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Estudando a série André Luiz
Ano 3 - N° 129 – 18 de Outubro de 2009

MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)  
 

Entre a Terra e o Céu

André Luiz

(Parte 6)

Continuamos a apresentar o estudo da obra Entre a Terra e o Céu, de André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1954 pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares

A. O trabalho é realmente essencial à evolução dos Espíritos?

Sim. Conforme palavras de Clarêncio, o nosso melhor patrimônio é o tra­balho com que nos compete ajudar-nos, mutuamente. É pelo trabalho que nos despojamos, pouco a pouco, de nossas imperfeições. Nós, as criaturas de Deus, nos mais diversos degraus da escada evolutiva, aprimoramos faculdades e crescemos em conhecimento e sublimação atra­vés do serviço. (Entre a Terra e o Céu, cap. VIII, pp. 52 e 53.)

B. A recordação do passado seria um bem ou um mal para nós encarnados?

Lembrar o passado mais prejudicaria do que beneficiaria as pessoas. Essa a razão pela qual nossas recordações são fragmentárias. Os que pensam de forma contrária, como Antonina, que disse a Clarêncio como seria bom poder reconhecer no mundo os antigos afetos e rever os semblantes ami­gos de outras eras, meditem nestas palavras que Clarêncio disse a ela: "Retomar o contacto com os melhores seria recuperar igualmente os piores..." Sem o esquecimento transitório, não saberíamos receber no coração o adversário de ontem para regenerar-nos, regenerando-o. “A Lei é sábia", asseverou o Benfeitor Espiritual. (Obra citada, cap. VIII, pp. 54 e 55.)

C. As consequências do suicídio podem refletir-se em mais de uma existência corpórea?

Sim. Esse era o caso do menino Júlio, que se suicidou no passado. Embora havendo reencarnado uma vez depois do suicídio, ele ainda sofria no seu corpo perispiritual os efeitos daquele ato. A fenda glótica, principalmente na região das cartilagens aritenoides, apresentava extensa chaga. Referindo-se à garganta ferida, Cla­rêncio ex­plicou: "É pena. Júlio envolveu-se em compromissos graves. Desenten­dendo-se com alguns laços afetivos do caminho, no século pas­sado, con­fiou-se a extrema revolta, aniquilando o veículo físico, que lhe fora emprestado por valiosa bênção". Para morrer, sorvera grande quantidade de corrosivo; salvo a tempo, sobreviveu à intoxicação, mas perdera a voz, em razão das úlceras que se lhe abriram na fenda gló­tica. Incon­formado com o auxílio recebido dos amigos que o salvaram, ele buscou novamente a morte, arrojando-se num rio. Após sofrer muito na vida espiritual, reencarnou junto das almas com as quais se mantinha asso­ciado para a regeneração do passado. Infelizmente, porém – acrescen­tou o Ministro –, Júlio encontrava dificuldades naturais para recupe­rar-se e teria de lutar muito, antes de incorporar-se a novo patrimô­nio físico. (Obra citada, cap. IX, pp. 58 a 60.)

Texto para leitura

21. Somos devedores uns dos outros - Todos se sentiam magnetizados e enternecidos ante a beleza da paisagem, em que flores de contextura delicada pendiam abundantes de árvores vigorosas, embalsamando as le­ves virações que sussurravam encantadoras melodias. Clarêncio sorria. Antonina, porém, como se estivesse irradiando insopitável curiosidade, mesclada de alegria, voltou a exclamar: "Ah! se morrêssemos hoje!... se a carne não nos pesasse mais!..." O Ministro, contudo, imprimindo mais grave entonação à voz, mas sem perder a brandura que lhe era pe­culiar, considerou, de imediato: "Se hoje abandonassem o veículo de matéria densa, quem diz que seriam felizes? Quem de nós obterá a su­prema ventura, sem a perfeita sublimação pessoal?" E, fitando Antonina com bondade, observou: "Agora, vocês visitarão filhinhos abençoados que a morte lhes arrebatou temporariamente ao convívio terrestre. Vo­cês se sentem como que num palácio dourado, em pleno paraíso de amor, mas, e os filhinhos que ficam? Haverá Céu sem a presença daqueles que amamos? Teremos paz sem alegria para os que moram em nosso coração?" Em seguida, após afirmar que a lembrança dos filhos aprisionados no Planeta acorrentá-las-ia ao mundo carnal, Clarêncio asseverou que "a ventura maior de quem ama reside em dar de si mesmo, a favor das cria­turas amadas..." As duas mulheres ouviram e nada disseram, mas o Mi­nistro considerou: "Somos devedores uns dos outros!... Laços mil nos jungem os corações. Por enquanto, não há paraíso perfeito para quem volta da Terra, tanto quanto não existe purgatório integral para quem regressa ao humano sorvedouro! O amor é a força divina, alimentando-nos em todos os setores da vida e o nosso melhor patrimônio é o tra­balho com que nos compete ajudar-nos, mutuamente". "É pelo trabalho que nos despojamos, pouco a pouco, de nossas imperfeições. A Terra, em sua velha expressão física, não é senão energia condensada em época imemorial, agitada e transformada pelo trabalho incessante, e nós, as criaturas de Deus, nos mais diversos degraus da escada evolutiva, aprimoramos faculdades e crescemos em conhecimento e sublimação atra­vés do serviço..." (Cap. VIII, págs. 52 e 53) 

