A Revue Spirite
de 1864
Allan Kardec
(Parte
13)
Damos prosseguimento
nesta edição ao estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1864. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 26
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela
EDICEL.
Questões preliminares
A. Kardec disse que a
data de 1º de maio de
1864 ficaria marcada nos
anais do Espiritismo.
Por quê?
Ele disse isso porque
essa data assinala a
decisão da sagrada
congregação do Índex
concernente à proibição
de suas obras. “Se uma
coisa causou admiração
aos espíritas, é que tal
decisão não tenha sido
tomada mais cedo”,
observou então o
Codificador.
(Revue Spirite de 1864,
pág. 190.)
B. Um novo conceito foi
adotado na Revue
por Kardec: “espírita de
fato”. Que significa
essa expressão?
Kardec usou-a no texto
seguinte: “Quem quer que
partilhe de nossas
convicções relativas à
existência e à
manifestação dos
Espíritos e das
consequências morais daí
decorrentes é espírita
de fato, sem que seja
necessário estar
inscrito num registro ou
matrícula ou receber um
diploma”, ideia que
alarga de forma clara o
conceito de espírita.
(Obra citada, pág. 197.)
C. Qual é, na visão de
Kardec, a missão do
Espiritismo?
A missão do Espiritismo
é, conforme palavras
textuais do Codificador,
combater a incredulidade
pela evidência dos fatos
e reconduzir a Deus os
que o desconhecem.
(Obra citada, pág. 198.)
Texto para leitura
150. Querendo
convencer-se da verdade
contada por Irmã Maria,
o abade ordenou ao
Espírito sofredor que
tomasse o crucifixo da
parede e o pusesse sobre
o peito da enferma; ele
obedeceu imediatamente.
Depois, a pedido do
abade, ele recolocou o
crucifixo na parece e
fez mover-se a pia d’água.
Chamado à cela, padre
Chambon repetiu as
ordens e os fenômenos
ocorreram outra vez, na
presença de outras
pessoas, como o Cônego
Digoine e o padre
Robert. (P. 187)
151. Na seção de
variedades, o número de
junho faz o seguinte
registro: “A data de 1o
de maio de 1864 será
marcada nos anais do
Espiritismo, como a de 9
de outubro de 1861. Ela
lembrará a decisão da
sagrada congregação do
Índex,
concernente a nossas
obras sobre o
Espiritismo. Se uma
coisa causou admiração
aos espíritas, é que tal
decisão não tenha sido
tomada mais cedo”.
(N.R.: O dia 9 de
outubro de 1861, e não
1862, como está na
edição publicada pela
Edicel,
lembra-nos a execução do
Auto-de-fé de
Barcelona.)
(P. 190)
152. Diz a Revue
que, logo que a Igreja
divulgou sua decisão, a
maioria das livrarias
apressaram-se em pôr as
obras espíritas em
evidência. Alguns
livreiros mais tímidos,
por medo, as tiraram das
prateleiras, mas não as
vendiam menos dentro do
balcão. A medida, do
ponto de vista legal,
era porém inócua, porque
a lei orgânica vigente
na França estabelece que
nenhuma bula, decreto,
mandato ou qualquer
expediente da Corte de
Roma pode ser recebido,
impresso ou executado
sem autorização do
governo. (P. 190)
153. Sob o título
Perseguições militares,
o número de junho lembra
que, embora contando
numerosos representantes
no seio do Exército
francês, existiam
regimentos em que o
Espiritismo encontrava
adversários declarados,
que interditavam
formalmente os seus
subordinados de dele se
ocupar, fora as
perseguições de praxe. O
conselho de Kardec era
que todos se submetessem
sem murmúrio à
disciplina hierárquica,
esperando com paciência
dias melhores. “Essas
pequenas perseguições
são provações para sua
fé e servem ao
Espiritismo, em vez de o
prejudicar”, afirma o
Codificador. “Devem
julgar-se felizes por
sofrer um pouco por uma
causa que lhes é cara.”
(PP. 190 e 191)
154. Finalizando a
edição de junho, a
Revue refere que o
dia 3 de abril de 1864
foi um momento de grande
festa para a comuna de
Cempuis, perto de
Grandvilliers, Oise.
Milhares de pessoas ali
estiveram reunidas para
uma tocante cerimônia em
que o Sr. Prévost,
membro da Sociedade
Espírita de Paris e
fundador da casa de
retiro de Cempuis e das
sociedades de auxílio
mútuo do departamento,
foi o modesto herói.
Imenso cortejo,
precedido da banda de
Grandvilliers, o
conduziu à Prefeitura,
onde recebeu medalha de
honra por seu
devotamento à causa dos
que sofrem. (P. 191)
155. O número de julho
da Revue traz,
logo na abertura, carta
do padre A. Barricand,
deão da Faculdade de
Teologia de Lyon, na
qual ele reclama do modo
como seu curso sobre
Espiritismo foi
fantasiado e desfigurado
pelo periódico. Segundo
o padre, a Vérité
faltou à verdade na
reportagem que fez sobre
os aludidos cursos. (PP.
193 a 195)
156. Ao comentar a
carta, Kardec diz que,
até ali, o clero havia
procurado exagerar o
número dos adeptos do
Espiritismo, objetivando
com isso assustar os
católicos, para que
estes o repelissem. “Não
fomos nós - esclarece
Kardec - que dissemos
que havia 20 milhões de
espíritas na França nem,
como numa obra recente,
600 milhões no mundo
inteiro, o que
equivaleria a mais da
metade da população
total do globo.” O padre
Barricand seguia,
portanto, uma tática
contrária, atenuando os
progressos do
Espiritismo, em vez de
os exaltar. (P. 197)
157. Revelando ser
impossível naquela época
saber o número exato de
espíritas, o Codificador
afirma que o Espiritismo
é uma questão de fé e de
crença e não de
associação. Havia
cidades onde não
funcionava nenhuma
sociedade espírita,
embora existissem
espíritas. Basear-se,
pois, no número de
sociedades para
determinar o número de
adeptos constituía e
constitui ainda um erro.
(P. 197)
158. “Quem quer que
partilhe de nossas
convicções relativas à
existência e à
manifestação dos
Espíritos e das
consequências morais daí
decorrentes - conclui
Kardec - é espírita de
fato, sem que seja
necessário estar
inscrito num registro ou
matrícula ou receber um
diploma.” (P. 197)
159. Após reafirmar que
a missão do Espiritismo
é combater a
incredulidade pela
evidência dos fatos e
reconduzir a Deus os que
o desconhecem, Kardec
indaga por que a Igreja
lança anátema sobre
aqueles aos quais a
doutrina espírita dá
essa fé. E adverte que
repelir os que creem em
Deus é constrangê-los a
buscar um refúgio fora
da Igreja. (P. 198)
160. Geralmente se pensa
que a Igreja admite o
fogo do inferno como um
fogo moral e não como um
fogo material. Essa é,
pelo menos, a opinião da
maioria dos teólogos e
de muitos padres.
Contudo, não passa de
opinião individual, não
abonada pela ortodoxia.
Segundo o ensino
oficial, o fogo do
inferno é milhões de
vezes mais intenso que o
da Terra, e o inferno é
uma vasta e sombria
caverna, embora no
Evangelho nada exista
que dê fundamento a tal
crença. (PP. 198 e 199)
161. Ao tratar dessa
questão, Kardec assevera
que a livre discussão do
tema, no âmbito da
Igreja, constituía um
golpe mortal no
princípio absoluto da fé
cega. O direito de
interpretação e de livre
exame nesse assunto era,
pois, um primeiro passo
cujas consequências
seriam incalculáveis.
(PP. 201 e 202)
(Continua no próximo
número.)