Em
matéria
de
Espiritismo,
só o
aspecto
científico
basta?
“(...) A
Ciência,
propriamente
dita, é,
pois,
como
ciência,
incompetente
para se
pronunciar
na
questão
do
Espiritismo”.
Allan
Kardec
(1)
A
pergunta
acima já
foi
insofismavelmente
respondida
por
Kardec
na
assertiva
em
epígrafe.
Só nos
resta
desenvolver
o tema
um pouco
mais,
visto
que
existem
muitas
Instituições
e
criaturas
que se
dizem
espíritas
e, no
entanto,
só
valorizam
e
consideram
no
Espiritismo
o
aspecto
Científico,
com
verdadeira
ojeriza
ao
aspecto
Religioso
e
absoluto
descaso
ao
segmento
Filosófico.
Bastaria
a frase
de
Kardec
acima
para
derrubar
a
fraquíssima
argumentação
desses
pseudoespíritas,
mas
podemos
nos dar
ao luxo
de
fortalecê-la
com
outros
judiciosos
apontamentos
do
próprio
Codificador
e até de
autores
não
espíritas.
Comecemos,
então,
por
Allan
Kardec,
este
nosso
trabalho,
cujo
escopo é
deixar
bem
claro o
quanto o
Espiritismo
se
empobrece
e se
mutila
ao ser
considerado
com peso
maior no
segmento
Ciência,
em
detrimento
dos dois
outros
que são
Filosofia
e
Religião,
este
último
teimosamente
substituído
pelo
termo
moral,
o que
não diz
nada,
visto
que
moral é
simplesmente
regra do
bom
proceder.
Ensina o
Mestre
Lionês
(1):
“Para
muita
gente, a
oposição
das
corporações
científicas
constitui,
senão
uma
prova,
pelo
menos
forte
presunção
contra o
que quer
que
seja.
Não
somos
dos que
se
insurgem
contra
os
sábios,
mas suas
opiniões
não
podem
representar,
em todas
as
circunstâncias,
uma
sentença
irrevogável.
Desde
que a
Ciência
sai da
observação
material
dos
fatos,
em se
tratando
de os
apreciar
e
explicar,
o campo
está
aberto
às
conjeturas.
Não
vemos
todos os
dias as
mais
opostas
opiniões
serem
alternativamente
preconizadas
e
rejeitadas,
ora
repelidas
como
erros
absurdos,
para
logo
depois
aparecerem
proclamadas
como
verdades
incontestáveis?
Os
fatos,
eis o
verdadeiro
critério
dos
nossos
juízos,
o
argumento
sem
réplica”.
Antes de
continuarmos
com
Kardec,
aditemos
aqui a
jocosa
frase do
notável
filósofo
e
escritor
inglês,
Samuel
Butler,
usando a
forma de
manchete
de
jornal:
“Um
terrível
acontecimento:
uma
teoria
soberba,
covardemente
assassinada
por um
desagradável
e
pequeno
fato”.
Vezes
sem
conto a
Ciência
permanece
alheia a
fatos
importantíssimos
que –
cedo ou
tarde –
vêm à
baila,
como,
por
exemplo,
o abalo
que
sofreu o
racismo
ao ser
recentemente
revelado
que as
semelhanças
guardadas
entre os
seres
humanos
independem
da cor
da pele
ou da
raça, o
que joga
por
terra o
“pesadelo”
nazista
de “raça
pura”. O
detalhe
genético
que
diferencia
um ser
humano
do outro
é de
apenas
0,01%.
Se a
Ciência
tivesse
revelado
isso nas
primeiras
décadas
do
século
passado,
talvez o
holocausto
não
tivesse
existido,
ou se
tivesse
acontecido,
pelo
menos
não
seria
arrolado
motivo
racial.
A
própria
psicologia
que é a
Ciência
da Alma,
nos seus
primórdios,
ignorou
a alma,
na
medida
em que a
psicologia
experimental
sofreu a
influência
de Comte,
que lhe
outorgou
o que
poderíamos
chamar
de veto
positivista.
