Vivendo na compaixão
“Temei conservar-vos
indiferentes, quando
puderdes ser úteis.”
(1)
Em geral, fechamo-nos
numa vidinha medíocre.
Ocupamo-nos em
conquistar a satisfação
dos sentidos físicos e
até procuramos na
relação afetiva alguém
que nos sirva aos
anseios pessoais.
Lutamos por títulos,
dinheiro, reconhecimento
social e, não raramente,
ostentamos uma rotina
religiosa aliada à
barganha com o sagrado.
Depositamos a felicidade
na ilusão e, com a
atenção ludibriada e
absorta no que é
efêmero, permanecemos
com a mente alienada a
respeito da realidade em
derredor e ao propósito
que nos cabe diante
dela.
Assim, experimentamos
uma certa apatia em
relação ao bem que
podemos edificar porque
nos encarceramos na
concha do egocentrismo
infeliz.
Ficamos absorvidos por
quinquilharias, nada
obstante, uma simples
observação da dinâmica
da existência permitiria
a qualquer um
identificar seu aspecto
transitório
provocando-lhe, por
conseguinte, um estado
de inteligente desilusão
para com a “adoração” às
coisas materiais.
Ensinam os Espíritos que
a virtude da nossa
geração é a atividade
intelectual; seu vício é
a indiferença moral
(2); convocando-nos
à observância do
seguinte fato: a grande
maioria dos terrícolas
vive para si,
desconhecendo a dor que
campeia nas diversas
paragens do planeta,
formando correntezas de
lágrimas em que estamos
todos envolvidos.
Não somos ilhas isoladas
umas das outras. Não
consistimos em conchas
fechadas, estamos
mergulhados em regime de
interdependência de uns
para com os outros, da
mesma forma que nossas
palavras, pensamentos e
ações estão em complexa
imbricação com os
acontecimentos, com
nosso estado de saúde ou
doença e vice-versa.
O que deliberamos fazer
de nós mesmos reflete-se
na coletividade, no
ambiente e no cosmo. O
que acontece na
sociedade, no globo
terrestre e em toda a
Criação tem a ver
conosco.
O nosso pensamento, por
exemplo, influencia e é
influenciável. Ele se
propaga, via fluido
cósmico universal,
alcançando outras mentes
que sintonizam com a sua
natureza, vindo a ser
promovida, dessa forma,
extensa rede de
sintonia. Do mesmo modo,
captamos pensamentos
alheios que viajam pelo
universo, tendo
ressonância em nossa
intimidade segundo as
escolhas e preferências
que instituímos no
roteiro existencial que
trilhamos.
Considerando que tudo
está ligado a tudo e
todos os seres estão
conectados entre si,
verdadeiramente, o
sofrimento do próximo é
o nosso sofrimento, e a
felicidade do próximo é
a nossa própria
felicidade.
Mas, para vivermos
conscientemente esta
verdade universal,
atendendo ao chamado que
confere sentido elevado
à nossa participação no
mundo, precisamos
transcender a nós
mesmos, inundando o
coração de compaixão.
O princípio de
compaixão consiste
numa aquisição moral do
Espírito que só logra
ser desenvolvido pelo
seu exercício.
Um caminho para a
educação dessa abertura
das comportas da alma ao
sofrimento do outro ser
está na prática
meditativa de
olharmos para todos os
seres da vida com olhos
de compaixão.
Olhar com compaixão
exige um refinamento da
leitura de nós mesmos e
dos demais, uma aliança
entre o discernimento
pautado na compreensão
da Lei Natural e
o sentimento de
fraternidade que nos
religa a todas as
criaturas,
reconhecendo-as como
irmãos e filhos de Deus,
portadores da vocação de
se tornarem, um dia,
Espíritos Puros.
Num primeiro momento nos
conscientizamos da
infelicidade alheia,
sentindo o pesar por ela
despertado.
A seguir, somos
cativados de tal forma
pelo sofrimento
do próximo que nos
reconhecemos impelidos a
fazer algo visando a
transformar a sua
situação desditosa,
contribuindo com seu
processo evolutivo.
Assim, compaixão e
responsabilidade andam
de mãos dadas, porque
sentir compaixão não
basta a quem tem por
modelo ético Jesus.
É fundamental que a
corporifiquemos na ação
lúcida em favor da
libertação daquele que
sofre, indo ao seu
encontro, descobrindo
maneiras de ajudá-lo a
identificar e remover as
causas das suas dores,
no sentido de romper
efetivamente com o ciclo
vicioso de amarguras a
que tem estado
algemado.
Quem experimenta a
compaixão não julga, não
doutrina, nem assume os
deveres do outro, mas
responsabiliza-se por
ele e sua felicidade,
cercando-o de
amorosidade e cuidado.
Na sua atitude perante
os infortunados que
identifica, passa a “ter
por única ocupação
tornar feliz os outros!”
(3)
Imerso nesse sentimento,
o Espírito está em
contínuo diálogo com os
seres que padecem e, sem
se deixar afetar em
demasiado, coloca a
caridade como diretriz
orientadora de sua
práxis junto deles.
O ser compassivo cresce
em altruísmo – vencendo
as investidas do ego na
proporção em que se
entrega ao prazer de
servir – avançando na
senda do progresso
espiritual a passos
seguros.
Viver na compaixão
resume-se em permanecer
impregnado pelo amor
cristão, acordado ao
entendimento de que
“amor é devotamento;
devotamento é o olvido
de si mesmo; essa
abnegação em favor dos
desgraçados é a virtude
por excelência, a que em
toda a sua vida praticou
o divino Messias e
ensinou na sua doutrina
tão santa e tão
sublime”. (4)
Referências: