MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Entre a Terra e o Céu
André Luiz
(Parte
5)
Continuamos a apresentar
o
estudo da obra
Entre a Terra e o Céu,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1954 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Qual o nome do ancião
desencarnado que viera
buscar ajuda de
Antonina?
Ele se chamara Leonardo
Pires e havia
desencarnado vinte anos
antes. Empregado do
Marechal Guilherme
Xavier de Souza quando
jovem, envenenara José
Esteves quando ambos
integravam as forças
brasileiras acampadas em
Piraju, no Paraguai. O
crime ocorreu num
domingo de festa em
campanha: 11 de julho de
1869. Uma missa fora
celebrada em pleno
campo e o Conde d'Eu se
encontrava presente.
Leonardo não estava,
porém, interessado nas
palavras do sacerdote ou
do Generalíssimo. Sua
mente só pensava numa
coisa: vingança!
(Entre a Terra e o Céu,
cap. VII, pp. 46 a 48.)
B. A vítima de Leonardo
Pires o atormentava
realmente?
Não. José Esteves já
reencarnara e estava, no
momento, em outros
setores de luta. O
homicida é que, por
remorso, vivia com a
imagem da vítima que se
revitalizava, cada dia,
em sua memória, ao
influxo das sugestões da
própria consciência
culpada. Era a Lei de
causa e efeito a
cumprir-se,
naturalmente.
(Obra citada, cap. VII,
pp. 48 e 49.)
C. Por que nos é
necessária a luta na
carne?
O assunto surgiu em face
destas palavras de
Antonina, ditas quando
se encontravam num lugar
belíssimo situado numa
estância espiritual:
"Por que não transformar
esta excursão em
transferência
definitiva? Pesa o
corpo, à maneira de
insuportável cruz de
carne, quando
conseguimos sentir a
Terra, de longe..." "É
verdade – concordou a
outra irmã –, por que
não nos é dado
permanecer, olvidando os
pesares e os dissabores
do mundo?" Atento ao que
elas diziam, Clarêncio
respondeu, carinhoso:
"Compreendemos,
compreendemos quanta
inquietação punge o
espírito reencarnado,
mormente quando desperto
para a beleza da vida
superior, entretanto, é
indispensável saibamos
louvar a oportunidade de
servir, sem jamais
desmerecê-la". E
acrescentou: "Achamo-nos
ainda distantes da
redenção total e todos
nós, com alternativas
mais ou menos longas,
devemos abraçar a luta
na carne, de modo a
solver com dignidade
nossos velhos
compromissos. Somos
viajores nos milênios
incessantes. Ontem fomos
auxiliados, hoje nos
cabe auxiliar".
(Obra citada, cap. VIII,
pp. 50 e 51.)
Texto
para leitura
17. Esteves é
assassinado - O
ancião disse ter sido
tomado pelo ódio e
prometeu vingar-se, o
que fez algum tempo
depois, envenenando
Esteves. Mais tarde,
casou-se e organizou
grande família. Devotado
à religião, desfrutara
os benefícios dos santos
sacramentos e julgava
que tudo estivesse
solucionado; todavia,
após a morte do corpo
físico, longe de
encontrar o céu que lhe
parecia cada vez mais
distante, reconhecia que
sua vítima continuava a
persegui-lo por
dentro... "Faz muito
anos que me despedi dos
ossos fatigados –
relatou a entidade – e
perambulo, aflito e
infeliz, dentro de
mim!... A princípio,
procurei o sepulcro, na
esperança de soerguer
meus restos e,
escondendo-me neles,
esquecer... esquecer...
