MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Entre a Terra e o Céu
André Luiz
(Parte
6)
Continuamos a apresentar
o
estudo da obra
Entre a Terra e o Céu,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1954 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. O trabalho é
realmente essencial à
evolução dos Espíritos?
Sim. Conforme palavras
de Clarêncio, o nosso
melhor patrimônio é o
trabalho com que nos
compete ajudar-nos,
mutuamente. É pelo
trabalho que nos
despojamos, pouco a
pouco, de nossas
imperfeições. Nós, as
criaturas de Deus, nos
mais diversos degraus da
escada evolutiva,
aprimoramos faculdades e
crescemos em
conhecimento e
sublimação através do
serviço.
(Entre a Terra e o Céu,
cap. VIII, pp. 52 e 53.)
B. A recordação do
passado seria um bem ou
um mal para nós
encarnados?
Lembrar o passado mais
prejudicaria do que
beneficiaria as pessoas.
Essa a razão pela qual
nossas recordações são
fragmentárias. Os que
pensam de forma
contrária, como
Antonina, que disse a
Clarêncio como seria bom
poder reconhecer no
mundo os antigos afetos
e rever os semblantes
amigos de outras eras,
meditem nestas palavras
que Clarêncio disse a
ela: "Retomar o contacto
com os melhores seria
recuperar igualmente os
piores..." Sem o
esquecimento
transitório, não
saberíamos receber no
coração o adversário de
ontem para
regenerar-nos,
regenerando-o. “A Lei é
sábia", asseverou o
Benfeitor Espiritual.
(Obra citada, cap. VIII,
pp. 54 e 55.)
C. As consequências do
suicídio podem
refletir-se em mais de
uma existência corpórea?
Sim. Esse era o caso do
menino Júlio, que se
suicidou no passado.
Embora havendo
reencarnado uma vez
depois do suicídio, ele
ainda sofria no seu
corpo perispiritual os
efeitos daquele ato. A
fenda glótica,
principalmente na região
das cartilagens
aritenoides, apresentava
extensa chaga.
Referindo-se à garganta
ferida, Clarêncio
explicou: "É pena.
Júlio envolveu-se em
compromissos graves.
Desentendendo-se com
alguns laços afetivos do
caminho, no século
passado, confiou-se a
extrema revolta,
aniquilando o veículo
físico, que lhe fora
emprestado por valiosa
bênção". Para morrer,
sorvera grande
quantidade de corrosivo;
salvo a tempo,
sobreviveu à
intoxicação, mas perdera
a voz, em razão das
úlceras que se lhe
abriram na fenda
glótica. Inconformado
com o auxílio recebido
dos amigos que o
salvaram, ele buscou
novamente a morte,
arrojando-se num rio.
Após sofrer muito na
vida espiritual,
reencarnou junto das
almas com as quais se
mantinha associado para
a regeneração do
passado. Infelizmente,
porém – acrescentou o
Ministro –, Júlio
encontrava dificuldades
naturais para
recuperar-se e teria de
lutar muito, antes de
incorporar-se a novo
patrimônio físico.
(Obra citada, cap. IX,
pp. 58 a 60.)
Texto
para leitura
21. Somos
devedores uns dos outros
- Todos se sentiam
magnetizados e
enternecidos ante a
beleza da paisagem, em
que flores de contextura
delicada pendiam
abundantes de árvores
vigorosas, embalsamando
as leves virações que
sussurravam encantadoras
melodias. Clarêncio
sorria. Antonina, porém,
como se estivesse
irradiando insopitável
curiosidade, mesclada de
alegria, voltou a
exclamar: "Ah! se
morrêssemos hoje!... se
a carne não nos pesasse
mais!..." O Ministro,
contudo, imprimindo mais
grave entonação à voz,
mas sem perder a
brandura que lhe era
peculiar, considerou,
de imediato: "Se hoje
abandonassem o veículo
de matéria densa, quem
diz que seriam felizes?
Quem de nós obterá a
suprema ventura, sem a
perfeita sublimação
pessoal?" E, fitando
Antonina com bondade,
observou: "Agora, vocês
visitarão filhinhos
abençoados que a morte
lhes arrebatou
temporariamente ao
convívio terrestre.
Vocês se sentem como
que num palácio dourado,
em pleno paraíso de
amor, mas, e os
filhinhos que ficam?
Haverá Céu sem a
presença daqueles que
amamos? Teremos paz sem
alegria para os que
moram em nosso coração?"
Em seguida, após afirmar
que a lembrança dos
filhos aprisionados no
Planeta acorrentá-las-ia
ao mundo carnal,
Clarêncio asseverou que
"a ventura maior de quem
ama reside em dar de si
mesmo, a favor das
criaturas amadas..." As
duas mulheres ouviram e
nada disseram, mas o
Ministro considerou:
"Somos devedores uns dos
outros!... Laços mil nos
jungem os corações. Por
enquanto, não há paraíso
perfeito para quem volta
da Terra, tanto quanto
não existe purgatório
integral para quem
regressa ao humano
sorvedouro! O amor é a
força divina,
alimentando-nos em todos
os setores da vida e o
nosso melhor patrimônio
é o trabalho com que
nos compete ajudar-nos,
mutuamente". "É pelo
trabalho que nos
despojamos, pouco a
pouco, de nossas
imperfeições. A Terra,
em sua velha expressão
física, não é senão
energia condensada em
época imemorial, agitada
e transformada pelo
trabalho incessante, e
nós, as criaturas de
Deus, nos mais diversos
degraus da escada
evolutiva, aprimoramos
faculdades e crescemos
em conhecimento e
sublimação através do
serviço..." (Cap. VIII,
págs. 52 e 53)
22. Porque
ignoramos o passado
- Antonina, que parecia
mais acordada que sua
companheira para a
contemplação do quadro
que os circundava,
perguntou, com enlevo:
"Por que não guardamos a
viva recordação de
nossas existências
anteriores? não seria
bendita felicidade o
reencontro consciente
com aqueles que mais
amamos?" Clarêncio
concordou com a jovem
mãe, mas lembrou que, na
condição espiritual em
que ainda nos situamos,
não sabemos orientar
nossos desejos para o
melhor. "Nosso amor –
asseverou o Ministro –
ainda é insignificante
migalha de luz,
sepultada nas trevas do
nosso egoísmo, qual ouro
que se acolhe no chão,
em porções
infinitesimais, no corpo
gigantesco da escória.
Assim como as fibras do
cérebro são as últimas a
se consolidarem no
veículo físico em que
encarnamos na Terra, a
memória perfeita é o
derradeiro altar que
instalamos, em
definitivo, no templo de
nossa alma, que, no
planeta, ainda se
encontra em fases
iniciais de
desenvolvimento". Essa a
razão pela qual nossas
recordações são
fragmentárias; contudo,
nossa memória, a cada
existência, converte-se
em visão imperecível, a
serviço do Espírito
imortal. Antonina
replicou, acentuando
como seria bom poder
reconhecer no mundo os
antigos afetos e rever
os semblantes amigos de
outras eras, ao que
Clarêncio respondeu,
bondoso: "Retomar o
contacto com os melhores
seria recuperar
igualmente os piores..."
E lembrou que ainda "não
sabemos querer sem
desprezar, amparar sem
desservir". "Sem o
esquecimento
transitório, não
saberíamos receber no
coração o adversário de
ontem para
regenerar-nos,
regenerando-o. A Lei é
sábia", asseverou o
Benfeitor Espiritual.
Adiante, o cenário era
belíssimo. Bandos de
aves mansas pousavam na
ramaria que brilhava não
longe. O Sol apresentava
perceptíveis raios
diferentes, até então
desconhecidos à
apreciação comum na
Terra, provocando
indefiníveis
combinações de cor e
luz, enquanto harmonioso
casario surgia aos olhos
do grupo. Viu-se então
que centenas de gárrulas
crianças brincavam entre
fontes e flores de
maravilhoso jardim.
(Cap. VIII, págs. 54 e
55)
23. No Lar da
Bênção - Doce
melodia que enorme
conjunto de crianças
acompanhava, cantando um
hino delicado de
exaltação do amor
materno, vibrava no ar.
Aqui e ali, sob tufos de
vegetação verde-clara,
muitas senhoras
sustentavam lindas
crianças nos braços. Era
o Lar da Bênção, onde
muitas irmãs da Terra
vinham visitar seus
filhinhos
desencarnados.
Tratava-se, segundo
informou Clarêncio, de
importante colônia
educativa, misto de
escola de mães e
domicílio dos
pequeninos que
regressavam da esfera
carnal. De repente, o
Ministro interrompeu
sua fala, porque
Antonina e sua amiga,
tomadas de jubilosa
aflição, como se fossem
atraídas por forças
irresistíveis,
dirigiram-se aos
filhinhos que ali
cantarolavam
alegremente. Enquanto a
que era menos conhecida
de André enlaçava um
louro petiz, com
infinita alegria a
expressar-se em
lágrimas, Antonina
abraçou um formoso
menino, gritando:
"Marcos! Marcos!..."
"Mãezinha! Mãezinha!",
respondeu a criança,
colando-se-lhe ao
peito. Clarêncio
informou a André e
Hilário que o pequeno
Júlio, filho de Amaro e
Odila, não se encontrava
no grupo, visto como
sofria ainda
anormalidades que não
lhe permitiam o convívio
com as crianças felizes.
O menino estava no lar
da irmã Blandina e eles
para lá rumaram. Em
instantes, chegaram
diante de pequenino
castelo muito alvo, em
que se destacavam as
ogivas azuis, coroadas
de trepadeiras em flor.
A irmã Blandina
recebeu-os sorridente,
apresentando-lhes
Mariana, uma senhora
simpática que lhe fora
avozinha no mundo.
Findas as saudações
usuais, Clarêncio
perguntou pelo pequeno
Júlio. Blandina
encaminhou-os a um
quarto, ornamentado de
róseos enfeites, onde
um menino repousava num
leito muito branco, e
explicou: "Nosso Júlio,
até hoje, ainda não se
refez completamente.
Ainda grita sob
pesadelos inquietantes,
como se estivesse a
sofrer sob as águas.
Chama pelo pai
constantemente, apesar
de parecer mais
receptivo ao nosso
carinho. Insiste pela
volta a casa, todos os
dias". (Cap. IX, págs.
56 e 57)
24. Efeitos do
suicídio -
Quando André e seus
amigos se aproximaram do
leito, Júlio lançou-lhes
um olhar de atormentada
desconfiança, mas,
contido pela ternura da
irmã que o assistia,
ficou mudo e impassível.
Clarêncio indagou se ele
não se mostrara, ainda,
em condições de
partilhar os estudos
com os outros, ao que
Blandina respondeu:
"Não; aliás, os nossos
benfeitores Augusto e
Cornélio, que nos
amparam frequentemente,
são de parecer que ele
não conseguirá adquirir
aqui qualquer melhora
real, antes da
reencarnação que o
aguarda. Traz a mente
desorganizada por longa
indisciplina". E, bem
humorada, acrescentou:
"É um paciente difícil.
Felizmente, dispomos da
cooperação de nossa
devotada Mariana, que o
adotou por filho
espiritual, até que
retorne ao lar
terrestre. Foi preciso
segregá-lo neste quarto,
tamanha é a gritaria a
que se entrega por
vezes". Blandina
explicou, então, que era
dispensado a Júlio,
diariamente, o
tratamento magnético
recomendado. Passes e
remédios não lhe
faltavam. Clarêncio
perguntou-lhe se ela
conhecia o caso do
menino em suas
particularidades. "Sim,
conheço. Eulália tem
vindo até nós",
respondeu, lamentando
que a mãe não estivesse
em condições de
ampará-lo. Só a irmã –
Evelina – se lembrava
dele em suas preces;
ninguém mais da família
o ajudava. Nesse ponto,
Júlio passou a chamar
pela mãe, em voz rouca,
enlaçando Blandina.
Doía-lhe a garganta. A
benfeitora o abraçou,
beijando-lhe os cabelos,
e procurou confortá-lo.
Em seguida, sentando-o
numa poltrona,
solicitou a ajuda de
Clarêncio. O Ministro
pediu-lhe abrisse a boca
e, surpresos, ele e
André perceberam que a
fenda glótica,
principalmente na região
das cartilagens
aritenoides, apresentava
extensa chaga.
Clarêncio aplicou-lhe
recursos magnéticos
especiais e, em poucos
instantes, o menino se
tranquilizou.
Incentivado por Blandina,
Júlio, hesitante,
caminhou para o
Ministro, beijou-lhe a
destra com respeitoso
carinho e balbuciou:
"Muito agradecido".
Depois, correu para o
colo de Blandina,
choramingando:
"Mãezinha, tenho
sono..." A jovem
conduziu-o ao leito e,
já na sala, o Ministro
esclareceu que doara ao
enfermo energias
anestesiantes; daí a
vontade de dormir.
Quanto à garganta
ferida, Clarêncio
explicou: "É pena.
Júlio envolveu-se em
compromissos graves.
Desentendendo-se com
alguns laços afetivos do
caminho, no século
passado, confiou-se a
extrema revolta,
aniquilando o veículo
físico, que lhe fora
emprestado por valiosa
bênção". Para morrer,
sorvera grande
quantidade de corrosivo;
salvo a tempo,
sobreviveu à
intoxicação, mas perdera
a voz, em razão das
úlceras que se lhe
abriram na fenda
glótica. Inconformado
com o auxílio recebido
dos amigos que o
salvaram, ele buscou
novamente a morte,
arrojando-se num rio...
Após sofrer muito na
vida espiritual,
reencarnou junto das
almas com as quais se
mantinha associado para
a regeneração do
passado. Infelizmente,
porém – acrescentou o
Ministro –, Júlio
encontrava dificuldades
naturais para
recuperar-se e teria de
lutar muito, antes de
incorporar-se a novo
patrimônio físico.
(Cap. IX, págs. 58 a 60)
(Continua no próximo
número.)