EDUARDO AUGUSTO
LOURENÇO
eduardoalourenco@hotmail.com
Americana, São
Paulo (Brasil)
O veneno da
traição
“Todo aquele que
repudia sua
mulher e casa
com outra,
comete
adultério; e
quem casa com a
que foi
repudiada pelo
marido, também
comete
adultério.”
(Mateus 5:32)
A traição foi
motivo de muitos
escândalos em
todas as épocas
da humanidade,
não somente a
traição no campo
do sentimento,
mas nos
negócios, nas
amizades, nos
ideais em todos
os aspectos
humanos. Trair,
seja a
confiança, um
relacionamento,
uma amizade,
sempre deixa
marcas
profundas,
sequelas
difíceis de
apagarem das
lembranças; só
nos ofendemos
por aqueles a
quem realmente
amamos e que por
uma ocasião
tenha nos
ferido.
O termo traição
pode ser
entendido como
deslealdade,
desapontamento
da expectativa
de alguém; é
desvendar os
segredos de
outrem, entregar
um amigo aos
seus inimigos;
distanciamento;
é também
decepcionar um
amigo, além de
ser contada como
engano e
infidelidade,
perfídia,
desonestidade. A
traição é
baseada na
mentira. É um
dos piores,
senão o pior
golpe que alguém
pode receber de
um amigo ou de
uma pessoa que
se considera ou
que se ama.
Há personagens
que simbolizam
tal atitude, o
traidor Joaquim
Silvério dos
Reis, que
entregou
Tiradentes, o
Alferes mártir
do movimento
separatista da
Inconfidência
Mineira, aos
seus julgadores
e executores, os
representantes
da Coroa
Portuguesa. Por
razões
políticas, Joana
D'Arc foi traída
por companheiros
franceses.
Aprisionada, foi
acusada pelos
ingleses de
heresia e
bruxaria, para
depois ser
condenada por um
tribunal da
Igreja e
queimada viva em
Ruão em 1431.
Antes da
publicação do “O
Livro dos
Espíritos”,
Allan Kardec é
orientado pelo
Espírito de
Verdade. Ele diz
no livro “Obras
Póstumas” que:
“a missão dos
reformadores é
cheia de
escolhos e
perigos; a tua é
rude;
previno-te,
porque é ao
mundo inteiro
que se trata de
agitar e de
transformar. Não
creias que te
seja suficiente
publicar um
livro, dois
livros, dez
livros, e
ficares
tranquilamente
em tua casa;
não, é preciso
te mostrares no
conflito; contra
ti se açularão
terríveis ódios,
implacáveis
inimigos
tramarão a tua
perda; estarás
exposto à
calúnia, à
traição, mesmo
daqueles que te
parecerão mais
dedicados; as
tuas melhores
instruções serão
impugnadas e
desnaturadas;
sucumbirás mais
de uma vez ao
peso da fadiga;
em uma palavra,
é uma luta quase
constante que
terás de
sustentar com o
sacrifício do
teu repouso, da
tua
tranquilidade,
da tua saúde e
mesmo da tua
vida, porque tu
não viverás
muito tempo”.
Allan Kardec
então escreve
uma nota, no dia
1° de janeiro de
1867, dizendo
que: “Passados
dez anos e meio
depois que esta
comunicação me
foi dada, e
verifico que ela
se realizou em
todos os pontos,
porque
experimentei
todas as
vicissitudes que
nela me foram
anunciadas.
Tenho sido alvo
do ódio de
implacáveis
inimigos, da
injúria, da
calúnia, da
inveja e do
ciúme; têm sido
publicados
contra mim
infames libelos;
as minhas
melhores
instruções têm
sido
desnaturadas;
tenho sido
traído por
aqueles em quem
depositara
confiança, e
pago com a
ingratidão por
aqueles a quem
tinha prestado
serviços. A
Sociedade de
Paris tem sido
um contínuo foco
de intrigas,
urdidas por
aqueles que se
diziam a meu
favor, e que,
mostrando-se
amáveis em minha
presença, me
detratavam na
ausência.
Disseram que
aqueles que
adotavam o meu
partido eram
assalariados por
mim com o
dinheiro que eu
arrecadava do
Espiritismo. Não
mais tenho
conhecido o
repouso; mais de
uma vez,
sucumbi; sob o
excesso do
trabalho,
tem-se-me
alterado a saúde
e comprometido a
vida”.
O discípulo
Judas Iscariotes
entregou o
Cristo aos seus
inimigos, os
sacerdotes
hebreus, com um
beijo em sua
face, ele é
preso pelos
romanos. É
considerado
culpado de
sacrilégio pelo
sumo sacerdote e
entregue ao
aparelho
judicial romano,
na pessoa de
Pôncio Pilatos.
Jesus é
condenado, como
se fosse um
vulgar
criminoso, à
morte na cruz.
No momento mais
difícil da vida
do Mestre, Pedro
sequer admite
que havia
convivido com
ele, negando por
três vezes.
Judas, por sua
vez,
aproveita-se da
proximidade de
Jesus para
denunciá-lo de
modo mais eficaz
e seguro. Se
analisarmos bem,
ambos são
traidores porque
traíram o
Mestre, suas
atitudes até
podem ser
explicadas,
Pedro estava com
medo e inseguro,
sentindo-se
fragilizado e
inútil diante da
prisão de Jesus,
Judas enganou-se
completamente
sobre a mensagem
do Mestre e por
sua ação
pacífica e
mansa, esperando
mais um líder
político e
belicoso, como o
rei Davi.
Pedro e Judas
eram seguidores
do Mestre,
indivíduos que
foram escolhidos
por ele para
ajudar na
divulgação da
Boa Nova,
exemplificando
através das
ações altruístas
e pela conduta
reta divulgando
a mensagem
libertadora e
transformadora
do Cristo. Muito
mais do que
apóstolos eram
seus amigos,
sujeitos que
compartilhavam
na sua mais
profunda
intimidade.
Todos nós
invariavelmente
possuímos
imperfeições e
fraquezas
humanas e temos
que entender os
erros dos
outros, porque
podemos passar
pela mesma
situação.
Podemos errar
pelos mais
diversos
motivos, o que
torna
compreensíveis
os erros, mas
isso não altera
e nem justifica
a realidade
gerada por uma
ação errada.
No entanto,
aquele que
comete este ato
tão condenável
que é traição,
por si só, já se
condenou, pois o
sofrimento, o
abandono, a
discriminação e
o escândalo do
ato são, às
vezes, muito
piores, gerando
uma prisão
íntima que é
alimentada pelo
remorso e pela
própria
consciência.
Quando não vem,
a “dor moral”
que custa muito
a passar. Às
vezes doendo
muito mais em
quem cometeu o
ato, do que na
própria vítima.
O algoz pelo
erro se condena
e se julga por
duas vezes, por
si mesmo e pelo
outro.
O arrependimento
e a culpa
frequentemente
são tão
dolorosos
processos que
martelam nossos
pensamentos;
pelo relato de
Mateus, não foi
Jesus quem
sofreu, mas
Pedro e Judas é
que sentiram o
forte impacto do
erro que
cometeram.
Porque o Mestre
sabia o peso da
reação perante
as duas
consciências,
Jesus lhes
perdoou.
Contudo, é
evidente a
diferença no
modo como os
dois lidaram com
o erro que
cometeram e com
o remorso e o
sentimento de
culpa que
sentiram. Judas
não aguentou a
pressão e
suicidou-se, já
Pedro tornou-se
um grande líder
da comunidade
cristã. Judas
infelizmente não
suportou a força
do próprio erro
e caiu nas
malhas da
autodestruição,
enquanto Pedro
foi capaz de
superá-lo e ir
adiante.
Judas simboliza
uma maneira
destrutiva e
pessimista de
encarar as
próprias faltas
e imperfeições,
enquanto Pedro
mostra um modo
mais altruísta
de reagir.
A diferença
entre os dois é
que Judas não
foi capaz de
perdoar a si
mesmo, de
encontrar forças
para ter
esperança e
coragem de
seguir adiante,
buscando no
suicídio uma
alternativa para
fugir de suas
falhas, gerando
pelo ato mais
dor e
sofrimento.
O perdão é uma
força
libertadora e
regeneradora, na
medida em que
nos dá uma
oportunidade de
tentarmos de
novo e melhorar
sempre. Rejeitar
a si mesmo é
negar a
reabilitação
íntima, é jogar
fora a
possibilidade de
uma nova
oportunidade de
ser feliz e
fazer diferente,
é abandonar os
sonhos, a
esperança, é
desperdiçar
aquilo que temos
de mais
precioso: a vida
que o criador
nos deu, e isso
já é, por si
mesmo, uma
punição
estrondosa.
Judas é um pouco
de todos nós.
Sua figura, por
todo desespero e
angústia que
sofreu, não
merece malhação,
merece compaixão
e compreensão.
São experiências
dolorosas que
nos pedem
reconciliação
com a nossa
consciência e
com aqueles que
ferimos; nada
pior do que
lesar o outro no
campo do
sentimento; é
uma das lições
mais complexas
de serem
superadas,
muitas vezes são
décadas para se
reconstruir um
relacionamento
rompido pelas
marcas da
traição, outras
vezes são
inúmeras
reencarnações
para se acertar
os desatinos
ocorridos no
passado. A
instituição
chamada família
sempre é o palco
destes resgates,
maridos e
esposas, filhos
e pais vão
polindo as
arestas e
desfazendo as
diferenças
criadas em
muitas
existências
pregressas.
As atitudes de
uma pessoa estão
diretamente
ligadas à sua
condição moral e
evolutiva, a
vida terrena
gera as
situações onde
precisamos nos
corrigir,
surgindo de
forma natural em
consequência da
nossa conduta,
vítimas e
algozes se
encontrão e aí
caberá a cada um
lutar ou recair
no mesmo erro.
A traição provém
de vários
fatores que
levam para este
ato: questões
culturais,
carências,
insatisfação em
relação a
desejos e
expectativas com
o (a) parceiro
(a), vingança, a
busca pelo novo,
o estímulo
provocado pela
sensação de
perigo, ou mesmo
de poder.
O ato de trair
não precisa
necessariamente
consumar o ato
sexual. Não
compartilhar
mais as regras
de fidelidade
com o parceiro
já pode ser
encarado como
traição. Uma
terceira pessoa
presente nos
pensamentos é
uma traição.
Cobiçar a mulher
ou o homem
alheio é uma
forma de
adultério, como
nos orienta
Mateus “Ouvistes
que foi dito:
Não adulterarás.
Eu, porém, vos
digo que todo
aquele que olhar
para uma mulher
para cobiçar, já
em seu coração
cometeu
adultério com
ela. Como tratou
Jesus a mulher
adúltera?”
(5:27-28).
Todo pensamento,
palavra e ação
que tomamos têm
na sua
consequência uma
direção psíquica
voltada para nós
mesmos, porque
todo pensamento
é vida, com
isso, tudo
aquilo que
projetamos
retorna à sua
origem,
iniciando um
tipo de
comportamento
condizente com
aquilo que
pensamos.
Devemos ser
responsáveis
pelos nossos
pensamentos e
entender que
podemos
contribuir com
os nossos mais
íntimos desejos
com a
infelicidade ou
a felicidade do
outro.
Tudo começa no
pensamento,
Jesus fala da
força do
pensamento,
considerando-o
como algo
concreto e real.
Entendemos que
tudo o que sai
da mente como
pensamento,
sentimento,
palavra e
finalização da
ação, retorna na
mesma
intensidade,
pois projetamos
os nossos
desejos, sonhos
e toda vontade,
direcionando
nossa fé,
crenças e os
nossos
verdadeiros
tesouros. Fé não
é apenas algo
relacionado ao
divino, fé é
tudo aquilo que
você acredita,
seja por temor
ou amor.