado em diversos serviços aqui e ali que lhe ofereciam boas referências para quando se formasse. Em um desses bicos, no entanto, conheceu o Alcântara, dono de uma imobiliária classe A, rara nesse segmento. Encantado com a desenvoltura de Carlos, convidou-o ao trabalho com boas chances de comissão e, se ele fosse bem, providenciaria o Creci para regularizar-lhe a situação. Não era a área para a qual estudava, mas a ideia de ‘fazer seu próprio salário’ sorriu ao pensamento do jovem, que, de ego valorizado, ousou acreditar no seu próprio taco, como aconselharia qualquer pessoa, não fosse sua mãezinha: 

– Termine os estudos, filho. Depois você escolhe! 

Mas não teve jeito, Carlos estava decidido. Trancou a matrícula da faculdade e, seis meses depois, sem vender um só imóvel, começou a desanimar. Alcântara era bom motivador e alimentava seus sonhos de opulência, por esse motivo não havia ainda desistido, mas a sensação de que a vitória estava a um palmo de sua mão estava começando a soar com ilusão. “Se eu vender só um daqueles apartamentos de ricaço, estou feito por cinco anos!”, pensava. Mas as negociações eram bem mais complexas do que imaginava. Viu que gente rica não tem pressa, e havia muita politicagem que ele, inexperiente e ingênuo, ficava de fora. Além disso, não era homem de viver tão sem dinheiro, estava melhor fazendo seus bicos do que naquela busca frenética pelo alto faturamento. Embalado nesse pensamento mais humilde, achou por bem retomar os estudos e formar-se, ao que teve todo o apoio dos pais no complicado recomeço. Surpreendeu-se, no entanto, quando voltou à faculdade: os contatos que tinha dois anos antes haviam se perdido no mundo, deparou-se com colegas que pareciam muito mais novos que ele, os bicos que antes fazia agora não rendiam mais. Formou-se com dureza, sentindo-se algo culpado por ter perdido tempo de sua vida em uma ilusão, e agora estava atrasado em seu objetivo de vencer antes dos trinta, como almejara. Como não conseguira estagiar no último ano, correra de empresa em empresa levando currículo, enquanto seu espírito inquieto arquitetava maneiras empreendedoras de se virar na vida. Pesquisara um pouco e achara por bem tentar um negócio próprio, com a sociedade do amigo de infância, Aurélio, que reencontrara em um boteco, um final de semana antes. Por que não?, deixou seu espírito apaixonado pelo risco levá-lo novamente. “Não tenho nada a perder e, se ganhar, posso virar o empresário do século antes dos trinta”, sorriu seu espírito vaidoso. A ideia do amigo era de montar um pequeno negócio para fabricar camisetas estampadas com exclusividade, o investimento era de baixo valor em maquinaria e eles iriam dispensar funcionários a princípio, fazendo eles mesmos todo o trabalho. Assim, Carlos fez um pequeno empréstimo bancário juntamente com o sócio, montaram a estamparia no fundo do quintal de sua mãe, e botaram a mão na massa. Começaram desembolsando o custo dos tecidos e tintas iniciais, precisavam primeiro mostrar seu produto pra depois adquirirem mais clientes. Dedicaram-se a estruturar a produção, os desenhos, acertar as máquinas, na qualidade ideal de tinta, no melhor tempo de secagem, enfim, os dois trabalhavam de sol a sol, e as vendas começaram timidamente. Depois de quase um ano, sentia em si plena satisfação sobre um trabalho excelentemente executado: as camisetas eram lindas, diferentes e criativas. Só tinha um problema: não conseguiam preço competitivo no mercado, e os gastos e juros bancários aumentavam mês a mês. Depois de mais um ano de tentativa, os amigos choraram juntos o fechamento de seu negócio, embora tivesse na alma o dever cumprido. Com a venda das máquinas e do estoque a preço de custo, conseguiram quitar a maior parte das dívidas e Carlos via-se, então, aos 27 anos, de novo na estaca zero.  

Convidado por um dos clientes a trabalhar em sua área de criação, Carlos finalmente entrou em uma “empresa grande”, que poderia lhe render a tão sonhada estabilidade financeira – mas não antes dos trinta. Conformara-se. Começou aprendendo sobre a cultura da empresa, percebeu que havia uma hierarquia e fortes políticas pra subir, mas não se fez de rogado. Não escolheu serviço, atirou-se ao trabalho, aprendeu tudo o que pôde e, mesmo não conseguindo a promoção antes do quinto ano dentro da empresa, foi administrando o salário, comprara seu carro próprio e estava dando entrada em um apartamento, que pagaria com empréstimo da Caixa. Quando promovido, viu que a diferença salarial não era tanta, e o caminho ainda era longo. Aos 35 anos, olhou pra sua trajetória e algo de revolta amargou dentro de si: sempre trabalhara direito, com dedicação e motivação, nunca faltara com a ética nem pisara em ninguém. Por que era tão difícil conseguir vencer na vida? Por que, a caminho dos quarenta anos, não tinha conseguido um quarto do patrimônio que colocara a si como meta até os trinta? Que amarração seria aquela na vida, teriam feito algum ‘trabalho’ pra ele? Ou será que a vida era injusta e mimada mesmo, dando do bom e do melhor sem nenhum critério? Lembrou-se dos colegas favorecidos por promoções que julgava imerecidas; lembrou-se de gente que ganhou na loteria; lembrou-se dos sortudos que saem na capa da Exame ou da Você SA, ostentando altos cargos e salários com vinte e poucos anos. E ele?  

Uma luz clareou seu pensamento. Intuitivamente, se deu conta de que nunca saberia a resposta e resignou-se. Foi quando, pela primeira vez, conseguiu ouvir a voz de seu mentor: “é só trabalho, Carlos”. Resolveu olhar em torno de si. Encontrou toda uma seção com gente como ele, que lutava como ele, e estava ali como ele. Realmente, nem todo mundo vira estrela, e se era o destino dele ou não, deixou de se importar. Até porque, olhando para os demais, finalmente viu Cíntia, que lhe retribuía o olhar. Era a primeira vez que a notava, apesar dos vários anos que dividiam a repartição. Em dois anos, casaram-se. Em mais alguns, Carlos recebeu sua pequena Clarice. Quando percebeu, beirava os cinquenta, mas sentia-se plenamente realizado. Ainda pagava o apartamento para onde se mudara ao casar, ainda tinha um carro velho, e não saíra na capa da Exame. Mas tinha exatamente tudo de que precisava. 
 


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita