MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Entre a Terra e o Céu
André Luiz
(Parte
3)
Continuamos a apresentar
o
estudo da obra
Entre a Terra e o Céu,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1954 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. A morte de Júlio
ocorreu antes da hora?
Não. A morte prematura
do menino estava
prevista no quadro de
suas provações, visto
que era ele um suicida
reencarnado. (Entre a
Terra e o Céu, cap. IV,
pp. 26 a 28.)
B. A atmosfera marinha é
benéfica ao organismo
espiritual?
Sim. "O oceano é
miraculoso reservatório
de forças”, disse
Clarêncio, que informou
que muitos companheiros
do plano espiritual
trazem à orla do mar os
irmãos doentes, ainda
ligados ao corpo da
Terra, de modo a
receberem refazimento e
repouso. A atmosfera
marinha permanece
impregnada por infinitos
recursos de vitalidade
da Natureza e o oxigênio
sem mácula converte-se
em precioso alimento da
organização espiritual.
(Obra citada, cap. V,
pp. 29 a 31.)
C. Por que uma longa
enfermidade é benéfica à
libertação da alma?
Segundo Clarêncio, a
enfermidade longa é uma
bênção desconhecida
entre os homens e
constitui precioso curso
preparatório da alma
para a grande
libertação. Sem a
moléstia dilatada, é
muito difícil o êxito
rápido no trabalho da
morte. Eis por que é ela
benéfica à alma que se
despede da vida física,
rumo ao plano
espiritual. (Obra
citada, cap. V, pp. 31 e
32.)
Texto
para leitura
9. Nossas obras
mostram quem somos
- Vendo o esposo
torturado, chorando
amargosamente a perda do
filho querido, foi que
Zulmira se arrependeu
e, atormentada pela
noção de culpa, desceu
ao padrão vibratório de
Odila, que a seguia, em
silêncio, revoltada.
Enquanto se mantivera
com a paz de
consciência, defendia-se
naturalmente contra a
perseguição invisível,
mas, condenando a si
mesma, resvalou em
deplorável perturbação,
à maneira de alguém que
desertasse de uma casa
iluminada,
embrenhando-se numa
floresta de sombra.
Desde então, a pobre
mulher perdera a ventura
doméstica e a
tranquilidade própria.
Naquele lar, ela e o
marido respiravam sob o
mesmo teto qual se
fossem estranhos entre
si. André perguntou se à
frente da Lei divina
Zulmira era culpada.
Clarêncio afirmou que
não; no sentido real da
Lei, Zulmira não tinha
culpa pelo que
aconteceu, mas ele
observou: "Todavia, quem
de nós não é responsável
pelas ideias que arroja
de si mesmo? Nossas
intenções são
atenuantes ou agravantes
das faltas que
cometemos. Nossos
desejos são forças
mentais coagulantes,
materializando-nos as
ações que, no fundo,
constituem o verdadeiro
campo em que a nossa
vida se movimenta. Os
frutos falam pelas
árvores que os produzem.
Nossas obras, na esfera
viva de nossa
consciência, são a
expressão gritante de
nós mesmos. A forma de
nosso pensamento dá
feição ao nosso
destino". A morte
prematura de Júlio
estava prevista no
quadro de provações:
era ele um suicida
reencarnado. Zulmira
padecia, contudo, o
retorno das vibrações
envenenadas que
arremessou na direção do
menino, porque, pelo
ciúme, criou ao redor de
si mesma um ambiente
pestilencial, em que
seus próprios
pensamentos malignos
conseguiram prosperar.
André quis saber se
Odila poderia ver o
filho no plano
espiritual e, com isso,
amenizar seu sofrimento.
Clarêncio afirmou que,
infelizmente, tal não
era possível, porque a
infortunada possuía o
centro genésico
plenamente descontrolado
e isso lhe impedia visão
mais ampla. Sua paixão
pelo esposo era muito
grande, em vista do
apego enlouquecedor aos
vínculos do sexo, que a
paixão nada faz senão
desvirtuar.
Desencarnada em pleno
vigor de seu idealismo
feminino, não possuía
uma fé religiosa capaz
de reeducar-lhe os
impulsos, o que
explicava a
superexcitação em que se
encontrava. (Cap. IV,
págs. 26 a 28)
10. A
influência benéfica do
mar
- Na orla do mar, em
plena noite, a
movimentação da vida
espiritual era muito
intensa. Desencarnados
de várias procedências
reencontravam ali amigos
que ainda se demoravam
na Terra, destacando-se,
dentre esses, grande
número de enfermos.
Serviços magnéticos de
socorro urgente eram
improvisados aqui e
além... E o ar,
confrontado ao que se
respirava na cidade, era
muito diverso. Brisas
refrescantes sopravam de
longe, carreando
princípios regeneradores
e insuflando em todos
delicioso bem-estar. "O
oceano é miraculoso
reservatório de forças
– elucidou Clarêncio –;
até aqui, muitos
companheiros de nosso
plano trazem os irmãos
doentes, ainda ligados
ao corpo da Terra, de
modo a receberem
refazimento e repouso."
E explicou que
enfermeiros e amigos
espirituais cuidavam da
reconstituição das
energias de seus
tutelados. Tal como
acontece na montanha
arborizada, a atmosfera
marinha permanece
impregnada por infinitos
recursos de vitalidade
da Natureza. O oxigênio
sem mácula, casado às
emanações do planeta,
converte-se em precioso
alimento da organização
espiritual,
principalmente quando o
indivíduo se acha ainda,
direta ou
indiretamente,
associado aos fluidos da
matéria mais densa. A
poucos passos, André viu
que uma senhora
encarnada, acometida por
um câncer, fora
retirada do corpo
físico, através da
hipnose, e levada até à
praia, para receber a
assistência magnética
necessária. Esse
tratamento poderia
curá-la? O Ministro,
ante a pergunta de
André, aclarou:
"Realmente, na obra
assistencial dos
espíritos amigos, que
interferem nos tecidos
sutis da alma, é
possível, quando a
criatura se desprende
parcialmente da carne, a
realização de
maravilhas. Atuando nos
centros do perispírito,
por vezes efetuamos
alterações profundas na
saúde dos pacientes,
alterações essas que se
fixam no corpo somático,
de maneira gradativa.
Grandes males são assim
corrigidos, enormes
renovações são assim
realizadas. Mormente
quando encontramos o
serviço da prece na
mente enriquecida pela
fé transformadora,
facilitando-nos a
intervenção pela
passividade construtiva
do campo em que devemos
operar, a tarefa de
socorro concretiza
verdadeiros milagres".
E ajuntou: "O corpo
físico é mantido pelo
corpo espiritual, a
cujos moldes se ajusta
e, desse modo, a
influência sobre o
organismo sutil é
decisiva para o
envoltório de carne, em
que a mente se
manifesta". (Cap. V,
págs. 29 a 31)
11. Enfermidade
longa é uma bênção
- Clarêncio esclareceu,
contudo, que a ação das
entidades está
subordinada à Lei que
rege a todos. No
problema daquela irmã, o
concurso do plano
espiritual conseguiria
somente angariar-lhe
reconforto. A moléstia,
em razão das provas
assinaladas em seu
roteiro pessoal,
atingira já insopitável
extensão. Hilário
interveio: "Quer dizer
que ela, agora, apenas
se habilita à morte
calma?" "Justamente",
respondeu o Ministro.
"Com a cooperação em
curso, despertará no
corpo desfalecente mais
serena e mais
confortada. Repetindo as
excursões até aqui,
noite a noite,
habituar-se-á, com
entendimento superior,
à ideia da partida,
transmitindo aos
familiares resignação e
coragem para o transe da
separação; aprenderá a
contribuir com o seu
esforço, no sentido de
aliviar-lhes as aflições
pela humildade que
edificará, dentro de si
mesma... pouco a pouco;
desligar-se-á da carne
enfermiça, acentuando a
luz interior da própria
consciência, a fim de
separar-se do ambiente
que lhe é caro como quem
encontra na morte física
valiosa liberação para
serviço mais
enobrecido. E, assim,
em algumas semanas,
mostrar-se-á
admiravelmente
preparada ante o novo
caminho..." Fez-se
ligeira pausa, e
Clarêncio acrescentou:
"A enfermidade longa é
uma bênção desconhecida
entre os homens,
constitui precioso curso
preparatório da alma
para a grande
libertação. Sem a
moléstia dilatada, é
muito difícil o êxito
rápido no trabalho da
morte". Nesse momento,
Zulmira e Odila chegaram
à praia. Clarêncio pediu
ao grupo atenção, mas
elas não perceberam a
presença do Ministro e
de seus companheiros.
Zulmira revelava na face
o intraduzível terror
dos que se abeiram do
extremo desequilíbrio,
enquanto Odila lhe
martelava o cérebro,
reiterando, sem piedade:
"Recorda o crime,
infeliz! lembra-te da
horrível manhã em que te
fizeste assassina! onde
colocaste meu filho?
porque afogaste um
inocente?" "Não, não! –
respondeu a pobrezinha
dementada – não fui eu!
juro que não fui eu!
Júlio foi tragado pelas
ondas..." "E porque não
velaste pela criança que
meu marido levianamente
confiou às tuas mãos
infiéis? acaso, não te
acusa a própria
consciência? onde situas
o senso de mulher?",
perguntou Odila, que em
seguida acrescentou:
"Pagar-me-ás alto preço
pelo relaxamento
delituoso... Não
permitirei que Amaro te
ame, alimentarei a
antipatia dele contra
ti, atormentarei as
pessoas que te desejarem
socorrer, destruirei a
própria casa de que te
apossaste e me
pertence!" (Cap. V,
págs. 31 e 32)
12. O refúgio no
corpo carnal -
Zulmira, terrificada,
concordou que, embora
não fosse assassina,
nada fizera para salvar
a criança, mas agora,
arrependida, pedia o
perdão da rival:
"Perdoa-me! perdoa-me!
prometo empenhar-me no
refazimento da paz de
todos... Serei uma
escrava de teu marido e
restituí-lo-ei aos teus
braços; converter-me-ei
em serva de tua
filhinha, cujos passos
orientarei para o bem,
mas, por piedade,
deixa-me viver!
Liberta-me! Compadece-te
de mim!..." "Nunca!
nunca! – bradou Odila,
friamente – tua falta é
imperdoável. Mataste!
Deves confessar o delito
perpetrado, à frente da
polícia!... Dobrar-te-ei
a cerviz! Serás
recolhida à
penitenciária, para que
te mistures às
delinquentes de tua
laia!..." "Não! não!" –
suplicou Zulmira, com
sinais comoventes de
angústia. "Se não
aniquilaste meu filho –
bradou a rival –,
devolve-o aos meus
braços! Devolve-o!
devolve-o!" Naquele
momento, ambas se
achavam à frente de
determinada nesga da
praia. Os olhos da pobre
obsidiada adquiriram,
então, estranho fulgor.
"Foi aqui! – rugiu a
perseguidora, rudemente
– aqui consumaste o
sinistro plano de
extinção da nossa
felicidade..." Ocorreu
então uma cena
comovente: como se fora
tangida de secretos
impulsos, Zulmira
desprendeu-se dos braços
que a constringiam e,
penetrando as águas,
clamou, aflita: "Júlio!
Júlio!..." Odila,
perturbada e
ensandecida, foi-lhe no
encalço, mas a enferma,
sentindo sua
aproximação, rodou sobre
os calcanhares e
disparou de volta ao
lar. Varando a casa,
incontinenti, dando a
ideia de que o corpo
adormecido era poderoso
ímã a atraí-la, Zulmira
despertou, alagada de
suor, conservando no
cérebro de carne a
impressão de que
vagueara em terrível
pesadelo. Tentou gritar,
mas não conseguiu.
Faleciam-lhe as forças
em colapso nervoso,
insopitável. A dispneia
castigava-a com
violência, enquanto as
coronárias se mostravam
intumescidas. (N.R.:
Dispneia significa
dificuldade na
respiração.)
Clarêncio aproximou-se
do leito e aplicou-lhe
fluidos salutares e
repousantes.
Acalmou-se-lhe, então, o
coração, vagarosamente,
a circulação tornou à
feição normal, e foi só
aí que a desventurada
mulher conseguiu gemer,
clamando por socorro.
(Cap. V, págs. 32 a 34)
(Continua no próximo
número.)