Tal veto
pesou
sobre a
psicologia
desde a
metade
do
século
XIX, o
que nos
faz
perguntar
como,
apesar
disso,
ela
conseguiu
se
constituir
em
ciência.
A
psicologia
ainda
não se
emancipou
desse
veto,
uma vez
que
ainda
existe
muita
interrogação
científica
no que
diz
respeito
à
origem,
destino
e
natureza
dos
Espíritos.
Portanto,
é
inegável
a
trapalhada
em que
se meteu
a
ciência
ao longo
dos
tempos,
e embora
não a
estejamos
menosprezando,
podemos
afirmar
que ela
não
possui
argumentos
convincentes
para
combater
o que o
Espiritismo
revela
com
tanta
propriedade
e
insofismável
clareza.
Voltemos
a Kardec
(1):
“(...)
Com
relação
às
coisas
notórias,
a
opinião
dos
sábios
é, com
toda
razão,
fidedigna,
porquanto
eles
sabem
mais e
melhor
do que o
vulgo.
Mas, no
tocante
a
princípios
novos, a
coisas
desconhecidas,
essa
opinião
quase
nunca é
mais do
que
hipotética,
por isso
que eles
não se
acham,
menos
que os
outros,
sujeitos
a
preconceitos.
Direi
mesmo
que o
sábio
tem mais
prejuízos
que
qualquer
outro,
porque
uma
propensão
natural
o leva a
subordinar
tudo ao
ponto de
vista
donde
mais
aprofundou
os seus
conhecimentos:
o
matemático
não vê
prova
senão
numa
demonstração
algébrica,
o
químico
refere
tudo à
ação dos
elementos
etc.
Aquele
que se
fez
especialista
prende
todas as
suas
ideias à
especialidade
que
adotou.
Tirai-o
daí e o
vereis
quase
sempre
desarrazoar,
por
querer
submeter
tudo ao
mesmo
cadinho:
consequência
da
fraqueza
humana.
Assim,
pois,
hão de
eles
permitirem-me,
sem que
isto
afete a
estima a
que lhes
dá
direito
o seu
saber
especial,
que eu
não
tenha em
melhor
conta
suas
opiniões
negativas
acerca
do
Espiritismo,
do que o
parecer
de um
arquiteto
sobre
uma
questão
de
música.
As
ciências
ordinárias
assentam
nas
propriedades
da
matéria,
que se
pode
experimentar
e
manipular
livremente;
os
fenômenos
espíritas
repousam
na ação
de
inteligências
dotadas
de
vontade
própria
e que
nos
provam a
cada
instante
não se
acharem
subordinadas
aos
nossos
caprichos.
As
observações
não
podem,
portanto,
ser
feitas
da mesma
forma;
requerem
condições
especiais
e outro
ponto de
partida.
Querer
submetê-las
aos
processos
comuns
de
investigação
é
estabelecer
analogias
que não
existem.
A
Ciência,
propriamente
dita, é,
pois,
como
ciência,
incompetente
para se
pronunciar
na
questão
do
Espiritismo:
não tem
que se
ocupar
com isso
e
qualquer
que seja
o seu
julgamento,
favorável
ou não,
nenhum
peso
poderá
ter.
O
Espiritismo
é o
resultado
de uma
convicção
pessoal,
que os
sábios,
como
indivíduos,
podem
adquirir,
abstração
feita da
qualidade
de
sábios.
Pretender
deferir
a
questão
à
Ciência
equivaleria
a querer
que a
existência
ou não
da alma
fosse
decidida
por uma
assembleia
de
físicos
ou de
astrônomos.
Com
efeito,
o
Espiritismo
está
todo na
existência
da alma
e no seu
estado
depois
da
morte.
Ora, é
soberanamente
ilógico
imaginar-se
que um
homem
deva ser
grande
psicologista,
porque é
eminente
matemático
ou
notável
anatomista.
Dissecando
o corpo
humano,
o
anatomista
procura
a alma
e,
porque
não a
encontra,
debaixo
do seu
escalpelo,
como
encontra
um
nervo,
ou
porque
não a vê
evolar-se
como um
gás,
conclui
que ela
não
existe,
colocado
num
ponto de
vista
exclusivamente
material.
Segue-se
que
tenha
razão
contra a
opinião
universal?
Não.
Vedes,
portanto,
que o
Espiritismo
não é da
alçada
da
Ciência.
Quando
as
crenças
espíritas
forem
aceitas
pelas
massas
humanas,
com elas
se dará
o que
tem
acontecido
a todas
as
ideias
novas
que hão
encontrado
oposição:
os
sábios
se
renderão
à
evidência.
Lá
chegarão,
individualmente,
pela
força
das
coisas.
Não foi
uma
douta
assembleia
que, em
1752,
acolheu
com
retumbante
gargalhada
a
memória
de
Franklin
sobre os
para-raios,
julgando-a
indigna
de
figurar
entre as
comunicações
que lhe
eram
dirigidas?
E dos
daquela
outra
que
ocasionou
perder a
França
as
vantagens
da
iniciativa
da
marinha
a vapor,
declarando
o
sistema
de
Fulton
um sonho
irrealizável?
Entretanto,
essas
eram
questões
da
alçada
daquelas
corporações.
Ora, se
tais
assembleias,
que
contavam
em seu
seio a
nata dos
sábios
do
mundo,
só
tiveram
a
zombaria
e o
sarcasmo
para
ideias
que elas
não
percebiam,
ideias
que,
alguns
anos
mais
tarde,
revolucionaram
a
ciência,
os
costumes
e a
indústria,
como
esperar
que uma
questão,
alheia
aos
trabalhos
que lhes
são
habituais,
alcance
hoje das
suas
congêneres
melhor
acolhimento?
Repetimos
mais uma
vez que,
se os
fatos a
que
aludimos
se
houvessem
reduzido
ao
movimento
mecânico
dos
corpos,
a
indagação
da causa
física
desse
fenômeno
caberia
no
domínio
da
Ciência;
porém,
desde
que se
trata de
uma
manifestação
que se
produz
com
exclusão
das leis
da
Humanidade,
ela
escapa à
competência
da
ciência
material,
visto
não
poder
explicar-se
por
algarismos,
nem por
uma
força
mecânica.
O homem
que
julga
infalível
a sua
razão
está bem
perto do
erro.
O que se
chama
razão
não é
muitas
vezes
senão
orgulho
disfarçado
e quem
quer que
se
considere
infalível
apresenta-se
como
igual a
Deus.
Dirigimo-nos,
pois,
aos
ponderados,
que
duvidam
do que
não
viram,
mas que,
julgando
do
futuro
pelo
passado,
não
creem
que o
homem
haja
chegado
ao
apogeu,
nem que
a
Natureza
lhe
tenha
facultado
ler a
última
página
do seu
livro”.
Já dizia
Rabelais:
“Ciência
sem
consciência
não é
senão
ruína da
alma”.
Numa das
lindíssimas
pinturas
do
célebre
pintor
espanhol
Goya,
aparece
a
seguinte
inscrição:
“O
sono da
razão
produz
monstros”.
O
CONHECIMENTO
CIENTÍFICO
(2)
O
conhecimento
científico
é uma
conquista
recente
da
Humanidade:
tem
apenas
trezentos
anos e
surgiu
no
século
XVII com
a
revolução
galileana.
Isso não
significa
que
antes
daquela
data não
houvesse
saber
rigoroso,
pois,
desde o
século
VI a.C.,
na
Grécia
Antiga,
os
homens
aspiravam
a um
conhecimento
que se
distinguisse
do
mito
e do
saber
comuns.
Tais
sábios
(sophos,
como
eram
chamados)
ocupavam-se
com a
filosofia
e a
ciência.
No
pensamento
grego,
Ciência
e
Filosofia
achavam-se
ainda
vinculadas
e só
vieram a
se
separar
na Idade
Moderna,
buscando
cada uma
delas
seu
próprio
caminho.
Cada
ciência
se torna
então
uma
ciência
particular,
no
sentido
de ter
um campo
delimitado
de
pesquisa
e um
método
próprio.
As
ciências
são
particulares
na
medida
em que
cada uma
privilegia
setores
distintos
da
realidade:
a física
trata do
movimento
dos
corpos;
a
química,
da sua
transformação;
a
biologia,
do ser
vivo
etc...
Por
outro
lado as
ciências
são
também
gerais,
no
sentido
de que
as
conclusões
não
valem
apenas
para os
casos
observados,
e sim
para
todos os
que a
eles se
assemelham.
Ao
afirmarmos
que
“o peso
de
qualquer
objeto
depende
do campo
de
gravitação”
ou
que
“a cor
de um
objeto
depende
da luz
que ele
reflete”
ou ainda
que
“a água
é uma
substância
composta
de
hidrogênio
e
oxigênio”,
fazemos
afirmações
que são
válidas
para
todos os
corpos,
todos os
objetos
coloridos
ou
qualquer
porção
de água,
e não
apenas
para
aqueles
que
foram
objeto
da
experiência.
A
preocupação
do
cientista
está
portanto
na
descoberta
das
regularidades
existentes
em
determinados
fatos.
Por
isso, a
ciência
é
geral,
isto
é, as
observações
feitas
para
alguns
fenômenos
são
generalizadas
e
expressas
pelo
enunciado
de uma
lei.
Enquanto
o saber
comum
observa
um fato
a partir
do
conjunto
dos
dados
sensíveis
que
formam a
nossa
percepção
imediata,
pessoal
e
efêmera
do
mundo, o
fato
científico
é um
fato
abstrato,
isolado
do
conjunto
em que
se
encontra
normalmente
inserido
e
elevado
a um
grau de
generalidade:
quando
nos
referimos
à
“dilatação”
ou ao
“aquecimento”
como
fatos
científicos,
estamos
muito
distantes
dos
dados
sensíveis
de um
certo
corpo em
um
determinado
momento.
O mundo
construído
pela
ciência
aspira à
objetividade:
as
conclusões
podem
ser
verificadas
por
qualquer
outro
membro
competente
da
comunidade
científica,
pois a
racionalidade
desse
conhecimento
procura
despojar-se
do
emotivo,
tornando-se
impessoal
na
medida
do
possível.
A esse
respeito
diz o
filósofo
francês
Merleau-Ponty:
“A
ciência
explica
o mundo,
mas se
recusa a
habitá-lo”.
Em
outras
palavras,
por mais
que a
ciência
amplie o
conhecimento
que
temos do
mundo,
de certo
ponto de
vista,
ela -
paradoxalmente
-
reduz
esse
conhecimento,
pois
o
cientista
remove
toda
experiência
individual
que
caracterizaria
o “estar-no-mundo”.
Antecipando
uma
discussão
ainda a
ser
desenvolvida,
é
preciso
retirar
do
conceito
de
ciência
a falsa
ideia de
que ela
é a
única
explicação
da
realidade
e se
trata de
um
conhecimento
“certo’’
e
“infalível”.
Há muito
de
construção
nos
modelos
científicos
e, às
vezes,
até
teorias
contraditórias.
Além
disso, a
ciência
está em
constante
evolução,
e suas
verdades
são
sempre
provisórias.
CIÊNCIA
E PODER
As
ciências
da
Natureza
encontram
no novo
método a
possibilidade
de uma
abordagem
mais
eficaz
da
realidade,
no
sentido
de maior
previsibilidade
dos
fenômenos
e,
consequentemente,
maior
poder
para
a
transformação
da
Natureza.
Isso se
tornou
viável
devido à
aliança
da
ciência
com a
técnica.
Como
decorrência,
ocorreu
o
desenvolvimento
da
tecnologia,
que
é a
técnica
enriquecida
pelo
saber
científico,
que tem
alterado
o
habitat
humano
timidamente
a partir
do
século
XVIII,
com a
Revolução
Industrial,
e com
grande
rapidez
no
século
XX. No
entanto,
o poder
da
ciência
e da
tecnologia
é
ambíguo,
porque
pode
estar a
serviço
do homem
ou
contra
ele. Daí
a
necessidade
de o
trabalho
do
cientista
e do
técnico
ser
acompanhado
por
reflexões
de
caráter
moral e
político,
a fim de
que
sejam
questionados
os fins
a que se
destinam
os meios
utilizados
pelo
homem:
se
servem
ao
crescimento
espiritual
ou
se o
degradam,
se
servem à
liberdade
ou às
formas
de
dominação.
Por isso
é
impossível
admitir
a
existência
do
trabalho
científico
neutro,
que
procura
o
“saber
pelo
saber”.
A
ciência
se
encontra
irremediavelmente
imbricada
na moral
e na
política
e o
cientista
tem uma
responsabilidade
social
da qual
não pode
abdicar.
É assim
que
podemos
entender
o
comentário
feito
pelo
professor
René
Dubos:
“Desde
que esse
algum
lugar
[aonde a
ciência
chega]
poderia
revelar-se
bem
indesejável,
é melhor
fazer
escolhas
conscientes
do lugar
para
onde se
quer
ir”.
OS
MITOS
DA
CIÊNCIA
O
Iluminismo
no
século
XVIII
exaltou
a
capacidade
humana
de
conhecer
o mundo
por meio
da
ciência,
considerada
expressão
de
rigor,
objetividade
e
previsibilidade.
Pela
ciência
o homem
podia
espantar
o medo
causado
pela
ignorância
e
superstição,
guardando
a
esperança
de um
mundo
onde as
luzes da
razão
permitiriam
a melhor
qualidade
de Vida
possível
e a
emancipação
dos
preconceitos,
da
violência
e do
arbítrio.
No
entanto,
segundo
observam
os
filósofos
da
Escola
de
Frankfurt,
há
sombras
nas
promessas
iluministas.
E, se
não
podemos
(e não
desejamos)
desprezar
a
ciência
e a
razão, é
preciso
com
urgência
indicar
quais
são os
seus
riscos e
desvios.
Já no
século
XIX,
o
positivismo
valorizava
exageradamente
o
conhecimento
científico,
excluindo
outras
formas
de
abordagem
do real
tais
como o
mito, a
religião
e mesmo
a
filosofia,
consideradas
expressões
interiores
e
superadas
da
experiência
humana.
Mas essa
exclusão
é
arbitrária
e
mutiladora,
e
significa
na
verdade
um
reducionismo:
•reduz o
objeto
próprio
das
ciências
a
natureza
observável,
ao tato
positivo;
•reduz a
filosofia
aos
resultados
das
ciências;
•reduz
as
ciências
humanas
às
ciências
da
natureza.
Portanto,
a
preocupação
positivista
de tudo
reduzir
ao
racional
redunda
no seu
oposto,
ou seja,
na
criação
de
mitos. O
positivismo
cria o
mito do
cientificismo,
segundo
o qual o
único
conhecimento
perfeito
é o
científico.
Dessa
distorção
decorrem
inúmeras
outras.
Embutido
no ideal
cientificista
existe o
mito
do
progresso.
Segundo
essa
concepção
o
progresso
é
inicialmente
algo
embrionário,
cabendo
à ação
humana
transformadora
trazer à
luz as
possibilidades
latentes.
E se as
ciências
e as
técnicas
aumentam
o
controle
do homem
sobre a
natureza
e a
sociedade,
parece
válido
pensar
que a
ação
cada vez
mais
eficaz
leve o
desenvolvimento
aparentemente
na
direção
de um
mundo
cada vez
melhor.
Ou seja,
o
progresso
é
explicado
como um
fenômeno
linear,
cuja
tendência
automática
é o
aperfeiçoamento
humano.
Por isso
o ideal
do
progresso
justificaria
todas as
ações do
homem
realizadas
em seu
nome.
Mas
infelizmente
já
conhecemos
as
consequências:
na busca
do
progresso
as
construções
urbanas
tornaram
a Vida
humana
cada vez
mais
solitária;
as
fábricas
poluem o
ar; a
especulação
imobiliária
destrói
o verde;
a
modernização
da
agricultura
torna
mais
miserável
a vida
dos
boias-frias;
a
opulência
não
expulsa
a
miséria,
mas
convive
com ela
lado a
lado.
A
Ciência
e a
tecnologia,
mesmo
que
sejam
expressões
da
racionalidade,
produzem
contraditoriamente
efeitos
irracionais,
perversos,
já que a
razão é
colocada
a
serviço
da
destruição
da
Natureza,
da
alienação
humana e
da
dominação.
QUAL É
O
PAPEL
DA
FILOSOFIA?
Na
Antiguidade,
a
filosofia
era o
coroamento
do
saber.
Para
Platão,
por
exemplo,
a
ciência
nada
mais era
do que
a
preparação
para
ela. Com
a
revolução
científica
a
ciência
se
tornou
autônoma,
fragmentando-se
em
inúmeras
ciências
particulares.
A
civilização
ocidental
se
desenvolveu
vertiginosamente
sob o
signo do
saber
objetivo
e
tecnocrático,
organizando-se
em torno
dos
princípios
da
ciência
e do
progresso.
Ora, a
visão
utilitarista
daí
decorrente
não abre
espaço
para a
filosofia,
que,
aparentemente,
“não
serve
para
nada”.
Mas a
desprezada
filosofia
encontra-se,
na
verdade,
nos
pressupostos
da
ciência,
já
que a
própria
ciência
não é
capaz de
investigar
seus
fundamentos.
Cabe
portanto
à
filosofia
discutir
a
respeito
dos
conceitos
que são
usados,
da
validade
dos
métodos,
do valor
das
conclusões,
bem como
da
concepção
de homem
subjacente
a cada
ciência.
Outra
função
da
filosofia
consiste
em
estabelecer
a
interdisciplinaridade
dos
diversos
campos
do saber
formados
a partir
da
fragmentação
resultante
do
aparecimento
das
ciências
particulares,
dando
origem a
especialistas
que
investigam
rigorosamente
apenas
parte do
todo. A
veia
satírica
de
Pitigrilli
bem nos
mostrou
o que
isto
significa:
“0
especialista
é aquele
que sabe
tanto de
uma
parte,
até
saber
tudo de
nada...”.
Cabe à
filosofia
recolocar
o
problema
da
unidade
do
saber,
tornado
“esquizofrênico’’
pela
ciência
moderna,
na
medida
em que
foi
comparti-mentalizado.
O
resultado
dessa
fragmentação
é que o
homem se
torna o
grande
ausente
da
ciência.
Enquanto
a
ciência
e a
técnica
utilizam
a razão
instrumental,
mais
preocupada
com os
meios, é
preciso
investigar
outro
tipo de
razões
em
outras
esferas:
a das
vivências
subjetivas,
a
fim de
recuperar
o desejo
e a
sensibilidade
oprimidos
no
processo
de
“desencantamento
do
mundo”
levado a
efeito
pelas
leis
naturais
e
impessoais
da
ciência.
Por
isso, a
reflexão
empreendida
pela
filosofia
não pode
ser
desinteressada,
neutra,
nem uma
ocupação
separada
do que
ocorre
no
mundo.
Ela tem
compromisso
com a
investigação
a
propósito
dos
fins e
das
prioridades
a
que a
ciência
se
propõe,
bem como
com a
análise
das
condições
em que
se
realizam
as
pesquisas
e das
consequências
das
técnicas
utilizadas.
No
desempenho
desse
papel, o
filósofo
não
aparece
com
respostas
prontas
e um
saber
acabado,
nem como
aquele
que deve
nortear
os rumos
da
ciência.
No mundo
de
certezas
propostas
pelo
ideal do
conhecimento
objetivo,
o
filósofo
é aquele
que,
segundo
Merleau-Ponty,
acredita
na sua
própria
desordem
interior
e por
isso
acredita
na busca
segundo
a qual
sempre
haverá
coisas
para se
ver e
dizer.
O MITO
DA
NEUTRALIDADE
CIENTÍFICA
Atualmente,
a
atividade
científica
defronta-se
com
sérios
desafios
internos
e
externos.
De um
ponto de
vista
coletivo,
os
descontentamentos
sociais
ligados
à
introdução
de
inúmeras
inovações
tecnológicas
(da
poluição
industrial
aos
horrores
das
guerras
químicas
e
eletrônicas)
estão
levando
a um
questionamento
da
equivalência
entre
ciência
e
progresso,
entre
tecnologia
e
bem-estar
social.
O que
podemos
perguntar,
desde
já, é
se não
seria
temerário
entregar
o homem
às
decisões
constitutivas
do saber
científico.
Poderia
ele ser
“dirigido”
pela
“ética
do saber
objetivo”?
Poderia
ser
“orientado”
por esse
tipo de
racionalidade?
Não se
trata de
um
“homem”
ideal.
Estamos
falando
desse
homem
real e
concreto
que
somos
nós;
desse
homem
cujo
patrimônio
genético
começa a
ser
manipulado;
cujas
bases
biológicas
são
condicionadas
por
tratamentos
químicos;
cujas
imagens
e
pulsões
estão
sendo
entregues
aos
sortilégios
das
técnicas
publicitárias
e aos
estratagemas
dos
condicionamentos
de
massa;
cujas
escolhas
coletivas
e o
querer
comum
cada vez
mais se
transferem
para as
decisões
de
tecnocratas
onipotentes,
cujo
psiquismo
consciente
e
inconsciente,
individual
e
coletivo,
torna-se
cada vez
mais
“controlado”
pela
ciência,
pelo
cálculo,
pela
positividade
e pela
racionalidade
do saber
científico;
desse
homem,
enfim,
que já
começa a
tomar
consciência
de que,
doravante,
pesa
sobre
ele a
ameaça
constante
de um
Apocalipse
nuclear,
cuja
realidade
catastrófica
não
constitui
ainda
objeto
de
reflexão.
Talvez o
problema
seja
mais bem
elucidado
se
concebermos
uma
passagem
do
“saber
sobre o
homem” a
um
“saber-querer
do
homem”,
este,
sim,
capaz de
dirigir
sua
ação.
Porque
não é na
ciência,
mas numa
antropologia
reflexiva,
que
iremos
encontrar
o
discurso
do homem
sobre
ele
mesmo.
Só esse
discurso
pode
revelar,
como
originária
e
constitutiva
do
homem,
essa
dialética
do
“saber”
e do
“querer”,
do fato
e do
valor,
do ser e
do
dever-ser.
Ela é
esse
lugar
onde
aquilo
que foi
conquistado
à
maneira
do
“fato”
faz
valer
seus
direitos
em
revestir-se
da
modalidade
do
“valor”
e do
“sentido”.
Com
esse
“saber-querer”,
a
biologia,
a
psicologia,
a
sociologia
etc. não
somente
podem,
mas
devem
cooperar,
sob o
controle
do
pensamento
livre,
para a
definição
de uma
ética
da
ciência.
Por
isso,
não
podemos
admitir
que o
conhecimento
objetivo
possa
constituir
a única
finalidade,
o único
valor,
porque,
não
sendo
capaz de
fundar
uma
ética,
torna-se
incapaz
de
constituir
o valor
supremo
do
homem.
Os
valores
não
podem
surgir
de um
saber
sobre o
homem,
mas de
um
querer
do
homem,
ser
inacabado
e
sempre
aberto
às
possibilidades
futuras.