22. Porque ignoramos o passado - Antonina, que parecia mais acordada que sua companheira para a contemplação do quadro que os circundava, perguntou, com enlevo: "Por que não guardamos a viva recordação de nos­sas existências anteriores? não seria bendita felicidade o reencontro consciente com aqueles que mais amamos?" Clarêncio concordou com a jo­vem mãe, mas lembrou que, na condição espiritual em que ainda nos si­tuamos, não sabemos orientar nossos desejos para o melhor. "Nosso amor – asseverou o Ministro – ainda é insignificante migalha de luz, se­pultada nas trevas do nosso egoísmo, qual ouro que se acolhe no chão, em porções infinitesimais, no corpo gigantesco da escória. Assim como as fibras do cérebro são as últimas a se consolidarem no veículo fí­sico em que encarnamos na Terra, a memória perfeita é o derradeiro al­tar que instalamos, em definitivo, no templo de nossa alma, que, no planeta, ainda se encontra em fases iniciais de desenvolvimento". Essa a razão pela qual nossas recordações são fragmentárias; contudo, nossa memória, a cada existência, converte-se em visão imperecível, a ser­viço do Espírito imortal. Antonina replicou, acentuando como seria bom poder reconhecer no mundo os antigos afetos e rever os semblantes ami­gos de outras eras, ao que Clarêncio respondeu, bondoso: "Retomar o contacto com os melhores seria recuperar igualmente os piores..." E lembrou que ainda "não sabemos querer sem desprezar, amparar sem des­servir". "Sem o esquecimento transitório, não saberíamos receber no coração o adversário de ontem para regenerar-nos, regenerando-o. A Lei é sábia", asseverou o Benfeitor Espiritual. Adiante, o cenário era be­líssimo. Bandos de aves mansas pousavam na ramaria que brilhava não longe. O Sol apresentava perceptíveis raios diferentes, até então des­conhecidos à apreciação comum na Terra, provocando indefiníveis combi­nações de cor e luz, enquanto harmonioso casario surgia aos olhos do grupo. Viu-se então que centenas de gárrulas crianças brincavam entre fontes e flores de maravilhoso jardim. (Cap. VIII, págs. 54 e 55) 

23. No Lar da Bênção - Doce melodia que enorme conjunto de crianças acompanhava, cantando um hino delicado de exaltação do amor materno, vibrava no ar. Aqui e ali, sob tufos de vegetação verde-clara, muitas senhoras sustentavam lindas crianças nos braços. Era o Lar da Bênção, onde muitas irmãs da Terra vinham visitar seus filhi­nhos desencarna­dos. Tratava-se, segundo informou Clarêncio, de impor­tante colônia educativa, misto de escola de mães e domicílio dos pe­queninos que re­gressavam da esfera carnal. De repente, o Ministro in­terrompeu sua fala, porque Antonina e sua amiga, tomadas de jubilosa aflição, como se fossem atraídas por forças irresistíveis, dirigiram-se aos filhi­nhos que ali cantarolavam alegremente. Enquanto a que era menos conhe­cida de André enlaçava um louro petiz, com infinita alegria a expres­sar-se em lágrimas, Antonina abraçou um formoso menino, gri­tando: "Marcos! Marcos!..." "Mãezinha! Mãezinha!", respondeu a criança, co­lando-se-lhe ao peito. Clarêncio informou a André e Hilário que o pe­queno Júlio, filho de Amaro e Odila, não se encontrava no grupo, visto como sofria ainda anormalidades que não lhe permitiam o convívio com as crianças felizes. O menino estava no lar da irmã Blan­dina e eles para lá rumaram. Em instantes, chegaram diante de pequenino castelo muito alvo, em que se destacavam as ogivas azuis, coroadas de trepa­deiras em flor. A irmã Blandina recebeu-os sorridente, apresen­tando-lhes Mariana, uma senhora simpática que lhe fora avozinha no mundo. Findas as saudações usuais, Clarêncio perguntou pelo pequeno Júlio. Blandina encaminhou-os a um quarto, ornamentado de róseos en­feites, onde um menino repousava num leito muito branco, e explicou: "Nosso Júlio, até hoje, ainda não se refez completamente. Ainda grita sob pe­sadelos inquietantes, como se estivesse a sofrer sob as águas. Chama pelo pai constantemente, apesar de parecer mais receptivo ao nosso ca­rinho. Insiste pela volta a casa, todos os dias". (Cap. IX, págs. 56 e 57) 

24. Efeitos do suicídio - Quando André e seus amigos se aproximaram do leito, Júlio lançou-lhes um olhar de atormentada desconfiança, mas, contido pela ternura da irmã que o assistia, ficou mudo e impassível. Clarêncio indagou se ele não se mostrara, ainda, em condições de par­tilhar os estudos com os outros, ao que Blandina respondeu: "Não; aliás, os nossos benfeitores Augusto e Cornélio, que nos amparam fre­quentemente, são de parecer que ele não conseguirá adquirir aqui qual­quer melhora real, antes da reencarnação que o aguarda. Traz a mente desorganizada por longa indisciplina". E, bem humorada, acrescentou: "É um paciente difícil. Felizmente, dispomos da cooperação de nossa devotada Mariana, que o adotou por filho espiritual, até que retorne ao lar terrestre. Foi preciso segregá-lo neste quarto, tamanha é a gritaria a que se entrega por vezes". Blandina explicou, então, que era dispensado a Júlio, diariamente, o tratamento magnético recomen­dado. Passes e remédios não lhe faltavam. Clarêncio perguntou-lhe se ela conhecia o caso do menino em suas particularidades. "Sim, conheço. Eulália tem vindo até nós", respondeu, lamentando que a mãe não esti­vesse em condições de ampará-lo. Só a irmã – Evelina – se lembrava dele em suas preces; ninguém mais da família o ajudava. Nesse ponto, Júlio passou a chamar pela mãe, em voz rouca, enlaçando Blandina. Doía-lhe a garganta. A benfeitora o abraçou, beijando-lhe os cabelos, e procurou confortá-lo. Em seguida, sentando-o numa poltrona, solici­tou a ajuda de Clarêncio. O Ministro pediu-lhe abrisse a boca e, sur­presos, ele e André perceberam que a fenda glótica, principalmente na região das cartilagens aritenoides, apresentava extensa chaga. Clarên­cio aplicou-lhe recursos magnéticos especiais e, em poucos instantes, o menino se tranquilizou. Incentivado por Blandina, Júlio, hesitante, caminhou para o Ministro, beijou-lhe a destra com respeitoso carinho e balbuciou: "Muito agradecido". Depois, correu para o colo de Blandina, choramin­gando: "Mãezinha, tenho sono..." A jovem conduziu-o ao leito e, já na sala, o Ministro esclareceu que doara ao enfermo energias anestesian­tes; daí a vontade de dormir. Quanto à garganta ferida, Cla­rêncio ex­plicou: "É pena. Júlio envolveu-se em compromissos graves. Desenten­dendo-se com alguns laços afetivos do caminho, no século pas­sado, con­fiou-se a extrema revolta, aniquilando o veículo físico, que lhe fora emprestado por valiosa bênção". Para morrer, sorvera grande quantidade de corrosivo; salvo a tempo, sobreviveu à intoxicação, mas perdera a voz, em razão das úlceras que se lhe abriram na fenda gló­tica. Incon­formado com o auxílio recebido dos amigos que o salvaram, ele buscou novamente a morte, arrojando-se num rio... Após sofrer muito na vida espiritual, reencarnou junto das almas com as quais se mantinha asso­ciado para a regeneração do passado. Infelizmente, porém – acrescen­tou o Ministro –, Júlio encontrava dificuldades naturais para recupe­rar-se e teria de lutar muito, antes de incorporar-se a novo patrimô­nio físico. (Cap. IX, págs. 58 a 60) (Continua no próximo número.)


 


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