Carta ligeira
Alfredo Nora
Meu Lasneau, não é
bilhete,
Não é ofício, nem ata.
É o coração que desata
Meus pesares num
lembrete.
1
Lasneau amigo, esta
choça,
Onde a carne, breve,
passa,
Cheia de lama e fumaça,
É minúscula palhoça.
A Terra, ante o sol da
Graça,
É feio talhão de roça,
Detendo por balda nossa
Descrença, guerra e
cachaça.
Agora é que entendo
isso,
Mas é triste a fé sem
viço
Que o sepulcro impõe à
pressa...
Espere sem alvoroço,
Além da prisão de osso,
A vida real começa.
2
Oh! meu caro, se eu
pudesse
Dizer tudo o que não
disse,
Sem a velha esquisitice
Que inda agora me
entontece!
Entretanto, é clara a
messe
Da sementeira de asnice.
Perdi tempo em maluquice
E o tempo me desconhece.
É natural que padeça
A minha pobre cabeça
Perante a Luz, face a
face.
Não me olvide em sua
prece,
Desejo que a luta cesse,
Que a coisa melhore e...
passe.
Alfredo José dos Santos
Nora nasceu em 18 de
novembro de 1881, no
município de Piraí,
Estado do Rio, e
desencarnou em 13 de
novembro de 1948. Poeta
e jornalista, colaborou
em várias revistas e
jornais. Os versos acima
integram o Parnaso de
Além-Túmulo, obra
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier.