MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Entre a Terra e o Céu
André Luiz
(Parte
2)
Continuamos a apresentar
o
estudo da obra
Entre a Terra e o Céu,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1954 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. A obsessão pode ter
como causa o ciúme?
Sim. E essa era a causa
da constrição obsessiva
que Odila movia sobre
Zulmira, que se havia
casado com o ex-marido
da falecida. Empenhada
em combater aquela que
considerava sua rival,
Odila imantava-se à
outra, através do
veículo perispirítico,
na região cerebral,
dominando-lhe a
complicada rede de
estímulos nervosos e
influenciando-lhe os
centros metabólicos, com
o que lhe alterava
profundamente o
funcionamento orgânico.
(Entre a Terra e o Céu,
cap. III, pp. 18 a 20.)
B. É correta a ideia de
interferir nesse
processo afastando o
obsessor?
Não. Trata-se de um
equívoco, como explicou
a André e Hilário o
ministro Clarêncio: "A
violência não ajuda. As
duas se encontram
ligadas uma à outra.
Separá-las à força seria
a dilaceração de
consequências
imprevisíveis". "A
exasperação da mulher
desencarnada pesaria
demasiado sobre os
centros cerebrais de
Zulmira e a lipotimia
poderia acarretar a
paralisia ou mesmo a
morte do corpo."
Hilário, contrafeito,
indagou então se não
seria justo afastar o
algoz da vítima.
Clarêncio, após mostrar
os riscos decorrentes da
separação pela força,
esclareceu que, no caso,
era preciso atuar na
elaboração dos
pensamentos da irmã que
tomara a iniciativa da
perseguição. Era
imprescindível dar outro
rumo à vontade dela,
deslocando-lhe o centro
mental e conferindo-lhe
outros interesses e
diferentes aspirações.
Para isso, a preparação
era indispensável.
(Obra citada, cap. III,
pp. 20 a 22.)
C. Se Zulmira não era
culpada da morte do
menino Júlio, por que se
atormentava tanto ao
lembrar o episódio do
afogamento?
De fato, Zulmira não
fora a autora, mas
desejara a morte da
criança, chegando mesmo
a favorecê-la. O afeto
de Amaro pelo filho não
tinha sido assimilado
pela jovem esposa, que,
ralada de despeito,
passou a ver em Júlio um
adversário de sua
felicidade doméstica,
chegando até a
provocar-lhe um ódio
crescente, a ponto de
suspirar pela morte do
rapazinho. No instante
do afogamento, a criança
gritou pedindo-lhe ajuda
e ela poderia ter
retrocedido alguns
passos, salvando-a.
Vencida, no entanto,
pelos sinistros
pensamentos que a
dominavam, esperou que
o mar concluísse o
horrível trabalho e só
então clamou por
socorro. Quando Amaro
acorreu, já era tarde.
(Obra citada, cap. IV,
pp. 23 a 25.)
Texto
para leitura
5. O caso Evelina
- Odila, a mãe da jovem,
não se resignara ainda
com a perda da primazia
feminina em seu lar.
Fazia dois anos que
Eulália se empenhava por
dissuadi-la, mas a
genitora de Evelina
vivia enovelada nos
laços escuros do ciúme e
nada ouvia. O egoísmo a
fazia esquecer os
compromissos abraçados.
Zulmira, por sua vez, a
segunda esposa de Amaro,
desde a morte de Júlio
caíra em profundo
abatimento. O pequeno
Júlio, filho de Amaro,
morrera afogado,
consoante as provas de
que se fez devedor. Como
Zulmira, por não amá-lo,
chegou a desejar o seu
desaparecimento, ela se
acreditava culpada pelo
acontecimento...
Evelina, além da perda
do irmão, ocorrida em
trágicas circunstâncias,
achava-se desorientada,
entre o pai aflito e a
segunda mãe em
desespero. Chorando,
comovedoramente, diante
da fotografia de Odila,
ela pedia proteção à
mãe, sem saber que esta,
envolvida nas teias das
próprias criações
mentais, não estava em
condições de ajudá-la.
Sua insistência na
rogativa fora tanta, que
as preces, quebrando a
direção, chegaram até à
Colônia: eis a oração
refratada. Como a mãe
não poderia ajudá-la, a
súplica da jovem,
desferida em elevada
frequência, varou os
círculos inferiores e
buscou o apoio que não
lhe faltará jamais.
Clarêncio informou-se
das minúcias do caso e
dois dias depois,
acompanhado por
Eulália, Hilário e
André, rumou para a
residência de Evelina,
situada num dos bairros
do Rio de Janeiro. O
relógio marcava 21 horas
quando eles chegaram.
Amaro, o pai, lia um
manual de mecânica.
"Este é Amaro, o chefe
da casa", informou
Clarêncio. "Tem, no
longo pretérito,
complicados
compromissos. Em muitas
ocasiões, usou projetis
e lâminas de ferro para
o mal. Hoje, é servidor
categorizado numa
ferrovia..." Evelina,
que contava 14 anos,
estava em seu quarto
bordando iniciais num
lenço de linho. Magra e
triste, não assinalou a
presença das Entidades,
mas, ao contacto das
mãos espirituais de
Clarêncio, revelou
indefinível
contentamento interior.
O Ministro informou que
Evelina estava ligada
aos pais, através de
imenso amor, desde
séculos remotos. Nesta
existência ela viera ao
encontro de criaturas e
situações das quais
necessitava para a
própria ascensão, mas
trouxe também consigo a
tarefa de auxiliar os
pais. Naquele momento,
disse o Benfeitor, ela
acreditava-se amparada
pela mãe, contudo, pelos
méritos já acumulados
na vida espiritual, era
ela quem continuava a
socorrer o coração
materno, ainda em
luta... (Cap. II, págs.
15 a 17)
6. Ciúme e
obsessão -
Zulmira, com quem Amaro
se casara em segundas
núpcias, era uma jovem
de vinte e cinco anos,
cujo rosto delicado
parecia haver saído de
uma tela preciosa. A
mulher estava, porém,
inquieta, e seus olhos
revelavam o pavor de que
se achava possuída, em
face da constrição
obsessiva que lhe era
movida por Odila.
Recostada num
travesseiro, esta
mantinha a destra sobre
a medula alongada de
Zulmira, como se
quisesse controlar-lhe
as impressões nervosas,
e fios cinzentos que lhe
fluíam da cabeça
envolviam-lhe o centro
coronário,
obliterando-lhe os
núcleos de força. Nem
uma nem outra perceberam
que André Luiz se
aproximara. A obsessão
tinha por causa o ciúme.
Empenhada em combater
aquela que considerava
sua rival, Odila
imantava-se à outra,
através do veículo
perispirítico, na região
cerebral, dominando-lhe
a complicada rede de
estímulos nervosos e
influenciando-lhe os
centros metabólicos, com
o que lhe alterava
profundamente o
funcionamento orgânico.
André indagou por que
ela não reagia à ação
obsessiva. Clarêncio
elucidou: "Porque
Zulmira, a nossa amiga
encarnada, caiu no
mesmo padrão vibratório.
Ela também se devotou ao
marido com egoísmo
aviltante". E informou
que a jovem mulher
nutria ciúme do carinho
que Amaro devotava aos
filhos do primeiro
matrimônio. Zulmira
revoltava-se,
choramingava e doía-se
constantemente, diante
das menores
manifestações de ternura
paternal,
entrelaçando-se, por
isso mesmo, com as
desvairadas energias da
falecida ciumenta. E seu
doentio ciúme era tanto,
que ela chegou até a
desejar a morte de uma
das crianças, porque
pretendia possuir o
coração do amado com
absoluto exclusivismo.
Como Amaro era mais
devotado ao menino
Júlio, então com oito
anos, a mulher emitiu
muitas vezes,
silenciosamente, o
anseio de vê-lo
afogar-se na praia em
que costumeiramente se
banhavam. Certa manhã,
custodiando os enteados,
separou Evelina do
irmão, permitindo ao
menino mais ampla
incursão nas águas. O
objetivo foi atingido.
Uma onda rápida
surpreendeu o garoto,
arrojando-o ao fundo.
Júlio morreu. O
sofrimento de todos foi
enorme e Amaro sentiu-se
psiquicamente
distanciado da segunda
esposa, classificando-a
como relaxada e cruel
com seus filhos.
Zulmira, acabrunhada com
o acontecimento e
guardando consigo a
responsabilidade
indireta pelo desastre,
caiu obsidiada ante a
influência da rival que
a subjugava. (Cap. III,
págs. 18 a 20)
7. A
violência não ajuda na
desobsessão
- Elucidando o caso,
Clarêncio observou: "O
sentimento de culpa é
sempre um colapso da
consciência e, através
dele, sombrias forças se
insinuam... Zulmira,
pelo remorso destrutivo,
tombou no mesmo nível
emocional de Odila e
ambas se digladiam, num
conflito de morte,
inacessível aos olhos
humanos comuns. É um
caso em que a medicina
terrestre não consegue
interferência". André
notou que Odila, como se
registrasse, por
intuição, a presença dos
Mentores, agarrou-se à
encarnada com mais força
e gritou: "Ninguém a
libertará! Sou infeliz
mãe espoliada... Farei
justiça por minhas
próprias mãos!..." E
dirigindo-se à enferma,
clamava: "Assassina!
Assassina!... Mataste
meu filhinho! Morrerás
também!..." Claro que
Zulmira nada ouvia, mas,
envolta na onda
magnética que a
enlaçava, sentia-se
morrer. Hilário e André
fizeram menção de
interferir, afastando a
entidade, mas Clarêncio
deteve-os, advertindo:
"A violência não ajuda.
As duas se encontram
ligadas uma à outra.
Separá-las à força seria
a dilaceração de
consequências
imprevisíveis". "A
exasperação da mulher
desencarnada pesaria
demasiado sobre os
centros cerebrais de
Zulmira e a lipotimia
poderia acarretar a
paralisia ou mesmo a
morte do corpo."
(N.R.: Lipotimia é o
mesmo que síncope,
delíquio, desmaio: queda
súbita da pressão
arterial ou colapso
circulatório,
acompanhado de perda
mais ou menos completa
da consciência.)
Hilário, contrafeito,
indagou então se não
seria justo afastar o
algoz da vítima.
Clarêncio, após mostrar
os riscos decorrentes da
separação pela força,
esclareceu que, no caso,
era preciso atuar na
elaboração dos
pensamentos da irmã que
tomara a iniciativa da
perseguição. Era
imprescindível,
justificou, dar outro
rumo à vontade dela,
deslocando-lhe o centro
mental e conferindo-lhe
outros interesses e
diferentes aspirações.
Para isso, a preparação
era indispensável. Uma
doutrinação pura e
simples seria cabível,
mas não suficiente.
"Nossa intervenção no
campo espiritual de
Odila – explicou o
Ministro – deve ser
envolvente e segura para
evitar choques e contra
choques, que
repercutiriam
desastrosamente sobre a
outra. Nem doçura
prejudicial, nem energia
contundente..." Era
necessário, segundo o
Benfeitor, buscar alguém
que já tivesse amealhado
na alma bastante amor e
entendimento para
conversar com o poder
criador da renovação. E
mencionou que irmã Clara
seria a pessoa indicada.
Da parte deles, o que
seria possível era
apenas a dispensação de
algum alívio e nada
mais. Foram então
aplicados passes
calmantes, de longo
curso, em Zulmira, e
esta adormeceu. (Cap.
III, págs. 20 a 22)
8. A
culpa de Zulmira
- A enferma ausentou-se
do corpo, mas não
desfrutava a paz que se
estampara na máscara
física. Odila a dominava
acusando-a pela morte de
Júlio: "Destroçarei tua
vida, não me furtarás o
afeto de Amaro...
Armarei o coração de
Evelina contra ti!..."
Zulmira respondia-lhe
não ter culpa na morte
do menino, mas Odila
conhecia os seus
pensamentos e desejos e
se aproveitava disso
para afligi-la. Zulmira
desembaraçou-se, então,
de repente, dos braços
que a oprimiam e correu
para fora, seguida pela
outra. Clarêncio
comentou que, quando ela
conseguia sossegar o
corpo, caía em
frequentes pesadelos, e
propôs ao grupo
segui-las, aditando que
elas se dirigiam à praia
onde se deu a morte do
pequenino, visto que
Zulmira ainda não se
libertara das aflitivas
reminiscências de que
estava possuída. André
estranhava o rumo dos
acontecimentos. Ora, se
ela não era a autora do
crime, por que tamanha
provação? De fato,
Zulmira não fora
propriamente a autora,
mas desejara a morte da
criança, chegando mesmo
a favorecê-la. O afeto
de Amaro pelo filho não
tinha sido assimilado
pela jovem esposa, que,
ralada de despeito,
passou a ver em Júlio um
adversário de sua
felicidade doméstica.
Contra Evelina, a
madrasta nada sentia,
mas o pequeno a
excitava, chegando até a
provocar-lhe um ódio
crescente, a ponto de
suspirar pela morte do
rapazinho. No instante
do afogamento, a criança
gritou pedindo-lhe ajuda
e ela poderia ter
retrocedido alguns
passos, salvando-a.
Vencida, no entanto,
pelos sinistros
pensamentos que a
dominavam, esperou que
o mar concluísse o
horrível trabalho e só
então clamou por
socorro. Amaro acorreu,
precipite, mas já era
tarde... (Cap. IV, págs.
23 a 25)
(Continua no próximo
número.)