Compreendendo, porém,
que meu desejo era de
todo frustrado, fugi
para sempre do lugar que
me asila os despojos e
devoro ruas e praças,
buscando autoridades que
me socorram..." André,
afagando-lhe a cabeça
branca, dirigiu-lhe
palavras de consolo:
"Acalme-se, meu irmão!
quem de nós não terá
desacertado no caminho
da vida? sua dor não é
única... Também nós
trazemos o espírito
pejado de aflitivas
recordações. As lágrimas
de desesperação
desajudam a alma..." Em
seguida, pediu-lhe que
esclarecesse melhor os
fatos a que se reportara
inicialmente, mas a
lembrança de Esteves
novamente o levou a uma
situação aflitiva, como
se forças terríveis o
comprimissem. E, nesse
estado, o velhinho
confessou: "Ah! não
posso continuar!... Ele,
novamente ele, a
crescer dentro de mim!
Observa-me com asco e
ainda lhe ouço as
últimas palavras no
estertor da morte..."
(Cap. VII, págs. 44 a
46)
18. O caso
Leonardo Pires -
André conclamou-o a que
tivesse fé. Ele
respondeu que costumava
rezar e informou: "Há
alguns dias, fui à
Igreja do Rosário,
recordando como sempre a
visita que fiz até lá,
na véspera de minha
partida para a guerra, e
tanto rezei que tive a
felicidade de ver o
Marechal, que me
apareceu, de súbito..."
(Referia-se ao
Marechal Guilherme
Xavier de Souza, seu
amigo e protetor, por
ocasião da guerra em
causa.) "Estava
mais moço e
incompreensivelmente
refeito... Roguei-lhe
proteção, ao que me
respondeu, informando
que o meu caso seria
tomado em apreço, que
eu descansasse, pois
ainda que os nossos
erros sejam grandes,
maior é a compaixão de
Deus que nunca nos
desampara..." Exibindo,
no entanto, um gesto de
profundo abatimento, o
homicida acrescentou:
"Mas, até agora, não
tive o menor sinal de
renovação do
caminho..." André o
confortou e prometeu
ajudá-lo, e, no momento
em que o infortunado
Espírito procurava
abraçá-lo, Clarêncio
chegou, trazendo
consigo a irmã que fora
buscar em casa. De
imediato, o mentor
compreendeu o que se
passava. Concentrando-se
por momentos, ele também
se densificou para poder
auxiliar com mais
presteza. Saudado pelo
velhinho, afagou-lhe a
fronte e logo percebeu
que sua mente fixara-se
em recordações que o
obcecavam. Abraçando-o
com paternal carinho, o
Ministro indagou: "Que
procura, meu irmão?" Ele
então explicou que
vinha suplicar o socorro
de sua neta Antonina, a
única pessoa que se
lembrava dele com amor.
Clarêncio colocou a
destra sobre a cabeça
do inditoso irmão e, em
seguida, resumiu o seu
caso. Ele se chamara
Leonardo Pires,
desencarnado vinte anos
antes. Empregado do
Marechal Guilherme
Xavier de Souza, quando
jovem, envenenara José
Esteves, quando ambos
integravam as forças
brasileiras acampadas
em Piraju, no Paraguai.
O crime ocorreu num
domingo de festa em
campanha: 11 de julho de
1869. Uma missa fora
celebrada em pleno
campo e o Conde d'Eu se
encontrava presente.
Leonardo não estava,
porém, interessado nas
palavras do sacerdote ou
do Generalíssimo. Sua
mente só pensava numa
coisa: vingança! (Cap.
VII, págs. 46 a 48)
19. Reflexos da
consciência de culpa
- Leonardo se aproximou
de Esteves, que contava
na época trinta anos de
idade, e convidou-o,
finda a festa, para uma
refeição mais íntima.
Juntos, comentaram
entusiásticos as
noitadas do Rio,
ansiosos pelo retorno às
seduções da retaguarda.
Esteves estava loquaz e
confiante no amigo, até
que este lhe ofereceu um
copo de vinho com o
veneno fatal... Esteves
bebeu, experimentou
estranhas vertigens e
morreu praguejando... As
autoridades, embora
cientes de que o
soldado fora envenenado,
julgaram o silêncio mais
acertado e por isso o
caso fora encerrado sem
maior investigação...
Leonardo seguiu em
campanha e procurou
esquecer o ocorrido.
Conviveria ainda com
Lola por mais algum
tempo, mas, de volta à
terra natal,
desinteressou-se dela e
casou-se no Brasil,
deixando vários
descendentes... Ao
desencarnar, no leito de
morte reconheceu que a
lembrança do crime lhe
castigava o mundo
interior. Olvidou, pois,
quase todos os episódios
da existência para
centralizar-se apenas
nesse... José Esteves
já reencarnara e estava,
no momento, em outros
setores de luta, mas o
homicida vivia com a
imagem da vítima que se
revitalizava, cada dia,
em sua memória, ao
influxo das sugestões da
própria consciência
culpada. Era a Lei de
causa e efeito a
cumprir-se,
naturalmente... (Cap.
VII, págs. 48 e 49)
20. Uma deliciosa
excursão - O
ancião nenhum interesse
revelou ante a descrição
feita por Clarêncio, mas
ao ver Antonina,
desprendida do corpo
físico, em momento de
sono, bradou: "Antonina!
Antonina!...
Socorre-me. Tenho medo!
muito medo!..." A jovem
mulher, que fora do
corpo denso se mostrava
muito mais delicada e
mais bela, fixou-o,
triste, e inquiriu:
"Vovô, que fazes?"
Leonardo curvou-se e
implorou: "Ajuda-me!
Todos na família me
esqueceram, com exceção
de ti. Não me
abandones!... Ele, o meu
ferrenho inimigo, me
tortura por dentro.
Assemelha-se a um
demônio, morando em
minha consciência..." Ao
dizer tais palavras, o
velhinho tentava enlaçar
a neta, mas Clarêncio
interferiu, indicando
André e Hilário: "Ouça,
amigo! Nossos irmãos
prometeram ampará-lo
e, decerto, cumprirão a
palavra. Nossa abnegada
Antonina, no momento,
precisa ausentar-se, em
nossa companhia, por
algumas horas". E
abraçando-o, paternal,
pediu-lhe: "Você pode
igualmente auxiliá-la.
Guarde-lhe a casa,
enquanto os meninos
repousam. Amanhã,
receberá, por sua vez, o
socorro de que
necessita". Leonardo
sorriu conformado e
aquietou-se. O pequeno
grupo saiu, então, para
a noite, em direção ao
sítio onde se encontrava
o filho de Antonina.
Entrelaçando as mãos, e
conservando as duas
irmãs no circuito
fechado de suas forças,
eles iniciaram a formosa
romagem. Viajando com a
rapidez do pensamento,
em breve atingiram
formosa paisagem,
banhada de suave luz, em
que um parque imponente
e acolhedor se
distendia. As duas mães
se mostravam extáticas
e felizes, e Antonina,
apoiada em Clarêncio,
como uma filha nos
braços de um pai,
inquiriu, maravilhada:
"Por que não transformar
esta excursão em
transferência
definitiva? Pesa o
corpo, à maneira de
insuportável cruz de
carne, quando
conseguimos sentir a
Terra, de longe..." "É
verdade – concordou a
outra irmã –, porque não
nos é dado permanecer,
olvidando os pesares e
os dissabores do mundo?"
Atento ao que elas
diziam, Clarêncio
respondeu, carinhoso:
"Compreendemos,
compreendemos quanta
inquietação punge o
espírito reencarnado,
mormente quando desperto
para a beleza da vida
superior, entretanto, é
indispensável saibamos
louvar a oportunidade de
servir, sem jamais
desmerecê-la". E
acrescentou: "Achamo-nos
ainda distantes da
redenção total e todos
nós, com alternativas
mais ou menos longas,
devemos abraçar a luta
na carne, de modo a
solver com dignidade
nossos velhos
compromissos. Somos
viajores nos milênios
incessantes. Ontem fomos
auxiliados, hoje nos
cabe auxiliar". (Cap.
VIII, págs. 50 e 51)
(Continua no próximo
número.)