Robert
Southey,
poeta,
historiador
e
crítico
inglês
afirma
(3):
“(...)
De que
nos
valem o
poder
aquisitivo,
a
técnica
das
indústrias,
a
produção
em
massa, a
universidade
ativa e
a
riqueza
rural,
se não
possuímos
diques
capazes
de
barrar
as
paixões
individuais
e as
raciais,
que
ateiam o
ruinoso
fogo da
guerra?”
No mesmo
livro,
(pág.
124),
afirma
Luiz
Olímpio
Teles de
Menezes,
um dos
expoentes
da
vanguarda
do
movimento
espírita
brasileiro
dos
primeiros
tempos:
“(...) A
Ciência,
por si
só, é
como a
terra
preciosa
sem a
semente.
De que
nos
valeria
o suor a
empapar
o chão
lavrado,
sem a
possibilidade
de
produzir?
A
verdade
tem a
balança
da
sabedoria
para
analisar
os seres
e as
coisas,
mas só o
amor
possui a
chave da
Vida”.
Por
todas
essas
reflexões
podemos
ver que,
isolada,
a
ciência
pode
levar a
Humanidade
ao caos
e até
mesmo à
destruição.
Exemplos
no
passado
não
faltam,
haja
vista o
emprego
bélico
da
energia
nuclear,
da
dinamite
e das
possibilidades
da
química.
Entanto,
a
Ciência
em
estreita
parceria
com a
Filosofia
de um
lado e a
Religião
do
outro,
as três
unidas e
imbricadas
na
direção
do
crescimento
espiritual
do Homem
poderão
realizar
o que o
vulgo
chama de
“milagres”,
cujos
corolários
desembocariam
no delta
da
definitiva
alforria
espiritual
do ser
humano,
guindando-o
para
além do
nível de
sua
atual
humanidade.
Por
todas
essas
razões
expendidas
é que,
ainda
que doa
aos
“espíritas
científicos”,
eles
deveriam
humildemente
reconsiderar
esse
posicionamento
mutilador
da
Doutrina
Espírita,
portanto
absurdo,
e enfim,
compreender
que sem
a
Filosofia
e a
Religião,
a
Ciência
espírita
morreria
-
congelada
e inútil
- nos
frios
laboratórios
de
análises
e
pesquisas.
Se o
Espiritismo
tivesse
que ser
considerado
tão só
pelo
aspecto
científico,
Allan
Kardec
teria
deixado
isso
muito
claro,
tão
claro
quanto
realçou
o seu
aspecto
mais
importante
que é o
Religioso,
ao
afirmar
(4):
“(...)
As
Sociedades
Espíritas
serão
respeitadas
porque
falarão
em nome
da moral
evangélica,
que
todos
respeitam.
Essa
a
estrada
pela
qual
temos
procurado
com
esforço
fazer
que o
Espiritismo
enverede.
A
bandeira
que
desfraldamos
bem alto
é a do
ESPIRITISMO
CRISTÃO
E
HUMANITÁRIO,
em torno
da qual
já temos
a
ventura
de ver,
em todas
as
partes
do
globo,
congregados
tantos
homens,
por
compreenderem
que aí
está a
âncora
de
salvação,
a
salvaguarda
da ordem
pública,
o sinal
de uma
era nova
para a
Humanidade...”
Referências:
(1)
KARDEC,
Allan.
O
Livro
dos
Espíritos.
88.
ed. Rio
[de
Janeiro]:
FEB,
2006,
Introdução,
Tomo
VII, §
4º.
(2)
ARANHA,
M.L.A.;
MARTINS,
M.H.P.
Filosofando
–
Introdução
à
Filosofia
–
Editora
Moderna
– ed.
1998.
(3)
SOUTHEY,
Robert/XAVIER,
F.C.
Falando
à Terra
– Pág.
107 –
FEB.
(4)
KARDEC,
A. O
Livro
dos
Médiuns
– 2ª
parte,
Capítulo
XXIX,
item
350.