114. Kardec faz ligeira
alusão à obra A Vida
de Jesus, escrita
pelo Sr. Renan, cuja
dedicatória posta no
topo do livro à sua irmã
Henriette revela mais
que um vago pensamento
espiritualista. As
palavras dedicadas a
Henriette - observa o
Codificador do
Espiritismo - mostram
que o Sr. Renan imagina
que sua irmã esteja a
seu lado, que o pode ver
e inspirar e se
interessa por seu
trabalho. Há entre ele e
a falecida uma troca de
pensamentos, uma
comunicação espiritual
e, sem o suspeitar, ele
faz, como tantos outros,
uma verdadeira evocação.
(PP. 134 a 136)
115. Por que então o Sr.
Renan inclui a doutrina
espírita entre as
crenças supersticiosas?
A causa é conhecida: o
Sr. Renan não admite o
sobrenatural nem o
maravilhoso. Ora, se ele
conhecesse o estado real
da alma após a morte e
as propriedades de seu
envoltório
perispiritual,
compreenderia que o
fenômeno das
manifestações espíritas
não foge às leis
naturais e que para isto
não é necessário
recorrer ao maravilhoso.
(P. 136)
116. No final do artigo,
Kardec explica por que
razão o Espiritismo se
serviu do vocábulo
Espírito, em vez de
alma. Três foram
os motivos. Primeiro
porque, desde as
primeiras manifestações,
o vocábulo era usado,
antes da criação da
filosofia espírita. Em
segundo lugar, porque se
o vocábulo Espírito era
repulsivo para algumas
pessoas, constituía um
atrativo para as massas
e deveria contribuir
mais que o outro para
popularizar a doutrina.
O terceiro motivo é mais
sério que os dois
outros. As palavras
alma e Espírito,
embora sejam sinônimos e
empregados
indiferentemente, não
exprimem exatamente a
mesma ideia. (P. 138)
117. A
alma é, a bem
dizer, o princípio
inteligente,
imperceptível e
indefinido como o
pensamento. Não podemos
concebê-lo isolado da
matéria de maneira
absoluta. Embora formado
de matéria sutil, o
perispírito dela faz um
ser definido, limitado e
circunscrito à sua
individualidade
espiritual. Assim,
podemos dizer: A união
da alma, do perispírito
e do corpo material
constitui o HOMEM; a
alma e o perispírito
separados do corpo
constituem o ESPÍRITO.
Nas manifestações não é,
pois, a alma que se
apresenta só. Ela está
sempre revestida de seu
envoltório fluídico.
Portanto, nas aparições
não é a alma que se vê,
mas o perispírito, do
mesmo modo que, quando
se vê um homem, vê-se o
seu corpo, mas não o
pensamento ou o
princípio que o faz
agir. (PP. 138 e 139)
118. Em resumo, a
alma é o ser
simples, primitivo; o
Espírito é o ser
duplo; o homem é
o ser triplo. (P. 139)
119. A
Revue publica o
discurso que Kardec fez
a 1o de abril
de 1864 na Sociedade
Espírita de Paris, que
completava então seis
anos de existência. (P.
140)
120. Eis alguns dos
tópicos mais relevantes
extraídos do referido
discurso: I) O sinal de
prosperidade da
Sociedade de Paris
estava inteiramente na
progressão de seus
estudos, na consideração
que conquistou, no
ascendente moral que
exerce lá fora e no
número de adeptos que se
ligam aos princípios por
ela professados. II)
Sendo a primeira
sociedade espírita
regularmente
constituída, a Sociedade
de Paris foi a primeira
a alargar o círculo de
seus estudos e abraçou
todas as partes da
ciência espírita. III)
Quando o Espiritismo mal
saía do período da
curiosidade e das mesas
girantes, ela entrou
resolutamente no período
filosófico, que, de
certo modo, inaugurou.
IV) A força do
Espiritismo não reside
na opinião de um homem
ou de um Espírito, mas
na universalidade do
ensino dado por estes
últimos. O controle
universal, como o
sufrágio
universal, resolverá no
futuro todas as questões
litigiosas e fundará a
unidade da doutrina
muito melhor que um
concílio de homens. V) A
Sociedade de Paris é
estimada e considerada,
não só pela natureza de
seus trabalhos, mas pelo
bom conceito conquistado
por suas sessões entre
numerosos estrangeiros
que a visitaram. VI) A
Sociedade de Paris tem,
contudo, sobre as demais
apenas autoridade moral,
devida à sua posição e
aos seus estudos e
porque lha conferem. Ela
dá os conselhos que lhe
pedem à sua experiência,
mas não se impõe a
nenhuma. A única palavra
de ordem que dá como
sinal de reconhecimento
entre os verdadeiros
espíritas é: Caridade
para com todos, mesmo os
inimigos. VII) A
posição da Sociedade de
Paris é, pois,
exclusivamente moral e
ela jamais ambicionou
outra. Nossos
antagonistas que dizem
que todos os espíritas
são seus tributários e
que ela se enriquece à
sua custa, ou dão provas
de má-fé ou da mais
absoluta ignorância
daquilo de que falam.
VIII) Um incrédulo que
conheceu a doutrina
espírita dizia que, com
tais princípios, o
espírita necessariamente
deveria ser um homem de
bem. Estas palavras são
verdadeiras, mas, para
serem completas, é
preciso acrescentar que
um verdadeiro espírita
deve ser,
necessariamente, bom e
benevolente para com os
seus semelhantes, isto
é, praticar a caridade
evangélica na sua mais
larga acepção. (PP. 140
a 145)
121. Kardec esclarece,
no número de maio, por
que a doutrina espírita
não é a mesma na Europa
e na América do Norte e
diz onde se encontram as
diferenças. (P. 146)
122. Como se sabe, os
fenômenos espíritas
ocorreram em todos os
tempos, tanto na Europa
como na América, mas foi
a extrema liberdade que
existe nos Estados
Unidos que favoreceu a
eclosão das ideias
novas, e essa a razão
pela qual os Espíritos
escolheram esse país
para o primeiro teatro
de seus ensinos. (P.
146)
123. Muitas vezes uma
ideia surge num país e
se desenvolve em outro,
como se vê nas ciências
e na indústria. A esse
respeito o gênio
americano deu suas
provas e nada tem a
invejar à Europa.
Contudo, se supera em
tudo no que concerne ao
comércio e às artes
mecânicas, não se pode
recusar à Europa a
primazia no campo das
ciências morais e
filosóficas. Devido a
essa diferença no
caráter normal dos
povos, o Espiritismo
experimental estava em
seu terreno na América,
ao passo que a parte
teórica e filosófica
encontrava na Europa
elementos mais propícios
ao seu desenvolvimento.
Assim, foi lá, na
América, que ele nasceu,
mas foi na Europa que
cresceu e fez suas
humanidades. (P. 146)
124. O que
particularmente
distingue a escola
espírita americana da
escola europeia é a
predominância, na
primeira, da parte
fenomênica, e, na
segunda, da parte
filosófica. A filosofia
espírita da Europa
espalhou-se prontamente,
porque ofereceu, desde o
começo, um conjunto
completo e alargou o
horizonte das ideias.
(P. 147)
125. De todos os
princípios da doutrina
espírita o que encontrou
mais oposição nos
Estados Unidos é o da
reencarnação. Aliás,
essa é a única
divergência capital,
pois as outras dizem
mais com a forma do que
com o fundo. As razões
disto é que os Espíritos
procedem em toda a parte
com sabedoria e
prudência e, para se
fazerem aceitar, evitam
chocar muito bruscamente
as ideias estabelecidas.
Desse modo, não irão
dizer inconsideradamente
a um muçulmano que Maomé
é um impostor. (P. 147)
(Continua no próximo
número.)